Em entreivsta ao JOT(M) número 607, Serge Goulart, membro da Direção Nacional do PT e da Corrente OT (MAIORIA), fala da importância da constituição dos Núcleos Socialistas de Base para a organização da classe operária
JOT(M): Em seu último congresso, a Corrente OT (MAIORIA) decidiu impulsionar a constituição de Núcleos Socialistas de Base. O que é isto?
Serge Goulart: O PT é como uma árvore que está secando, por causa da política de sua direção que apóia incondicionalmente a política pró-imperialista do governo Lula. Os petistas não têm mais onde discutir política, onde reunir os seus companheiros que querem lutar. Não tem mais os núcleos originais e nem mesmo plenárias ou reuniões para organizar a luta pela democracia e pelo socialismo.
Os Núcleos Socialistas de Base são um meio de evitar a dispersão, um meio de permitir que os petistas possam se reunir para discutir como combater pelo socialismo e não apenas para discutir como eleger fulano ou sicrano.
JOT(M): Como era na origem do PT?
Serge: Exato. Os núcleos e uma política independente foram a origem do PT, foram a força que o transformou num partido de massas. Hoje, o PT é uma máquina eleitoral, onde tudo chega pronto, prato feito. E no pior sentido, pois não é no interesse da classe trabalhadora, mas no interesse das classes dominantes e das estrelas do partido.
Por isso, nós que somos petistas, a oposição petista ao governo Lula, e que não aceitamos esta situação, resolvemos convocar os petistas “luta de classes” para se reunir uma vez por mês e discutir esta situação, discutir política. E os militantes da Corrente O Trabalho (MAIORIA) devem começar por reunir toda sua área de influência, simpatizantes, etc. A partir daí buscar o crescimento e a multiplicação reunindo todos os petistas, todos os ativistas, que querem lutar pelo socialismo.
JOT(M): Todos sabem que o PT está nesta situação. Alguns pularam do barco por isso …
Serge: Alguns pularam a tempo de ser candidatos no PSOL porque achavam que no PT estavam liquidados como deputados. Outros saíram correndo quando a imprensa burguesa fez um escândalo com o “mensalão”. Heloísa Helena, injustamente expulsa, desistiu do combate e aceitou a expulsão. Foi criar seu próprio aparelho eleitoral. Outros saíram porque não tinham onde discutir e fazer um verdadeiro balanço, reunir forças e se armar de uma verdadeira perspectiva política operária.
Nós resistimos e por dentro e através da crise do PT nós preparamos o próximo passo, o futuro, junto com a classe operária, não junto com a pequena-burguesia radicalizada. Constatar a situação é a condição para agir. Mas não adianta constatar e ficar paralisado, desanimado, maldizendo os cretinos que destroçaram o PT. Isto é o que eles desejam. Que todos vão para casa, não encham o saco, e depois venham apenas votar.
O primeiro passo para impedir a dispersão de forças provocada pela direção do PT, com ajuda das outras correntes de “Esquerda” do PT, é reunir aqueles que desejam fazer um balanço de como o PT chegou até esta situação lamentável, discutir fraternalmente a situação e agir juntos na luta de classes.
JOT(M): E por que o nome Núcleos Socialistas de Base?
Serge: “Núcleos” porque é da tradição petista, da melhor, e relembra as origens o PT. Mas significa também o coletivo discutindo e decidindo, é a democracia operária. “Socialista” é para reafirmar que nosso objetivo é o socialismo.
Nós não aceitamos os mutantes que abandonaram o combate pelo socialismo e se tornaram gerentes do regime da propriedade privada dos grandes meios de produção. Ao fazer isso eles abandonaram até a luta pelas menores reivindicações, mas os socialistas continuam organizando a classe trabalhadora e a juventude em defesa de seus interesses contra o capital. “De Base” para que fique claro que não se trata de mais uma reunião onde alguém aparece para dar ordens e despejar tarefas, mas um local onde os militantes, sejam eles dirigentes ou não do partido, se encontram em igualdade para discutir o que lhes interessa.
JOT(M): O que quer dizer “fazer um balanço do PT”?
Serge: Nós propomos que os Núcleos organizem Seminários sobre o tema “Um balanço do PT – Por um Governo dos Trabalhadores do Campo e da Cidade”.
É preciso identificar amplamente as razões sociais e políticas que fizeram com que o PT, tendo nascido como um partido operário independente, se transformasse no que ele é hoje. As razões são políticas e programáticas e não devido ao caráter de alguns dirigentes. Por exemplo, um ponto chave de mudança e origem da atual política da direção e do governo vem da virada política ocorrida no 5º ENPT, em 1987, quando José Dirceu, com sua formação política stalinista,introduziu a orientação de “Programa Democrático e Popular”.
É daí que decorrem as alianças feitas com partidos de outras classes. É a origem da política de Frente Popular que conduz ao dito “Governo Democrático e Popular”. Como sempre, depois eles vão abandonando o “popular”, depois o “democrático”, e acabam ficando só com o “Governo”. Foi assim durante a revolução espanhola, depois da 2ª Guerra na França. E agora no Brasil. Os petistas devem discutir isto.
JOT(M): Portanto, um balanço dos governos do PT e principalmente do governo Lula?
Serge: Claro. O que significou o Orçamento Participativo senão um meio de enrolar os trabalhadores e demolir suas organizações? As alianças com os partidos burgueses só podem ser feitas para defender o capital, o imperialismo ao qual a burguesia nativa está profundamente ligada. A continuidade do pagamento da Dívida, o apoio ao agronegócio contra a Reforma Agrária, a discussão de tudo isso faz parte deste balanço. Os Núcleos Socialistas de Base não podem ter compromisso algum com estas políticas.
Continuamos a acreditar na organização da classe trabalhadora como única forma de mudar o mundo, de combater pelo socialismo. Para isso é preciso construir, desde a base, um instrumento político para continuar nossa jornada.
Mas um verdadeiro partido de trabalhadores não se constrói do dia para a noite, e nem sem grandes combates de classe. E esta situação não cai do céu. É preciso prepará-la reunindo, agrupando, discutindo democraticamente, organizando e formando militantes e quadros capazes de ajudar as lutas populares e dar-lhes uma perspectiva política histórica, socialista . Estudar -compreender, organizar-agrupar, mobilizar-lutar, é a essência de um Núcleo Socialista de Base.