O racismo atacando: Seu Jorge, Eddy Jr. e a Dra. Perla Spozito

Nada explicita mais o racismo que sofreu Seu Jorge do que o áudio do presidente do Grêmio Náutico União, clube em que o cantor se apresentou. Lá, ele “explica” o que aconteceu:

“…Fiquei chocado com o jeito como o nosso artista, um artista supercompetente, um cantor inigualável, com a voz que ele tem, a maneira como ele chegou. Porque, no material de divulgação que nos forneceram, é um Seu Jorge com um terno, uma roupa bem aprazível, e ele chegou com aquele moletom, não sei por quê, meio que dissociado do clima do evento. (…) Ao que me parece, foi uma falta de decoro, de respeito dele para com o público dele, da maneira como ele veio trajado, que não era adequada. …”

Uau, o racismo travestido em “crítico de moda”. Assim, Seu Jorge deveria se “adequar” a um suposto código de vestuário, não explícito em nenhum local. O mesmo código que impede que pobres consigam acessar a Justiça, já que dificilmente, além de não terem advogados, vão ter “roupas adequadas”. Assim caminha não a humanidade, mas o Estado burguês, no qual o racismo é formalmente proibido, mas praticado no dia a dia.

Se a nota do clube fala que não vai admitir racismo, em entrevista, o presidente do clube, Paulo José Kolberg Bing, deixa claro o que ele pensa – o artista fez um “gesto político“, que fez com que o público se sentisse “ultrajado”. Após ter acesso a vídeos das câmeras de segurança do clube, o dirigente reforçou a versão: “Foi aquela manifestação de inconformidade. E pela provocação, é aquela Lei de Newton, né? Toda ação corresponde a uma reação, então vieram as falas de ‘mito’, então é isso”, disse.

Ou seja, o episódio não seria “racismo”, mas somente uma “manifestação de incoformidade”. O portal G1, entretanto, foi atrás de mais fontes e conseguiu uma entrevista que, além de mostrar o racismo, mostra como as pessoas estão intimidadas pelos racistas presentes:

“Começaram a gritar ‘mais um, mais um’, mas, logo em seguida, alguns sons de ‘uh, uh’. Primeiro, eu pensei que estavam vaiando. E já parecia estranho pra mim uma pessoa num show começar a vaiar. Depois, eu vi que eram movimentos de macaco. Cheguei a ouvir ‘negro vagabundo, vagabundo’ e, depois, pessoas gritando ‘mito, mito'”, disse ao G1 uma pessoa que estava no evento e prefere não se identificar.

Um problema do Rio Grande do Sul, como alguns chegaram a pensar? Será que o problema é este clube em particular? Seu Jorge, em entrevista ao portal G1, explica de onde vem o racismo (ver a partir do minuto 14), na qual ele explica que a luta é de todos, que só se resolve o problema do machismo com a participação dos homens, só se resolve o problema do racismo com a participação dos brancos. De forma direta, ele explica:

“Raça é uma tecnologia a serviço do capitalismo, alguém tem que ganhar menos.”

E no final da entrevista ele canta, “a carne mais barata do mercado é a carne negra”.

Seu Jorge convoca para fazermos passeata no dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, juntando todo o povo contra o racismo. Nós nos somamos a esta convocatória e dizemos:

  • Racismo e capitalismo são duas faces da mesma moeda!
  • Não acabou? Tem que acabar. Queremos o fim da Polícia Militar!

O humorista e a dentista

O episódio de Seu Jorge acabou tendo uma grande repercussão porque ele, ao se pronunciar, foi à luta contra o racismo. Mas os episódios se repetem diariamente. Não cabe hoje falar da morte diária nos morros e bairros proletários, em que a maioria que morre é negra, mas dois outros episódios ganharam os jornais.

O humorista Eddy Jr., no prédio onde mora, foi alvo de racismo. Ele estava entrando num elevador quando uma racista disse que não iria no mesmo elevador que ele. Calmo, ele simplesmente seguiu no elevador ao invés de “dar lugar” a alguém que se achava “superior”. E filmou a reação destemperada desta racista que o xingava de todas as formas:

“Macaco, imundo, feio, urubu, neguinho, um perigoso que não merece morar aqui, uma pessoa que oferece riscos para os moradores desse condomínio.”

Apesar da denúncia feita ao condomínio ele não obteve nenhum suporte. As agressões e ameaças continuaram, com a racista e seu filho indo inclusive na porta do seu apartamento com uma faca para intimidar o artista. A situação chegou a tal ponto que ele foi obrigado a deixar o apartamento.

Noutro episódio, a Dra. Perla Spozito estava na praia com um grupo que consumia cerveja e salgadinhos em uma barraca de praia, no município de Macaé (RJ) e, ao tentar ir no banheiro da barraca, foi xingada e impedida de acessar o sanitário, apesar de outras pessoas da barraca, brancas, não terem sofrido tal violência.

Ela fez o certo, chamou a polícia e conseguiu uma testemunha. O prefeito da cidade, Welberth Rezende (Cidadania), afirmou que a primeira medida administrativa tomada pela prefeitura de Macaé será a cassação de licença para atuar e que o quiosque será lacrado. “Não podemos nos calar diante casos como este. Nossa sociedade não tolera mais nenhum tipo de discriminação. O governo municipal está atento e não ficará inerte diante dessas agressões aos direitos civis”.

O momento atual

É evidente que ascensão de um presidente racista, que a todo momento mostra episódios de discriminação, como no debate presidencial da Bandeirantes, aumenta e dá guarida a outros racistas. Quando Bolsonaro diz que em favela só tem traficante, criticando a passeata de Lula no morro do Alemão, ele reflete e amplia a opinião de toda uma pequena e média burguesia que tem no racismo a chave para dividir os explorados e aumentar a exploração capitalista. Por isso, queremos derrotar Bolsonaro e votamos Lula presidente. Mas só isto não basta.

O Movimento Negro Socialista (MNS) luta contra o racismo e a discriminação e entende que esta luta está combinada a luta para acabar com o capitalismo. O exemplo de Seu Jornge, o exemplo do humorista Eddy Jr. e da Dra. Perla mostram que é dolorido, mas é necessário lutar.

No dia 20 de novembro, estaremos nas ruas junto com todo o movimento negro contra o racismo e a exploração.

  • Abaixo o Racismo!
  • Viva o Socialismo Internacional!