Um dos objetivos centrais da Universidade Marxista Internacional foi o combate às ideias alheias à classe trabalhadora, expressas por meio de teorias burguesas, pequeno-burguesas e antimarxistas.
Esses temas estiveram presentes nas sessões que debateram o sectarismo, o pacifismo, o anarquismo e as teorias pós-modernas, expressas na teoria identitária e Queer. Em comum, essas teorias se apresentam aos olhos, principalmente dos jovens, como revolucionárias, anti-sistêmicas ou radicais, mas encerram, em sua origem e desdobramentos, uma perspectiva divisionista e antimarxista.
Todas elas, com algumas características específicas, se propõem a superar, revisar ou acrescentar temas e abordagens no marxismo, mas têm como resultado final uma tentativa de desarmar a classe trabalhadora, se tornando, portanto, úteis à burguesia, e reacionárias na medida em que impossibilitam a ação organizada dos trabalhadores com vistas à superação do capitalismo.
Todas elas também estão pautadas na ideia de que a ação coletiva e organizada das massas é impossível, demonstrando pessimismo, cinismo e falta de confiança na capacidade revolucionária da classe trabalhadora. Se, por um lado, os sectários e anarquistas se negam a construir junto às massas nos sindicatos ou partidos proclamando-se os arautos da revolução, buscando substituir o papel central da classe trabalhadora na tomada do poder; os pacifistas se negam a combater a violência do Estado, abordando-a como questão moral e negando a luta de classes. São todos, portanto, empecilhos para nossa organização.
Neste texto, porém, vamos nos ocupar mais detidamente na análise marxista das teorias pós-modernas, principalmente aquelas que se advogam a tarefa de lutar contra as opressões: a política identitária e a teoria Queer.
Antes de prosseguir, é importante compreender que as chamadas teorias pós-modernas partem de um abandono da ideia de progresso e da possibilidade de superação da sociedade moderna capitalista. Tornam-se pessimistas e idealistas a partir de uma análise equivocada das revoluções perdidas, sem compreender o papel desempenhado pelo stalinismo e pelas direções reformistas que tiveram uma influência central nessas lutas frustradas. Os indivíduos e suas lutas atomizadas passam a ser a nova vanguarda da “revolução”. Ou seja, a sua filosofia de história é a mesma dos antigos gregos, que afirmavam que “os grandes homens fazem a história”, desconsiderando todo o desenvolvimento que culminou no materialismo histórico, no qual se compreende que a história é a história da luta de classes.
Ainda fruto desse erro de análise, passam a atacar as ditas metanarrativas, “teorias totalizantes”, narrativas grandiosas ou o que chamam de “socialismo real”. Segundo essas teorias, as generalizações são opressivas e excludentes e passa-se a afirmar que é impossível compreender a essência dos fenômenos, implicando a existência de várias verdades, a partir de diversos pontos de vista. Os marxistas seriam, então, ingênuos, arrogantes ou reducionistas, visto que se propõem a compreender os fenômenos complexos a partir da materialidade das relações sociais de produção.
Os pós-modernos também deixam de compreender o aspecto progressista desempenhado pelo capitalismo durante seu apogeu, libertando a humanidade do feudalismo e desenvolvendo as forças produtivas. As guerras, as opressões e o horror do Holocausto significariam para eles o fim da modernidade e o ponto final de qualquer emancipação humana. O capitalismo venceu, a classe trabalhadora está derrotada e o que nos restaria, então, é nos rebelar, individualmente, contra a opressão que sofremos como mulher, negro, transexual, lésbica ou queer.
O que os pós-modernos não compreendem, ou fingem não ver, é o fato de que a emancipação da humanidade e o desenvolvimento das forças produtivas estancaram em função do capitalismo, da apropriação privada da produção, dos limites dos Estados nacionais e do aprofundamento do ataque da burguesia contra a vida da classe trabalhadora. Portanto, é preciso superar este sistema e construir uma nova sociedade, sem amarras à vida e à criatividade humana.
O surgimento dessas teorias foi bastante útil à classe dominante que, inclusive, financia dezenas de centros e grupos de pesquisa e produções acadêmicas com esse viés. Uma vez que os pós-modernos indicam a impossibilidade da superação do capitalismo e passam a fomentar lutas individuais a partir de pautas específicas, nada mais interessante para a classe dominante do que a produção de um conhecimento que desarma a classe trabalhadora e inspira milhares de jovens universitários que desenvolvem esse pessimismo e aceitam um sistema insuperável.
Uma vez que essas teorias dissolvem a noção de poder e resistência, excluem das suas análises as condições materiais da produção e reprodução da vida e afirmam que não há verdade, dão origem às noções de que apenas os indivíduos que sofrem determinada opressão podem compreendê-la e apenas eles podem enfrentá-la. Esse aspecto idealista retira os sujeitos do mundo real, individualiza e julga atitudes como meras intenções individuais e impede qualquer tipo de mudança social.
É fundamental também compreender como essas teorias têm influenciado o movimento sindical, além dos círculos acadêmicos. Diante dos equívocos cometidos pelos reformistas e socialdemocratas em todo o mundo e da atual impossibilidade de manter um discurso reformista frente ao aprofundamento da crise do capital, as direções sindicais – que há algumas décadas abandonaram a perspectiva revolucionária, se é que um dia a tiveram –, passam a adotar a perspectiva das novas vanguardas, dos novos métodos de luta, do identitarismo ou da interseccionalidade como um atalho para a luta ou para a conquista de espaços dentro do sistema. A ideia de representatividade ou da disputa de narrativas e do Estado são falácias que os dirigentes sindicais incorporaram para evitar a discussão sobre a tomada do poder. Usam esses estratagemas também como meio de impossibilitar o debate político, pois, ao afirmar que alguém é machista ou racista – banalizando essas atitudes execráveis – rotulam adversários e pautam as discussões em pessoas e suas identidades e não na política que defendem.
Por fim, é importante reafirmar que nós, marxistas, como demonstrado nas resoluções da Internacional Comunista e nas conquistas da Revolução Russa, não abrimos mão da luta cotidiana da classe trabalhadora por centímetro de melhoria dentro do capitalismo. Compreendemos que é por meio dessa luta que aprendemos a nos reconhecer como classe e entender que somente com a superação deste sistema seremos, de fato, livres.
Temos convicção de que não é possível combater a opressão com pessimismo, é preciso estudar sobre ela e combatê-la com entusiasmo. Por isso, o marxismo é indispensável nos nossos dias e é a única teoria capaz de nos instrumentalizar contra o capital.
Não somos pessimistas! Somos otimistas e queremos mudar o mundo!