A Corrente Sindical Esquerda Marxista, da Organização Comunista Internacionalista (OCI), esteve presente no XII Congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte/SC), em Urubici, nos dias 15, 16 e 17 de novembro. Com todas as barreiras impostas pela burocracia, realizamos nossa intervenção e diálogo com os trabalhadores presentes defendendo a independência e liberdade sindical.
Há um ditado popular que diz: “nada está tão ruim que não possa piorar”. De fato, na atual conjuntura com a situação da classe trabalhadora penando sob as garras do capitalismo em sua fase senil, nossa vida tende a piorar. Não temos dúvida, é “socialismo ou barbárie”.
Mas e quando o ataque vem da nossa própria entidade sindical? A impressão que todos os participantes do congresso sindical, principalmente os professores que estavam vivendo a experiência de um congresso pela primeira vez, foi o de presenciar a completa decomposição da entidade promovida pela direção estadual com sua programação articulada para impedir a discussão e a formação política da categoria.
Denúncias sobre a ausência de democracia perpetrada por membros da direção do sindicato; exclusão da inscrição de teses de tradicionais correntes políticas que constroem a entidade; microfones cortados em falas da oposição; palestras que mais ofendem aos professores do que os formam e até uma denúncias de assédio sexual e homofobia que, aparentemente, foi acobertada pela direção do Sinte. Tudo isso fez parte de um dia e meio de atividades, já a política de luta não vimos.
Historicamente, o sindicato é uma das ferramentas construídas no contexto da revolução industrial para somar forças e organizar a luta coletiva dos trabalhadores de uma categoria ou mesmo de toda classe. Não precisamos “chover no molhado” e explicar para nossos companheiros de trabalho que as coisas estão cada vez mais difíceis no sistema em que vivemos, e, portanto, a união de todos os trabalhadores é fundamental para combater o sistema e vislumbrar mudanças reais em nossa vida. Mas o que parece óbvio para a categoria massacrada em seus locais de trabalho é ignorado pela direção do Sinte, como veremos a seguir.
Todo congresso tem por objetivo ouvir a categoria, começando no momento que sua direção o anuncia e pede para que as forças políticas presentes entre os trabalhadores apresentem teses de como interpretam a conjuntura atual e qual metodologia mais assertiva deveria ser usada para as lutas do próximo período. Esse primeiro momento é crucial para os trabalhadores que estão fora do aparelho ou conselhos consigam se expressar com o mínimo de decência. Porém, o que vimos desde o início foi a direção do Sinte escondendo de todos que não fossem seus aliados ou estivessem dentro do conselho deliberativo, os períodos hábeis para a apresentação de teses. Nem o regimento para tal. Um duro golpe em vários grupos políticos, inclusive na Corrente Sindical da OCI que não pôde contribuir com o debate.
Várias vezes os representantes da Organização Comunista Internacionalista, assim como representantes de outras correntes sindicais, entraram em contato com o Sinte e em nenhum momento nenhuma informação nos foi passada. Uma evidente tentativa de esvaziar o debate. Tudo isso sendo feito de caso pensado por quem se acostumou ao ar condicionado, e há muito não sabe a dureza do dia a dia da escola.
Além de passar por cima de vários grupos políticos de oposição, a direção do sindicato mostrou mais uma vez o quão tendenciosa é ao escolher o local para fazer o congresso. Nada contra a cidade escolhida, Urubici, na serra catarinense. A cidade, assim como seus habitantes, recebeu muito bem as mais de 600 pessoas presentes. Mas a estrutura onde foram feitas as poucas discussões políticas não eram apropriadas para estimular o debate. Um salão paroquial, sem o mínimo de conforto, onde quem estava ao fundo não conseguia ouvir quem falava na frente e quem falava na mesa não conseguia se concentrar por conta do lugar não ter sido construído para o debate, mas sim para as atividades religiosas e festivas da cidade. Além de tudo, as refeições eram feitas no mesmo local, gerando filas longas e acabando com a concentração de todos que gostariam de construir os próximos anos do sindicato.
Um congresso sindical deve ter como principal objetivo o debate político e a formação dos indivíduos que estão mais dispostos à luta, o que pouco foi visto durante o evento. As apresentações culturais, que também tem sua importância, ou as palestras, algumas compostas de pessoas que não sabem a rotina exaustiva da sala de aula, dominaram o congresso, não agregando em nada para que os delegados que estivessem ali saíssem mais motivados para a luta ou formados teoricamente. Resultado: sem debate, formação, construção ou mesmo empolgação dos companheiros presentes.
Logo no começo do congresso, o coordenador geral do Sinte, Evandro Accadrolli, fez um balanço de sua gestão frente ao sindicato. Segundo Evandro, o sindicato nunca esteve tão bem como agora, nunca teve tantos filiados e a gestão nunca foi tão participativa na luta e no convencimento da categoria, visitando cada escola três vezes no ano. O que despertou gargalhadas, inclusive de delegados apoiadores. Uma mentira descarada de quem vê a burocracia sindical derreter sua gestão composta por várias correntes petistas, que criticam e veem muitos problemas entre si, na política adotada pelo sindicato, mas seguem votando em bloco em nome de cargos e do aparelho sindical.
Na apresentação das teses, o primeiro momento político do congresso depois de horas, percebemos o quão distante da realidade estão as contribuições da direção e como as teses de oposição tem falhado em noções teóricas básicas.
Os problemas serão resolvidos pela burocracia?
Ao longo do congresso, as principais defesas das correntes petistas Articulação Sindical (Art Sind), Reconstruir e Esperançar (RC) e O Trabalho (OT) se dividiram em duas partes: modificações pequenas, preciosistas e sem sentido prático, como a mudança de nome do coordenador estadual do Sinte para presidente, e a traição completa da classe trabalhadora visando reforçar a burocracia, como a mudança do estatuto para que as eleições passassem de três para quatro anos. Cada vez menos o trabalhador participa de seu sindicato, antes só via seus dirigentes de três em três anos. Agora o intervalo será maior, a cada quatro. Revoltante!
Por outro lado, o que se espera da oposição é manter-se atenta a esse tipo de situação e combater o bom combate para não cair nesse tipo de jogo burocrático, coisa que não se viu. Pior, acabou propondo mudanças no estatuto do sindicato que só revelam não compreender a real função da direção e a relação que essa direção sindical deve ter com a classe trabalhadora. A proposta de mudança na proporcionalidade da direção sindical, a qual publicamos um texto explicando nossa posição, revela que os companheiros estão equivocados em sua concepção e dispostos a cair na cilada de dividir a direção de um sindicato com a burocracia do PT, ou ainda com setores da direita. Nós, comunistas, afirmamos: não queremos meia direção, ganha por mudanças burocráticas de estatuto. A queremos por inteiro, ganhando as eleições na base e varrendo a direção pelega que impera e apequena a entidade.
Outro golpe promovido pela direção foi o de encerrar o congresso antes do tempo com a desculpa das condições climáticas terem piorado. De fato, as condições climáticas castigam o Estado de Santa Catarina, em especial a Região da Serra Catarinense onde estava sediado o congresso. No entanto, a pouca discussão política não poderia ter sido limitada por conta disso, o correto seria ter cancelado o congresso no meio e continuar as discussões em outro momento.
Mesmo sob temporal, a direção petista resolveu promover as atividades até a madrugada do dia 17, sexta-feira, e a toque de caixa empurrar de cima para baixo o mandato de 4 anos, agora vigente. Se esquece que o futuro da categoria de mais de 50 mil trabalhadores da educação depende diretamente do futuro do congresso, mas como já relatado antes, a discussão política nunca foi o principal objetivo dos que organizaram esse congresso.
As nossas tarefas: retomar a luta pela base
Trotsky já falava no Programa de Transição (1938), pouco antes da Segunda Guerra e dos horrores do nazismo, que a crise da humanidade era a crise das direções da classe trabalhadora, pois já estávamos em condições de passar a ordem socialista há muito tempo porque quem segurava o movimento revolucionário era justamente suas lideranças. A maioria das direções sindicais, também em nosso tempo, tem agido como organizadora de derrotas ao invés de promover a vitória da classe trabalhadora.
Em Santa Catarina, por exemplo, o salário do magistério é o segundo menor no Brasil, a porcentagem de trabalhadores em regime temporário chega a mais de 65% e as escolas sofrem com a falta do mínimo necessário para acolher os estudantes. Tudo isso estando em um dos estados mais ricos da união.
Como Lênin explicou, para os verdadeiros militantes marxistas, o sindicato é a escola da revolução, uma ferramenta poderosa de intervenção na sociedade que, utilizando os métodos corretos que foram construídos ao longo da história pelos trabalhadores, se torna o catalisador de vitórias do proletariado. Mas, para a burocracia e os oportunistas, esse instrumento torna-se a escola da corrupção e do bloqueio à organização independente do proletariado.
Para construir o sindicato que queremos, devemos convencer nossos companheiros de categoria, na base cotidiana, que a atual direção é péssima e que grandes mudanças que ocorreram na humanidade tiveram a organização do conjunto da classe trabalhadora como protagonista. Portanto, nossa tarefa não é abandonar o sindicato, desfiliando-se, mas disputá-lo e conquistá-lo para os interesses da categoria.
A máxima de que a “emancipação da classe trabalhadora será feita somente pelos trabalhadores” é nossa mais concreta verdade, enquanto o capitalismo existir e imperar no mundo.
Por isso, camaradas da base do Sinte/SC, devemos organizar a oposição contra as forças políticas que dirigem derrotas há décadas e que nada mais tem a oferecer aos profissionais do magistério catarinense. Para isso é fundamental que aprendamos a combater os maus dirigentes com teoria, discussão e luta política, não com mais burocracia ou oportunismos.
Os problemas que vivemos hoje de direções traidoras já foram vividos inúmeras vezes ao longo da história, e sempre foram combatidos com luta e organização. A classe trabalhadora não é ingênua, saberá separar o joio do trigo e escolher o melhor lado se estiver convencida disso.
Para tanto, convidamos a todos que leram este texto a integrar as fileiras da Organização Comunista Internacionalista. Uma organização que visa não somente combater as direções pelegas ou patrões de maneira isolada, mas que tem a ousadia de lutar por um mundo novo, onde a exploração dará lugar a liberdade.