Deputado estadual Fausto Junior (MDB-AM) e senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL), na CPI da Covid. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O circo da CPI e a esperança no impeachment

Na última terça-feira, 29 de junho, a CPI da Covid no Senado realizou mais uma sessão em que o Amazonas esteve no centro do debate. Em vez de discutir ou esclarecer os temas, como se propõe a comissão, o que se viu foi a reafirmação do espetáculo patético em que senadores prós e contrários ao governo (a maioria de última hora) tentam livrar a própria pele e defender a tese de que a crise da saúde no Amazonas se deu unicamente por “problemas de gestão”.

O depoente da vez foi o deputado estadual Fausto Júnior (MDB), que foi relator da CPI estadual que investigou o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). Desde o início, o clima entre o depoente e o senador Omar Aziz (PSD), presidente da CPI, foi de grande tensão. Ao ser questionado sobre o motivo pelo qual não indiciou o governador no relatório da CPI estadual, Fausto Júnior respondeu que, para isso, teria que indicar também o senador Omar Aziz.

O chumbo trocado sobrou até mesmo para o aliado de Fausto Júnior, Eduardo Braga (MDB), que teve que sair ao seu socorro mesmo sob os protestos do presidente da CPI. O que se seguiu foi uma série de acusações entre os três amazonenses, cada um tentando se afastar de qualquer ligação com o governador Wilson Lima.

A tropa de choque bolsonarista, Marcos Rogério (DEM) e Fernando Bezerra (MDB), por sua vez, continuaram com a tática de tentar desviar a atenção e colocar toda a culpa nas costas dos estados e municípios, que não teriam administrado bem os recursos disponibilizados pelo Governo Federal.

Um espectador desatento pode ser levado a acreditar que Aziz e Braga têm real interesse em encontrar responsabilidades pela crise da saúde no Amazonas e os milhares que morreram por falta de leitos e oxigênio. A verdade, no entanto, é que ambos foram governadores do estado por mais de um mandato (Aziz chegou a ser vice de Braga) e são corresponsáveis pela situação caótica da saúde no Amazonas, como explicamos em artigo anterior.

A “rivalidade” entre Braga e Bezerra também pode parecer bastante concreta, não fosse o fato de que ambos foram juntos atrás de Bolsonaro para costurar apoio na disputa da presidência do Senado.

A CPI da Covid é só mais um ato da ópera bufa em que se transformaram as instituições da Nova República. Diante da crise profunda do sistema, o próprio Estado burguês mostra sem qualquer máscara seu verdadeiro caráter.

Mas da burguesia e dos capitalistas não esperamos nada. Escandaloso mesmo é o fato de as lideranças da esquerda brasileira esperarem desse circo a produção de algum fato político que justifique a abertura de um processo de impeachment. Mais do que isso, uma vez aberto o processo, esperam desses representantes abjetos da burguesia, cada um disposto a entregar o outro aos leões para defender seus próprios interesses, a aprovação e derradeiro afastamento de Bolsonaro.

As direções deixam todo o jogo na mão da burguesia, dos inimigos da classe trabalhadora.

As camadas mais conscientes dos trabalhadores e da juventude já demonstraram disposição de luta ao sair às ruas no 29M e 19J, mas as lideranças do PT, PSOL, PCdoB, CUT e UNE têm medo de perder o controle sobre o movimento e tentam mudar o caráter das manifestações para limitá-las ao impeachment de Bolsonaro.

Essa é a chamada principal que está sendo veiculada para o próximo ato em 3 de julho, cuja data inclusive só foi adiantada em 20 dias por causa da pressão das massas e ameaça de convocação de atos espontâneos como o organizado em São Paulo.

Rejeitamos qualquer saída institucional e chamamos todos aqueles que realmente querem varrer esse governo a organizar conosco uma luta de massas nas ruas para por abaixo Bolsonaro e construir um governo de trabalhadores sem patrões nem generais.

Junte-se a nós e inscreva-se no Encontro Nacional de Luta Abaixo Bolsonaro, que acontecerá online no próximo dia 10 de julho.