Desde que surgiu a denúncia de Jefferson na Folha de SP, em 2005, a questão do mensalão jamais teve um enfrentamento político digno da palavra política.
Desde que surgiu a denúncia de Jefferson na Folha de SP, em 2005, a questão do mensalão jamais teve um enfrentamento político digno da palavra política. Foram abnegados internautas que fizeram o enfrentamento.
E o cenário que hoje verificamos de perspectiva de uma possível revisão das sentenças, via o mecanismo de recurso chamado revisão criminal, deve-se fundamentalmente a ampla divulgação pelas redes sociais de documentos da própria ação penal e que a velha mídia fingia, e finge até hoje, não conhecer.
Acho interessante destacar o encerramento dos trabalhos daquela CPI, a dos Correios, ocorrido em fins de 2005, pois foi ali que ocorreu a primeira queda de braço entre os que tentavam derrubar o governo Lula e os que o defendiam.
A CPI foi encerrada e produziu um longo e detalhado relatório, acessível integralmente pela internet.
No entanto a Procuradoria-Geral da República/Ministério Público Federal, ou simplesmente PGR/MPF, que é quem faz a denúncia crime, não esperou a conclusão do relatório final da CPI e protocolou no STF uma denúncia que contraria frontalmente os documentos, laudos e perícias produzidos pela CPI, bem como os produzidos e/ou concluídos posteriormente.
Somente em fins de 2012 se soube da existência de um procedimento paralelo à AP 470 (trata-se do sigiloso inquérito 2474) e que nele tinha sido ocultado importantes documentos tanto para as defesas quanto para os ministros que decidiram pela condenação sem ter conhecimento destes vitais documentos ocultados pelo próprio relator da ação penal.
Essas preliminares são fundamentais para se entender o percurso da hoje concluída AP 470.
O relatório final da CPI dos Correios relacionou um total de 126 pessoas como passíveis de serem denunciadas pela PGR/MPF, no entanto na denúncia entregue ao STF constaram apenas 40 pessoas. E é neste exato instante que se cria o maior escândalo judicial brasileiro.
Antes do julgamento em agosto de 2012, amplamente acompanhado ao vivo pelas redes de televisão, não existia viva alma no país que ousasse questionar a lisura das decisões da suprema corte. Chegava-se ao extremo de afirmar que o supremo tinha o “direito” de errar por último.
E no período de abril 2012 até o início do julgamento em 02 de agosto de 2012, lançando mão de documentos fornecidos por Pizzolato iniciei pelo facebook uma solitária tentativa de demonstrar a existência de erros na denúncia da PGR/MPF. As pessoas que liam os documentos ficavam impressionadas, mas acreditavam que no julgamento os advogados conseguiriam reverter a acusação e assim impediriam condenações.
Findo o mês de agosto e já com todos condenados, mas ainda restando a possibilidade de recursos, chamados de embargos de declaração, foi quando nosso minúsculo núcleo de resistência, eu, Andrea, a esposa do Pizzolato e o próprio, buscamos métodos de ampliar a divulgação dos documentos que tínhamos em mãos.
Surge então o blog Megacidadania no dia 01 de setembro de 2012.
Com a condenação de todos já decidida pelo plenário do STF, ocorreu de termos acesso aos demais companheiros também condenados. E aí verificamos que ninguém tinha conhecimento dos detalhes dos erros do julgamento, pois tivemos que “decifrar” o conteúdo dos documentos.
Devo destacar que neste período conseguimos disponibilizar os documentos ao jornalista Raimundo Pereira, editor da revista RETRATO DO BRASIL, que desenvolveu primoroso trabalho que está registrado em mais de seis edições de sua revista.
A partir deste momento, fins de setembro, até o final de dezembro de 2012, muitas forças políticas iniciaram atos políticos de defesa contra os ataques ao PT e suas lideranças e nós participamos de quase todos os ocorridos em SP, ES, DF e RJ. E aproveitávamos para nestes atos divulgarmos os documentos e as revistas do Raimundo Pereira.
Também é importante destacar que a chamada blogosfera teve papel decisivo na ampla divulgação dos documentos. Em reunião ocorrida na sede da CARTA MAIOR (fins de setembro 2012), diversos blogueiros consagrados ficaram impressionados com o conteúdo dos documentos. E passaram a produzir textos além daqueles elaborados pela revista RETRATO DO BRASIL.
Após diversos contatos com Pizzolato, um importante registro foi acrescentado pelo jornalista Paulo Moreira Leite, diretor em Brasília da revista ISTO É, em seu livro que foi publicado em fins de 2012 e cujo título é: A OUTRA HISTÓRIA DO MENSALÃO As contradições de um julgamento político.
E enquanto ocorriam as tradicionais festas de fim de ano, iniciamos o ano de 2013 com o firme propósito de tudo fazer e que estivesse ao nosso alcance, para divulgar ao máximo os documentos. Foi quando conseguimos agenda com dois importantes personagens, o Raimundo Pereira e o Altamiro Borges do Barão de Itararé, para participarem de evento na sede da ABI-RJ.
A direção da CUT-RJ conseguiu confirmar a presença da jornalista Hildegard Angel e também do professor de Direito da PUC-RJ, Adriano Pillati.
Foram mais de dez reuniões na casa do Pizzolato com a presença de internautas, muitas delas com mais de trinta pessoas. E assim se conseguiu divulgar intensamente pelas redes sociais o evento que foi o primeiro no país a defender a anulação da AP470 devido aos evidentes e notórios erros. Até logomarca conseguimos criar com a ajuda voluntária de diversas pessoas e um jornalzinho frente e verso também foi produzido.
Este ato político ocorrido no emblemático auditório da ABI-RJ teve comparecimento expressivo, com ocupação total e algumas centenas de pessoas impedidas de entrar em decorrência da superlotação. Detalhe importante é que o companheiro Zé Dirceu participou do evento, mas em nenhum momento foi divulgado seu comparecimento, que só foi confirmado na noite anterior ao próprio evento. Este foi o maior evento de enfrentamento contra os erros da AP470 ocorrido no país.
Após este ato político muitas pessoas se incorporaram ao movimento de divulgação dos erros da AP470 e enfatize-se que movimento de sucesso é aquele cujo polo irradiador nem sabe mais o alcance do movimento, e assim foi e está sendo.
Foi neste período, pós janeiro de 2013, que conhecemos o editor do blog O Cafezinho, Miguel do Rosário, que emprestou seu conhecido profissionalismo para divulgar mais e mais os macabros detalhes deste julgamento.
Buscamos realizar pequenas reuniões plenárias com todos os companheiros atingidos pelo processo. E assim foram realizadas aqui no RJ, no decorrer de 2013, sempre na sede da CUT-RJ, reuniões com Genoino, Delúbio e João Paulo Cunha.
Esta foi a verdadeira via crucis que percorremos com muita expectativa de que pudesse ter eco na fase de recursos.
Ou seja, de abril de 2012 até setembro de 2013, vivemos todos estes mais de quatrocentos e dez dias, em reuniões, encontros, articulações, e muita mas muita divulgação, não só pelo blog, mas por diversas redes sociais.
Quando Pizzolato, em meados de setembro de 2013, buscou seu legítimo direito de ter um novo julgamento na Itália, novamente foi atacado com intensa virulência, a exemplo do ocorrido em fins de 2005. Só que agora milhões de pessoas já sabiam da existência dos documentos que o inocentam e perceberam tratar-se de simples tentativa de desacreditá-lo e assim impedir o debate fundamental acerca dos documentos ocultados.
Devo registrar meu sincero agradecimento a centenas de pessoas, internautas, blogueiros, ativistas digitais, que contribuíram para ampliar a divulgação dos documentos que aniquilam com aquilo que foi decidido pelo supremo, afinal, COMPARTILHAR É O SEGREDO DE NOSSA FORÇA !
Ao concluir este texto, ao tempo em que agradeço aos companheiros da ESQUERDA MARXISTA a oportunidade de fazer este registro, considero importante que as pessoas leiam o que segue na imagem abaixo, pois é um excelente exemplo da conduta leviana da velha imprensa, parceira/protagonista, no maior escândalo do judiciário brasileiro ao divulgar os acontecimentos apenas sob sua enviesada ótica, deste tumultuado julgamento que está longe de ter acabado.
· *Editor do Blog Megacidadania: http://www.megacidadania.com.br/. Integrante de um ampla rede de blogueiros, advogados e jornalistas que se empenharam em combater a farsa do mensalão desde o início.