Quem duvidou dos bancários, teve que pagar pra ver!
Após 15 dias de greve, a maioria das assembléias de bancários por todo o país decidiu aceitar a proposta da FENABAN (Federação Nacional dos Bancos), bem como as propostas específicas para o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
De fato, os bancos acabaram cedendo frente à forte pressão exercida pelos trabalhadores do sistema financeiro nacional, que protagonizaram a maior greve em 20 anos, em número de agências fechadas (8.278).
A grande adesão dos trabalhadores forçou os banqueiros a voltarem para a mesa de negociação e mexeu com o governo federal e os mandatários do BB e CEF, que até então, estavam escondidos atrás dos bancos privados.
O BB e a CEF estavam bem quietinhos na mesa de negociação quando a FENABAN ofereceu 4,29% de reposição salarial, mas depois que viram suas agências e demais locais de trabalho fechados por todo o país, foram atrás dos bancos privados e das entidades sindicais em busca de um acordo.
Mas, enquanto BB e CEF não se mexiam, Itaú/Unibanco, Bradesco, Santander/Real e outros bancos privados usavam e abusavam de práticas anti-sindicais e de ações judiciais de interdito-proibitório para impedir o direito de greve dos trabalhadores. Mesmo assim, os bancários mantiveram também um grande número de agências fechadas.
A retomada das negociações ocorreu nesse cenário de greve forte, mas o Comando Nacional dos Bancários da Contraf/CUT acabou por orientar o fim da greve quando a proposta chegou a 7,5% de reajuste.
Na verdade, apesar da forte adesão na base, a direção do movimento estava preocupada com os supostos efeitos negativos da greve sobre a candidatura Dilma. Recusar 7,5% de reajuste significaria continuar a greve por mais tempo e pressionar ainda mais o governo Lula, que controla o BB e a CEF. Foi exatamente esse choque que os dirigentes sindicais quiseram evitar.
Mas, nas palavras de um companheiro do ex-Banco Nossa Caixa (atual BB): “Não há dúvida de que o reajuste maior foi arrancado pela luta da categoria. Parece que a disposição de luta poderia levar a um reajuste maior, mas a direção sindical está muito aquém da vontade e da disposição dos bancários”.
De fato, ao que parece, a greve dos bancários surpreendeu não somente o governo e os banqueiros, mas também a direção sindical. Em agosto, quando começou a campanha salarial, ninguém apostaria numa mobilização dessas em meio às eleições, mas perdeu quem pagou pra ver!
Claro que o reajuste maior foi uma vitória, mas com uma política correta, era possível buscar um desfecho ainda mais positivo para o movimento. No entanto, não adianta apenas reclamar ou proclamar uma política “salvadora”. É necessário construir essa alternativa a partir da experiência dos próprios bancários em luta.
E que política é essa? Na opinião dos marxistas, para avançarmos, seria necessário cobrar do governo Lula um papel mais protagonista do BB e da CEF na mesa de negociação, no sentido de atender as reivindicações dos bancários e colocar os bancos privados contra a parede. Na prática, isso acabou acontecendo, muito mais pelo calor do movimento do que pela orientação da direção.
Ao mesmo tempo, para sustentar uma greve que afeta milhões de clientes e usuários do sistema financeiro, é necessário explicar constantemente à população o papel parasitário dos bancos na sociedade: o quanto eles lucram em cima do povo, da economia e do Estado brasileiro. Explicar o quanto da riqueza produzida coletivamente pelos trabalhadores vai se concentrar nas mãos de uma ínfima minoria de agiotas e assim por diante, para ganhar a simpatia de milhões de brasileiros.
Por fim, num momento eleitoral como esse, o movimento sindical cutista dos bancários precisa ter uma posição firme: Dilma para presidente porque a vitória de Serra representa arrocho salarial, retirada de direitos, privatização e desemprego. Serra representa a vitória dos banqueiros.
Dilma presidente, trabalhadores no poder! Nenhum banqueiro, latifundiário ou patrão deve fazer parte do governo! Nenhuma raposa do PMDB ou de outro partido burguês deve receber de bandeja a direção do BB, da CEF ou qualquer empresa estatal! Dessa forma, abriremos caminho para a construção de um governo socialista dos trabalhadores!
* Rafael Prata é funcionário do Banco do Brasil e membro do Diretório Municipal do PT de Campinas.