Imagem: palinchak

O que a guerra na Ucrânia revela sobre a política no Brasil

Editorial da 16ª Edição do jornal Tempo de RevoluçãoFaça sua assinatura e receba no seu e-mail!

A guerra na Ucrânia continua, já são milhares de mortos e feridos, além dos cerca de 1,5 milhão de refugiados. Como explica a declaração da Esquerda Marxista lançada em 26/02, a razão fundamental deste conflito está nos problemas econômicos e políticos internos de Rússia e EUA .

A guerra, tanto para Biden quanto para Putin, é útil para tentar criar um sentimento de “unidade nacional” em meio à profunda crise econômica mundial e queda de popularidade de ambos. Utilizam a guerra ainda para fazer girar a indústria armamentista. Quem sofre com este jogo macabro é o povo trabalhador ucraniano, que já vivia uma guerra civil há 8 anos e, sob o governo de Zelensky, submisso ao imperialismo, tendo que lidar com cortes de direitos, medidas repressivas e ações de bandos fascistas em conluio com o Estado.

Bolsonaro e a guerra

Na semana anterior à invasão, Bolsonaro foi à Rússia encontrar-se com Putin. Saiu do encontro realizando uma série de elogios ao presidente russo e classificou a relação de Brasil e Rússia como um “casamento perfeito”.

Putin é modelo do que Bolsonaro gostaria de ser, um governante que avança em direção a um regime totalitário. Com a guerra, aliás, Putin tem o pretexto para avançar na repressão contra jovens e trabalhadores russos. Desde o início do conflito, já são mais de 12 mil presos na Rússia por protestarem contra a guerra. Os órgãos de imprensa estão proibidos de caracterizar a ofensiva na Ucrânia de “guerra”, “invasão” e “ataque”. Este regime bonapartista é um dos sonhos de Bolsonaro, mas sua fraqueza política e a disposição de luta das massas no Brasil, fez com que esse sonho estivesse sempre bem longe da realidade.

Putin é modelo do que Bolsonaro gostaria de ser, um governante que avança em direção a um regime totalitário / Imagem: Alan Santos, Presidência da República

A visita à Rússia foi uma tentativa de Bolsonaro mostrar aos seus seguidores que não está isolado na arena internacional. No entanto, se isso serve para consolar os seguidores mais fiéis, por outro lado, para as massas em geral, que estão contra a guerra, aparecer como aliado daquele que está realizando a invasão militar não vai melhorar a já acentuada queda de popularidade de Bolsonaro e não vai reverter a derrota eleitoral que se avizinha, ao contrário.

Esta relação de Bolsonaro e Putin tem gerado divisões no interior do governo brasileiro. O vice-presidente, Hamilton Mourão, declarou que o “Brasil não está neutro. O Brasil deixou claro que respeita a soberania da Ucrânia, então Brasil não concorda com uma invasão”, porém foi logo desautorizado por Bolsonaro: “Quem fala sobre esse assunto é Jair Bolsonaro, ninguém mais fala. Quem estiver falando está dando uma peruada”. As declarações públicas de Bolsonaro pregam neutralidade, mas a mídia bolsonarista, por outro lado, mostra com simpatia Putin e sua invasão. Já a diplomacia brasileira, pressionada pelo imperialismo americano, votou a favor das resoluções que condenavam a invasão russa, tanto no Conselho de Segurança quanto na Assembleia Geral da ONU.

A tentativa de Bolsonaro em manter boas relações com a Rússia tem, também, interesses econômicos por trás. Em particular a importação de fertilizantes, cerca de 30% do produto utilizado no país vem da Rússia e Bielorrússia.

O fato é que os efeitos desta guerra, no Brasil e no mundo, vão recair sobre os trabalhadores. O preço internacional do barril de petróleo subiu acima de US$ 110, e como o preço dos combustíveis vendidos pela Petrobras tem como parâmetro o preço internacional do petróleo, isso significa um aumento dos combustíveis e uma reação em cadeia com o aumento do custo de transporte de mercadorias que vai recair sobre os consumidores. O fenômeno global da inflação já visto no ano passado, gerando o arrocho salarial, deve ser potencializado com esta guerra.

A “esquerda” e a guerra

A guerra revela a decadência do capitalismo e, também, a adaptação das organizações do movimento operário. Vale recordar da posição vergonhosa das direções da socialdemocracia, a 2ª Internacional, quando eclodiu a 1ª Guerra Mundial em 1914, capitulando ao chauvinismo e apoiando suas burguesias nacionais no conflito.

Agora, apesar de 3 deputados da Duma do Partido Comunista da Federação Russa (de um total de 57 deputados eleitos pelo partido) terem se posicionado contra a guerra, o presidente do PC, Gennady Zyuganov, lançou uma declaração em que diz:

“Impelir os provocadores de Kiev à paz e conter a agressividade da OTAN tornou-se o imperativo da época. Somente a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia pode garantir segurança duradoura para os povos da Rússia, Ucrânia e de toda a Europa.”

Ou seja, replicando a propaganda de Putin, o presidente do PC Russo, expressando a posição majoritária do partido, apoia a ofensiva militar sobre a Ucrânia. Posição oposta dos camaradas da CMI na Rússia, que desde o primeiro momento condenaram a aventura de Putin.

No Brasil, temos casos semelhantes entre a dita esquerda. Desde o extremo dos que declaram “todo apoio à Rússia” (como o PCO e organizações de tradição stalinista), até os que fazem críticas sutis a Putin como um governante capitalista, mas embarcam na propagando do governo russo de que a invasão foi uma resposta defensiva diante das provocações do imperialismo americano e OTAN. Há também os que exaltam a “resistência ucraniana”, ignorando a ampla presença de grupos paramilitares fascistas, além do apoio e financiamento do imperialismo americano. Alguns ainda, impressionados com a nova guerra, projetam a iminência de uma 3ª Guerra Mundial opondo EUA/OTAN de um lado e Rússia e China do outro, hipótese que a Esquerda Marxista e a CMI descartam diante da oposição popular à guerra, em particular nos EUA, dos prejuízos econômicos para qualquer um dos lados com uma guerra nessa escala, e o fato de poder evoluir rapidamente para um conflito nuclear com o potencial de destruição generalizada da civilização.

Lula, em visita ao México, declarou:

“O mundo está precisando de paz, o mundo está precisando de amor, o mundo está precisando de compreensão, o mundo está precisando de fraternidade. As pessoas estão querendo apenas viver dignamente e por isso aqui da cidade do México a gente poderia dizer, governantes baixem as armas, sentem na mesa de negociação e encontrem a solução para o problema que levou vocês ao começo de uma guerra.”

Embora a posição contra a guerra esteja correta, Lula defende uma saída “diplomática”, disseminando a ilusão em algum bom senso humanitário por parte dos governantes burgueses. No fundo, é a ilusão que Lula propaga nas instituições burguesas e na conciliação de classes. A política é economia concentrada e a guerra é a continuação da política por outros meios. A burguesia não se move por paz e amor, move-se pelo lucro, por seus interesses econômicos e políticos, e se a guerra vai ao encontro desses interesses, eles fazem a guerra e utilizam o povo, principalmente a juventude, como bucha de canhão.

Já o PSOL, limitou-se a lançar uma nota de poucas linhas, condenando a guerra, recordando a posição programática do partido “pelo fim da OTAN” e defendendo a liberdade para os “pacifistas russos”. Um posicionamento protocolar diante de um conflito que afeta a classe trabalhadora internacional e é a pauta política central no mundo hoje. Demonstra muito da impotência do PSOL em agir na luta de classes.

Uma posição internacionalista e de classe

A posição da Esquerda Marxista e da Corrente Marxista Internacional é que não há lado progressista nesta guerra. Nem EUA e OTAN com seu discurso hipócrita contra a invasão, nem a Rússia de Putin, nem o governo ucraniano que balança com o avanço das tropas russas em direção a Kiev. Não temos ilusões na ONU e na diplomacia burguesa. Todos estão jogando com a vida da classe trabalhadora na busca por seus próprios interesses econômicos e políticos. Defendemos a paz entre os povos, mas nenhuma paz contra nossos inimigos de classes que propagam a trágica situação que o mundo atravessa, com a crise, desemprego, inflação, pandemia, mudanças climáticas, guerras e refugiados. Só com o fim deste sistema decadente, através da revolução socialista internacional, a Humanidade poderá pôr fim à caminhada em direção à barbárie e construir um futuro de verdadeiro progresso e desenvolvimento.

  • Abaixo a guerra! Abaixo os governos reacionários de Putin e Ucrânia!
  • Abaixo o imperialismo! Desmantelamento da OTAN!
  • Abaixo Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!
  • Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!
  • Viva a luta pela Internacional dos Trabalhadores!
  • Viva a revolução socialista internacional para enterrar o regime da propriedade privada dos meios de produção!