Escrito durante a Escola de verão da Corrente Marxista Internacional, realizada em fins de julho na Grécia, este breve informe apresenta os elementos centrais da atual situação política naquele país e o programa apresentado pelos marxistas no Congresso do Syriza.
Escrito durante a Escola de verão da Corrente Marxista Internacional, realizada em fins de julho na Grécia, este breve informe apresenta os elementos centrais da atual situação política naquele país e o programa apresentado pelos marxistas no Congresso do Syriza.
O Capitalismo grego está em um impasse absoluto, em todos os níveis, desde o político ao econômico. É o sexto ano de depressão econômica no qual o PIB encolheu 25%. A Dívida pública grega era de 128 bilhões de euros, o que equivalia a 128% do PIB, após os empréstimos draconianos do FMI a Dívida Pública saltou para 330 bilhões de euros, mesmo com todos os recortes na educação pública, saúde e aposentadorias. A Grécia recebeu até agora 219 bilhões de euros de “ajuda” financeira, deste montante 122 bilhões foram pagos, a título de juros e resgates, aos detentores da dívida pública grega e 48 bilhões para dar liquidez aos bancos, ou seja, salvaram os pobres banqueiros da bancarrota.
Estes números mostram que o Estado grego está à beira do colapso e a saída do Euro é algo muito palpável. Estima-se que este ano a Grécia pagará a título de juros 105 bilhões de euros. E com a crise se aprofundando em toda a Europa é provável que a “Troika” (Banco Central Europeu, FMI e União Europeia) não mais conceda empréstimos.
Existem 1,5 milhões de desempregados, quase 30% da população economicamente ativa e 60% de desemprego entre os jovens. Quatro milhões de pessoas, de um total de 11 milhões, vivem abaixo da linha da pobreza e 400 mil não tem renda alguma. 300.000 não possuem eletricidade em sua casa.
Há material inflamável em toda a sociedade. Uma pesquisa realizada em dezembro de 2012 resultou que 63% da população quer uma mudança fundamental na sociedade e 28% desejam claramente uma revolução, mas devemos considerar que uma revolução trata-se justamente de uma mudança fundamental na sociedade, ou seja, sem que tenham plena consciência, 91% da população grega quer uma revolução.
Os sindicatos continuam servindo como uma imensa barreira contra o movimento revolucionário. As mais de trinta greves gerais dos últimos anos não trouxe nenhuma conquista concreta, apenas serviu para os dirigentes sindicais soltarem a pressão e provocar um cansaço nos trabalhadores. A correlação de forças dos sindicatos ainda reflete o passado. Novas direções ainda estão por surgir.
Os políticos reformistas também jogam seu papel, justamente no momento em que o capitalismo está em colapso se agarram ás medidas econômicas adotadas pelos defensores do livre mercado. O PASOK que em seu auge obteve 48% dos votos e caiu a meros 7% nas últimas pesquisas de intenções de voto. E o Syriza, que atraiu as intenções de votos com seu discurso exigindo mudanças radicais, agora com a possibilidade de vitória, talvez tenha batido o recorde mundial de adaptação, em apenas seis meses tem caminhado velozmente para a direita. Está fazendo todo o esforço para demonstrar à Troika que fará um governo responsável. Mas não podem esquecer que ao aceitar o sistema capitalista terá que aceitar também as suas leis, ou seja, também terá que fazer recortes. Tzipras não fala mais para a classe trabalhadora e sim para Angela Merkel.
Desde as eleições de 2012 o Syriza também se tornou uma barreira. Como exemplo, os trabalhadores da educação declararam uma greve indefinida e o Syriza não deu suporte, nem mesmo os trabalhadores da TV pública, que foi brutalmente fechada, obtiveram o apoio da liderança do Syriza.
Esta adaptação refletiu no congresso do Syriza, que aconteceu nos dias 6 e 7 de julho, e teve uma baixa participação, apenas 22% dos militantes, de um total de 40.000, participaram ativamente do Congresso. Tzipras obeteve 65% dos votos, 4% menos do que o último Congresso, e a corrente de esquerda Lafazanis 30%, 5% a mais. Lafazanis apenas apresentou emendas ao documento da direção majoritária, mas nenhuma delas passou.
O único programa alternativo foi o documento dos marxistas. Apesar de todas as barreiras os marxistas do Syriza, que formaram a Tendência Comunista do Syriza, conseguiram eleger dois membros ao Comitê Central do Partido, sem fazer nenhum acordo de gabinete. Com estes postos poderão defender dentro do partido, que provavelmente chegará ao poder nas próximas eleições, as ideias do marxismo revolucionário.