Manifestação de 29 de setembro convocado para protestar contra o candidato Bolsonaro. Foto: Lula Marques

O PSOL e a frente única para derrotar Bolsonaro

O PSOL teve na eleição presidencial deste ano o pior resultado desde que foi fundado. Em 2006, Heloísa Helena teve 6,5 milhões de votos; Plínio de Arruda Sampaio, em 2010, 886.816 votos; Luciana Genro, em 2014, 1,6 milhão. Guilherme Boulos, agora, somou 617.122 votos. Este resultado é contraditório. O partido tem mais filiados hoje do que em 2014, recebeu mais de 20 milhões de reais do fundo eleitoral (recurso inexistente 4 anos atrás) – dos quais cerca de 6 milhões foram destinados para a campanha presidencial -, além do partido ter passado de 5 deputados federais eleitos em 2014 para 10 este ano.

É preciso um balanço político da queda da votação na candidatura presidencial. A explicação do voto útil em outros candidatos, Haddad ou Ciro, é um fator secundário. De fato, voto para provocar o 2º turno contra Bolsonaro seria em qualquer candidato que não fosse Bolsonaro. A explicação central é que a campanha do PSOL, sem uma identidade própria, sem se diferenciar claramente do PT, aparecendo na realidade como um PT um pouco mais à esquerda, adotando uma linha reformista e pequeno-burguesa, não conseguiu se conectar com o sentimento antissistema existente na base da sociedade e permitiu que a campanha do voto útil varresse a base do partido. O bloqueio da direção e a indefinição para o lançamento de uma candidatura do PSOL durante todo o ano de 2017, a espera pela decisão de Boulos (não filiado ao partido) se seria candidato, jogou a tomada de decisão para uma Conferência Eleitoral apenas em março deste ano, o que também contribuiu para o resultado. O PSOL tinha as condições de se beneficiar da atual situação, apresentando uma candidatura presidencial socialista e revolucionária, que representasse a reorganização das forças da classe trabalhadora após as traições e a desmoralização do PT. Culpar o voto útil, ou o breve fôlego dado ao PT após o impeachment (fôlego escasso, já que o PT perdeu mais de 12 milhões de votos em relação ao 1º turno de 2014), é desviar do problema central a ser encarado: a adaptação da linha política da campanha de Boulos.

À luz do resultado da candidatura presidencial no 1º turno, esperava-se um balanço crítico da direção do partido. No entanto, seguem no mesmo caminho ao aderir à “frente democrática” convocada por Haddad e PT.

O PSOL (e também o PCB) assinou uma nota com PT, PCdoB, PSB e PROS. Primeiro, é um grave erro assinar um documento conjunto com partidos burgueses (PSB e PROS) para defender a “democracia” – outro artigo publicado em nossa página já explica por que esta linha de PT e Haddad da “frente democrática”, da busca por apoio de setores burgueses, é o caminho da derrota eleitoral e política. O PSOL embarca nisso e assina um documento em que consta: “sua candidatura [de Haddad] representa os valores da civilização contra a barbárie, representa um projeto de país em que todos têm oportunidades, não apenas os privilegiados de sempre”. Isso é vender ilusões. É o discurso petista da viabilidade de servir a dois amos e todos saírem ganhando. Nos 13 anos de governo de conciliação de classes encabeçado pelo PT, a burguesia nacional e internacional ganhou muito, enquanto trabalhadores e jovens seguiram sendo explorados e perdendo direitos e conquistas.

Nós, da Esquerda Marxista, para derrotar Bolsonaro, convocamos o voto no 13, no PT, sem ilusões. Realizamos um combate de frente única contra Bolsonaro, sem deixar de criticar a política do PT antes, durante e depois deste combate.

A Internacional Comunista, com a direção de Lenin e Trotsky, determinava na resolução de seu quarto Congresso “como condições rigorosamente obrigatórias para todos os partidos comunistas, para toda a seção que estabeleça um acordo com os partidos da 2ª Internacional e da “Internacional 2 e meio”, a liberdade de continuar a propaganda de nossas ideias e as críticas dos adversários do comunismo. Ao submeter-se à disciplina da ação, os comunistas se reservam absolutamente o direito e a possibilidade de expressar não somente antes e depois, mas também durante a ação, sua opinião sobre a política de todas as organizações operárias sem exceção. Em nenhum caso e sob nenhum pretexto, esta cláusula poderá ser contraposta. Muitos defendem a unidade de todas as organizações operárias em cada ação prática contra a frente capitalista, os comunistas não podem renunciar à propaganda de suas ideias, que constitui a lógica expressão dos interesses do conjunto da classe operária”.

A conciliação de classes e a submissão dos governos de Lula e Dilma aos interesses do capital é que provocaram a atual situação, é a mesma trajetória que está sendo trilhada pela campanha de Haddad. Esconder isso, em nome da unidade na ação, trata-se de uma adaptação oportunista.

O PSOL, para ser parte da construção do novo, deve se afastar do que destruiu o PT como um partido da classe trabalhadora. A busca do PT, já na década de 80, por aliança com setores “progressistas” da burguesia nacional, requentando o menchevismo e o stalinismo, acabou na coalizão com Sarney, Collor, Maluf, etc. Agora, o PSOL, além de participar há alguns anos de um governo da REDE no Macapá, do qual o DEM também faz parte, decidiu em São Paulo apoiar de maneira velada o candidato Márcio França, do PSB, com a justificativa de combater João Doria, do PSDB. A nota do PSOL SP orienta “nenhum voto em Doria”, sem falar nada de França, que também é um candidato burguês, eleito vice de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo estadual há 4 anos, apoiado pelo presidente da FIESP, Paulo Skaf (MDB) neste 2º turno. Doria e França são candidatos igualmente burgueses, a posição de classe de um partido que se diz socialista só poderia ser o voto nulo nesse caso. (ver análise da disputa em SP do Coletivo Educadores Pelo Socialismo)

O esforço pela unidade do proletariado e de suas organizações para combater os ataques da burguesia é uma necessidade da classe trabalhadora, defendida pelos comunistas. Somos pela frente única para combater Bolsonaro e os indivíduos e grupelhos protofascistas que o apoiam e que se encorajam a agir com maior liberdade na atual situação. Este combate tem que se dar centralmente nas ruas, nas escolas, universidades, nas fábricas, antes e depois das eleições. Nesse processo, as massas precisam também superar as ilusões no reformismo e na conciliação, se reorganizar sobre um novo eixo de independência de classe para preparar suas futuras vitórias. É necessário golpear junto, mas ao mesmo tempo marchar separado das direções que traem os interesses gerais e históricos da classe trabalhadora. O PSOL, ou muda o rumo de adaptação ao sistema, ou chegará muito mais rapidamente onde o PT terminou.