O Wikileaks e o ativismo de Assange

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 15, de 17 de setembro de 2020. CONFIRA A EDIÇÃO COMPLETA.

“As formas dos Estados burgueses são extraordinariamente variadas, mas a sua essência é apenas uma: em última análise, todos estes Estados são, de uma maneira ou de outra, mas necessariamente, uma ditadura da burguesia” (Lenin, em O Estado e a Revolução).

Assange é um trabalhador de tecnologia, programador, que criou o site Wikileaks, onde são vazados documentos sigilosos dos governos e monopólios de todo o mundo. Assange encontrava neste tipo de ativismo algo para que pessoas pudessem ter acesso aos dados dos documentos disponibilizados, semelhante às ações de Aaron Swartz, ativista estadunidense que se suicidou após intensa perseguição e repressão do capital. O crime mortal de Swartz foi — vejam só — vazar estudos científicos sigilosos da universidade Massachusetts Institute of Technology (MIT), que ficam disponíveis apenas para quem pode pagar caro por eles.

O Wikileaks foi criado em 2006 com o objetivo de proteger fontes jornalísticas que precisavam de um site seguro para enviar dados confidenciais. No entanto, ficou conhecido mundialmente apenas em 2010, após o vazamento conhecido como Assassinato Colateral. Em um vídeo são mostradas imagens em que um helicóptero dos Estados Unidos mata um civil, expondo o que as forças armadas estadunidenses costumam fazer quando invadem países em defesa da abstrata democracia: aplicar esmagadora repressão não importando quem morre, garantindo assim a ditadura da burguesia mundialmente.

As notícias tiveram grande repercussão, pois as imagens foram veiculadas mundialmente, junto a outras imagens de tortura, como as que mostram uma criança de 6 anos sendo torturada com uma furadeira pelo exército iraquiano, que era comandado pelos Estados Unidos. A invasão do Iraque, que não seguia sequer as leis da burguesia mundial — representada pela Organização das Nações Unidas (ONU) —, somada a estes episódios de vazamentos, com vídeos, textos e áudios, escancararam a ação criminosa que os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) realizaram no Iraque e no Afeganistão, na ânsia de submeter povos inteiros ao capital.

Muitas fontes do Wikileaks são pessoas que trabalharam para o aparato de repressão dos Estados Unidos, como Edward Snowden,  que acabou traindo a National Security Agency (NSA), agência que o fazia espionar empresas e governos no mundo todo, supostamente para defender a segurança, enquanto na verdade defende o capital. Outra fonte revelada é Chelsea Manning, soldado do exército que ficou presa por espionagem durante sete anos por vazar 750 mil documentos sigilosos, tendo sido julgada por uma corte marcial.

As ideias de Julian Assange e a luta contra o Estado

Assange possuía um blog e era bastante ativo na internet, principalmente nas listas de discussão voltadas à criptografia. Ele gravou diversos vídeos de entrevistas e debates, além de publicar o livro Os Cypherpunks, sobre um grupo de reformistas que utilizam ferramentas de criptografia para segurança digital. Estão destacadas abaixo passagens da introdução deste livro, onde Assange explica como pensou a criação do Wikileaks, dizendo que a criptografia teria uma capacidade física universal de ser revolucionária por si só.

“O universo tem propriedades que tornam possíveis para um indivíduo ou um grupo de indivíduos de confiavelmente, automaticamente, mesmo sem saber, encriptar algo, e então todos os recursos e toda a vontade política dos mais poderosos super-poderes na Terra não podem decifrar a mensagem” (Julian Assange, em Os Cypherpunks).

 “Quanto mais secreta e injusta uma organização é, mais os vazamentos induzem a medo e paranóia em suas lideranças” (Julian Assange, em seu blog).

“O objetivo dos vazamentos não era a derrubada de governos, mas sua reforma radical por meio da exposição da corrupção que, de outra forma, seria escondida do público” (Julian Assange, “A informação nos libertará”).

Para Assange, quanto mais a criptografia fosse utilizada mais esses dados poderiam ser vazados. Assim haveria um equilíbrio de forças na luta entre indivíduos organizados e o Estado, que perderia seus quadros mais corruptos e criminosos para esses vazamentos, enquanto os Cypherpunks proveriam ferramentas para isso. Os estados não conseguiriam investigar pessoas, pois segundo ele a criptografia possui uma forma física que a torna praticamente impossível de ser quebrada pelos, garantindo o sucesso de indivíduos ou de grupos de indivíduos.

Por mais que as nossas ideias e práticas divirjam das de Assange, denunciamos o julgamento que está acontecendo como uma farsa jurídica, um ataque de perseguição e censura. O capital sabe que o Wikileaks desnuda o que é de fato o Estado no capitalismo: um aparato de dominação burguês sobre a classe proletária para manter a exploração da mais-valia. Sem o Estado burguês não há título de propriedade nem desapropriação pela força quando ocupada por pessoas sem registro ou faltando o pagamento do aluguel.

#LiberdadeparaAssange

#FreeAssange

Levy Sant’Anna, no Telegram https://t.me/l30nt, é trabalhador de tecnologia e militante da Esquerda Marxista. É membro dos Infoproletários e organiza o Comitê Fora Bolsonaro de trabalhadores de tecnologia.