É correto afirmar que o grande propagandista (involuntário) do movimento comunista tem um nome, ele se chama Jair Messias Bolsonaro. Claro que isso é uma afirmação genérica do que realmente causou o crescimento das fileiras das organizações comunistas no Brasil. O catastrófico governo Bolsonaro, com a péssima administração durante a pandemia, que causou a morte de mais de 600 mil brasileiros por Covid-19, nos concedeu a chance e a condição de abrir os olhos não só para a situação em que o Brasil se encontrava, mas também encarar a realidade de outras nações do mundo, ou seja, encarar a crise global do capitalismo.
Esse cenário de fim dos tempos acendeu a chama da revolta nos filhos da classe trabalhadora, levando muitos que se consideravam liberais a “dar uma chance” a um projeto mais ousado que propusesse uma mudança na raiz das crises que assolam a sociedade. Eis que esse sentimento de revolta oferece dois caminhos: o comunismo ou as manifestações da extrema-direita. O que nos interessa no presente artigo é obviamente o crescimento das fileiras comunistas, mais especificamente o perfil desses novos comunistas.
É praticamente impossível não reconhecer que boa parte dos militantes mais jovens das organizações comunistas tiveram contato com o socialismo pela primeira vez nas redes sociais, através de criadores de conteúdo, seja com o objetivo de deturpar ou não o movimento e a teoria marxista assim como outras tendências do socialismo. Esse “hype” começou em 2021 e durou até o fim das eleições presidenciais de 2022, levando criadores de conteúdo comunistas a participar de podcasts e protagonizar alguma discussão em locais caóticos (e também que distorcem a percepção da realidade) como o Twitter.
Essa é uma onda que, analisando somente a superfície da situação, parece um ótimo sinal, pois há muito tempo que os comunistas não tinham tamanha atenção e espaço nas redes para difundir as suas ideias assim como a extrema-direita fez pelo menos desde a primeira metade dos anos 2010. Porém, nem tudo é tão simples quanto parece.
Espírito de aventura e a ilusão da militância virtual
Antes de seguir com a discussão, vale a pena pontuar aqui uma definição do que seria “aventureirismo”. Lênin utiliza o termo para definir o Partido Social-Revolucionário da Rússia, em 1902, alegando que os socialistas revolucionários possuíam falta de habilidade teórica, resultando em atitudes oportunistas e irresponsáveis, colocando a classe trabalhadora em riscos desnecessários e advogando uma violência muitas vezes suicida. Atualmente, pode-se dar a esse termo um novo significado, dessa vez o interpretando “ao pé da letra”: o movimento comunista se tornou um fenômeno de autopromoção do militante como um verdadeiro herói, tornando a abolição da sociedade capitalista uma grande aventura, um conto digno de uma produção cinematográfica.
Boa parte dos “novos comunistas” que passaram a simpatizar com o movimento por conta de vídeos no YouTube estão carentes de formação teórica e de prática. O que era para ser um “amadorismo” sobre a teoria marxista acaba por perseguir e moldar o comportamento do comunista até mesmo quando organizado, aumentando a necessidade de esforço das organizações em avançar nos mais diversos espaços da sociedade por uma falta de seriedade que surge através da falta de convencimento desses novos militantes para reconhecer a gravidade de estar disposto a pôr abaixo a sociedade capitalista.
O militante não se sente disposto a participar de uma organização pois no fundo reconhece que prefere ficar na zona de conforto, perdendo seu tempo batendo boca com algum desconhecido na internet e emulando a cada dia, dentro e fora do espaço virtual, uma caricatura: o comunista que não lê, não age por uma mudança que não seja meramente simbólica, não busca dialogar com quem seja de fora de sua bolha.
Alguém que já faz parte de uma organização política que atua no dia a dia da luta de classes não deve ter se deparado com isso apenas uma ou duas vezes desde que entrou nas fileiras comunistas e também deve reconhecer que essa irresponsabilidade gera uma falta de seriedade e uma insistência em encarar o movimento comunista como uma mera aventura. As grandes empresas do ramo do entretenimento já reconhecem isso e obviamente capitalizam em cima do espírito de aventura reforçado (mesmo que involuntariamente) pelos comunistas virtuais, um cenário perfeito para enterrar o movimento comunista como um fantasma de um passado já superado.
Comunismo domesticado e a arena da guerra cultural
Assimilado ao consumo, o discurso pela criação de uma nova forma de sociedade foi transformado num produto. O comunista se tornou um novo mercado consumidor, a fonte de um “red money”. Com essa condição posta na mesa, o algoritmo das redes sociais e a indústria cinematográfica possuem um terreno rico para intensificar a guerra cultural, colocando os gladiadores supostamente comunistas contra os gladiadores da direita carregados de nostalgia, e claro, é bom lembrar: tudo reduzido ao espaço virtual.
Estimular a mobilização dos dois espectros em torno de uma disputa por virtudes, crendo que estão conquistando espaço e pescando novas pessoas para o seu lado, é uma eterna maratona que se corre em círculos. A emancipação da classe trabalhadora se torna um conto de fadas existente somente para um nicho de jovens aprisionados em fóruns da internet e velhos intelectuais encastelados nas universidades à medida que o discurso perde o seu sentido e se torna apenas mais um a qual as grandes empresas do entretenimento podem adotar para produzir uma crítica cínica ao capitalismo.
O cenário de crise global é cristalino e cabe à juventude comunista reconhecer que está inserida num movimento de superação do capitalismo e abandonar o desejo por viver uma aventura. A todos aqueles que se reconhecem como comunistas, chamamos para que se organizem na Organização Comunista Internacionalistae ajudem a construir um partido comunista internacionalista no Brasil.