Foto: Lúcio Bernardo Jr., Agência Brasilia

O descaso com a Educação de Jovens e Adultos em Brasília

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 06, de 14 de maio de 2020. Confira a edição completa

Seriam belas férias, não fosse uma situação trágica para milhares de trabalhadores, entre adultos e jovens, que buscaram na Educação de Jovens e Adultos (EJA) como alternativa satisfatória de conclusão da Educação Básica, mas que se encontram deixados sem qualquer perspectiva em meio a um cenário que beira ao caos com relação à pandemia de coronavírus e a manutenção das próprias vidas e de seus familiares. Segundo dados da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), são mais de 43 mil estudantes distribuídos nas 103 escolas da rede pública que ofertam a modalidade de ensino quase que exclusivamente à noite1 desde a alfabetização até as etapas similares ao ensinos Fundamental e ao Médio. 

A EJA em período de normalidade já é um desafio por si só. Desenvolver uma atividade didático-pedagógica adequada, tendo que trabalhar o conteúdo, desdobrado normalmente ao longo de um ano letivo, em quarenta aulas em um semestre é um desafio em si. Não bastasse isso e as condições já desfavoráveis de estrutura da escola – acesso precário a ferramentas de ensino, ausência de material didático voltado para estudantes jovens e adultos – ainda há as próprias necessidades dos estudantes, de dificuldades a distúrbios de aprendizagem, até o cansaço de uma jornada laboral exaustante ou, mesmo, a total falta de perspectiva de trabalho.

A possibilidade de ensino mediado, que está sendo proposto para os ensinos Médio e Fundamental, se quer é cogitado para a EJA. Mesmo que o fosse, a experiência desse docente com a introdução de ferramentas auxiliares ao processo de aprendizagem oriundas da informática, aliada à própria construção deficitária do conhecimento entre esses estudantes, leva à conclusão de que, sem um processo próximo de alfabetização digital, tornaria totalmente inócua essa tentativa.

Na prática, o semestre letivo já foi totalmente perdido e é necessária uma comunicação clara com o corpo discente no esforço de motivá-los a não abandonar a EJA. Um esforço de organização que os façam compreender a situação em que nos encontramos e as alternativas para alcançarmos um patamar distinto da que os atuais governos Bolsonaro e Ibaneis, bem como a classe dominante, têm desenhado para a juventude e demais parcelas da classe trabalhadora.

Nota:

1 SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL. Nossa Rede. Escolas e Estudantes. Acesso em 9 maio 2020.