O significado reacionário dos Acordos de Oslo sobre a Palestina e a política de “Dois Estados”

Com o ministro das Relações Exteriores do governo Dilma fazendo um giro pelo Oriente Médio, expressando apoio a “existência do Estado de Israel” e à “criação de um Estado Palestino”, é importante explicar e reafirmar o significado desta política e a posição dos marxistas. Em artigo publicado em 2007, Serge Goulart explicava o significado da política de “Dois Estados”,  promovida pelos imperialistas e seguida pelos “responsáveis, prudentes e sensatos” homens políticos em que a classe trabalhadora depositava (e ainda deposita) tantas esperanças de que  lutassem para fazer o mundo mudar.

Durante o governo Lula o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim era o porta voz desta política e como tal participou de uma Conferência nos EUA,  com objetivo de reescrever os Acordos de Oslo que faziam água por causa da Intifada e do fato que a maioria do povo palestino já não apoiava estes Acordos de traição, após anos sentindo na pele suas consequências. 

A política de “Dois Estados”, delineada desde os Acordos de Oslo, em 1993, conduziram à trágica situação atual. Nesta cidade da Noruega o governo de Israel e Yasser Arafat, presidente da OLP, coordenados pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, assinaram um acordo onde a capitulação definitiva de Yasser Arafat e a cúpula do Al-Fattah se concretizava na aceitação da divisão da Palestina e da existência do Estado de Israel, na criação de um suposto “governo palestino” chamado de “Autoridade Palestina”, na criação de três Zonas sobre o território palestino. Uma Zona A, sob controle da nova “Autoridade Palestina”, uma Zona B, com controle civil da Autoridade Palestina e controle militar do Estado de Israel, e uma Zona C, sob controle total de Israel.

Foram esses acordos que impulsionaram o crescimento do Hammas (criado há pouco tempo com apoio do governo de Israel e da ditadura egípcia de Mubarack), que recusava o acordo por causa do reconhecimento do Estado de Israel e a questão do controle de Jerusalém. Neste Acordo rifava-se pela primeira vez a bandeira histórica do “Direito de Retorno dos Refugiados”. O artigo a seguir explica esta situação e suas consequências.

Na Conferência de Annapolis, Bush, Olmert, Mahmoud Abbas e mais 40 governos, entre eles o governo Lula, tramam contra o povo palestino

Os poderosos se embriagam de seu próprio poder e creem que podem enganar todo mundo o tempo todo. Mas, a luta de classes é mais forte do que os mais fortes aparatos. Esta não é a primeira e não será a última tentativa de liquidar a resistência palestina. 

A Conferência promovida por Bush, em Annapolis, EUA, com a presença de Mahmoud Abbas e do primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert e mais 40 países, entre eles o Brasil, tem o objetivo de fachada de “… engajarmo-nos em negociações vigorosas e contínuas e faremos todo esforço para concluir um acordo antes do fim de 2008″, segundo Bush. O chefe da invasão do Afeganistão, do Iraque, do Haiti, etc., afirma que “as negociações devem se concentrar na criação de um Estado Palestino independente em coexistência pacífica com Israel”.

Não era exatamente a mesma cantoria de Bill Clinton, Isaac Rabin e Yasser Arafat quando assinaram os Acordos de Oslo, em 1993?!

O resultado de Oslo quatorze anos depois é doloroso. Milhões de palestinos continuam vivendo em campos de refugiados, o povo palestino vive agora cercado de “checkpoints” e de muros de oito metros de altura que dividem cidades e isolam famílias, em verdadeiros Bantustões sul-africanos. Mais de 60% da população vive na miséria total e são constantemente aterrorizados e assassinados pelas tropas de Israel.

Estes Acordos criaram a dita “Autoridade Palestina”, que só tem autoridade quando Israel consente, para controlar as massas palestinas e liquidar a Intifada que se iniciara em 1987. Seu resultado mais direto é hoje a guerra civil palestina iniciada pelo Hammas após as provocações de Mahmoud Abbas, do Fatah. O que Israel e o imperialismo nunca conseguiram fazer desde 1948 que era lançar um setor palestino contra outro, os Acordos de Oslo fizeram.

Quando as massas palestinas votaram majoritariamente no Hammas estavam se pronunciando contra os Acordos de Bill Clinton, Isaac Rabin e Yasser Arafat. Agora temos a farsa repetida por Bush, Olmert e Mahmoud Abbas. Só que desta vez tem um agravante. Mahmoud Abbas perdeu as eleições e não representa o povo palestino, mas apenas seu partido, o Fatah.  E o próprio Fatah está muito dividido. Em 2006, setores leais a Mahmoud Abbas enfrentaram nas ruas com armas na mão os setores do Fatah, em boa parte jovens ligados a Marwan Barguti, o líder da Intifada de 1987 e preso por Israel desde 2002. Ou seja, não há liderança palestina capaz de fazer valer os Acordos, quaisquer que sejam os que saiam destas conversações e, portanto, é claro que eles só servem para preparar um avanço da destruição da Palestina  e da diáspora de seu povo, tentar sufocar a revolta das massas árabes da região e reafirmar Israel como instrumento sionista do imperialismo na região. É o que Bush explica quando diz que “os regimes árabes devem demonstrar em palavras e ações que Israel tem um lugar permanente no Oriente Médio”.

Qualquer pessoa sensata sabe ser impossível a construção e convivência de um estado palestino ao lado de Israel. Os palestinos nunca aceitaram terem sido expulsos como animais de suas casas e terras. Existem 5 milhões de palestinos vivendo nos campos de refugiados do Oriente Médio desde 1948. O retorno destes refugiados e seu encontro com os 3,7 milhões que vivem em Cisjordânia e Gaza e com os 1,2 milhões de palestinos que vivem oficialmente em Israel, criaria uma bomba relógio de 10 milhões de combatentes irredutíveis.

Os sionistas são fascistas, racistas, mas não imbecis. E jamais permitirão que um estado palestino de verdade se constitua ao seu lado. O objetivo último de Israel é constituir o “Grande Israel”, do Tigre ao Eufrates, para sua própria proteção e isto exige a liquidação de toda resistência palestina.

E Mahmoud Abbas, como todos eles, sabem muito bem disso. Como estes Acordos só podem ser assinados pisando na resistência palestina e abrindo mão de todos os seus direitos Mahmoud Abbas começa exatamente por abandonar a reivindicação que é o coração da luta palestina, o Direito de Retorno dos 5 milhões de palestinos dos campos de refugiados.

Após o pronunciamento de Bush, Mahmoud Abbas disse que as negociações devem trazer “uma paz completa e justa que resulte no fim da ocupação israelense e as atividades de assentamentos, na libertação de prisioneiros e que ajude os palestinos a estabelecer a força da lei”. Ele disse que “os palestinos olham para um futuro sem pontos de checagem, prisões e muros e com Jerusalém como capital”.

E sobre o Direito de Retorno para milhões de expulsados de seus lares, nem uma palavra. Isto é muito significativo dos tempos ainda mais difíceis que vão viver os palestinos. Além das traições de seus principais dirigentes agora uma coalizão liderada pelo “democrático” imperialismo EUA vai se dedicar a puxar a corda em torno da luta palestina. Mal no Iraque, mal no Afeganistão, mal em casa, odiado pelas massas do mundo inteiro, o imperialismo EUA precisa de ajuda para correr o nó no pescoço palestino. E o governo Lula, como bom servo do capital internacional, entra nisto com tudo.

Segundo Celso Amorim, o chanceler brasileiro “Na fase atual, a participação por parte das nações emergentes representa mais ”um apoio moral”, ao processo de legitimação da conferência. Não temos ilusões de que as ideias que apresentarmos serão absorvidas de uma hora para a outra, mas o convite significa o desejo de obter mais legitimidade”. Todos sabem do que se trata, portanto. Mas o povo palestino vai recompor suas energias, suas organizações e suas lideranças.

A revolução socialista em toda a Palestina e no Oriente Médio é a única verdadeira solução para o sofrimento deste povo extraordinário assim como a única solução para que os judeus oprimidos e explorados de Israel possam se salvar da verdadeira catástrofe que as cúpulas sionistas e o imperialismo lhes reservam. Em determinados momentos estas cúpulas sionistas, racistas e sanguinárias, não hesitarão em massacrar ou deixar massacrar os próprios judeus, se isto for de seu interesse de classe e do imperialismo. Foi o que fizeram durante a década de 30, na Alemanha, concretizando acordos com o nazismo contra os próprios judeus, porque isso alimentava seu delírio de constituir um estado sionista na Palestina.

Mas, o vento revolucionário que varre o planeta também embala a resistência na Palestina. E um dia a revolução socialista no Oriente Médio abrirá um caminho de paz e de felicidade nesta terra árida banhada de sangue.