Em resposta às declarações da Ministra Matilde Ribeiro.
“O racismo que existe no Brasil é fruto dos abismos econômicos que separam classes sociais. Não é produto da opressão de ‘brancos’ contra ‘negros’, mas do princípio da desigualdade social que dissolve as esperanças dos trabalhadores de todos os tons de pele. O Movimento Negro Socialista (MNS), do qual faço parte, luta pela igualdade verdadeira, pela extensão dos direitos e dos serviços públicos. Essa é a única via eficaz para combater o racismo.
A afirmação da ministra Matilde Ribeiro justificando o racismo por parte de negros contra brancos é a conclusão prática das chamadas ‘ações afirmativas’ – na verdade, das leis que pretendem dividir os brasileiros segundo a ‘raça’.
O conceito de raça, fundamento das declarações da ministra, traça uma fronteira nas escolas, nas periferias, nos sindicatos. Divide os cidadãos e os trabalhadores. No limite, propaga um ódio estéril que só serve aos que tudo têm. Os interesses dos trabalhadores negros são os mesmos dos trabalhadores brancos, são os interesses de todos oprimidos!
As afirmações da ministra desenham uma nação de guetos ‘raciais’, na qual não há lugar para o conceito de direitos universais. A chamada ‘discriminação positiva’ só pode desembocar na divisão da nação brasileira e na criação de uma oposição ‘legal’ entre negros e brancos em escala de todo o País. É evidente que os primeiros a sentir as conseqüências da divisão ‘racial’ da sociedade serão os pobres, negros e brancos, em sua luta pela sobrevivência, na luta por emprego, e que tem necessidade de saúde, educação e serviços públicos universais e de qualidade!
Não culpamos o trabalhador ‘branco’ que vive na casa ao lado pelo desemprego ou pelo salário de fome, pois isso é o que almejam os poderosos. Não queremos privilégios de ‘raça’ nas universidades e no mercado de trabalho. Continuamos a sonhar (e a lutar) pelo dia em que ninguém será avaliado pela cor da sua pele, como sonhou Martin Luther Ling. Tenho convicção de que os negros não se iludirão pela política da divisão e do ódio. Nós continuaremos a explicar que nós trabalhadores somos uma só classe e os interesses dos negros não se distinguem daqueles dos demais trabalhadores.
A luta pela sobrevivência, a luta contra o racismo existente já é muito dolorosa para permitir que um mal maior se faça.”