Morreu um inimigo da classe trabalhadora, morreu Olavo de Carvalho. Assim como quando faleceu Bruno Covas (ex-prefeito de São Paulo) de câncer, nós dissemos:
“Nós choramos os nossos mortos. Não choramos os mortos da classe inimiga, dos capitalistas que oprimem e exploram a classe trabalhadora, pilham nossas riquezas e vivem como nababos, enquanto a classe que tudo produz, suando sangue, come o pão que o diabo amassou”.
Obviamente, em nada nos comove a morte de Olavo de Carvalho, este autoproclamado filósofo, ex-astrólogo, guru do bolsonarismo, charlatão negacionista e anticomunista.
Bolsonaro decretou luto oficial e lamentou publicamente a morte de Olavo, enquanto desprezou as mais de 624 mil mortes oficiais desde o início da pandemia. Vale lembrar as respostas de Bolsonaro quando perguntado sobre as mortes: “eu não sou coveiro, tá?” e “e daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”. Ao mesmo tempo em que agia contra as medidas de isolamento social e sabotando a vacinação no país. Tantas mortes evitáveis estão na conta do governo Bolsonaro e, também, de seu guru negacionista.
A influência direta de Olavo no reacionário governo Bolsonaro é evidente. Teve seguidores nomeados para ministérios importantes (Educação e Relações Exteriores) e, apesar de ter se distanciado de Bolsonaro no último período, ao mesmo tempo que este perdeu popularidade e se aproximou do “centrão”, seguiu influenciando o governo, com seguidores participando do chamado segundo escalão.
Sobre a pandemia, Olavo chegou a escrever em seu perfil no Twitter: “O medo de um suposto vírus mortífero não passa de historinha de terror para acovardar a população e fazê-la aceitar a escravidão […]”, isso em maio de 2020, poucos meses depois que a pandemia de coronavírus foi decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Nessas poucas palavras está muito de sua tática: usar uma teoria conspiratória com um pretenso discurso antissistema para defender os interesses do sistema. Afinal, negar a gravidade do vírus só ajudou os capitalistas a sabotarem as medidas de isolamento para garantir o funcionamento da economia.
Dezenove meses após aquelas e outras tantas palavras dele e de seus seguidores, o compartilhamento de informações e notícias falsas e a venda de livros recheados de teorias de conspiração – tudo isso negando a mortalidade do “vírus chinês” ou “vírus mocoronga” – e as 624 mil vítimas fatais oficialmente reconhecidas no Brasil e outras 5 milhões no restante do mundo pelo “suposto vírus mortífero”, Olavo de Carvalho é diagnosticado com Covid-19 no dia 16 de janeiro e em oito dias de internamento em um hospital nos Estados Unidos morre aos 74 anos de idade. Apesar de não ter sido divulgada oficialmente a causa da morte, obviamente, há relação com a Covid-19, aquilo que conjecturou não ser mortífero, entrando nas estatísticas das quais fez chacota.
Trata-se de um caso patético de alguém que nega o óbvio e acaba pagando com a vida a ignorância que sustentou. Assim como tantos outros negacionistas que morreram de Covid-19. Muito provavelmente, sustentará algum burburinho até tomar seu lugar de direito no completo esquecimento.
Não seria necessário gastar mais palavras para alguém que só se prestou a cumprir um completo desserviço à classe trabalhadora e à juventude, mas é preciso salientar o que não é escutado no burburinho de agora. E não estamos falando de relatar outras teorias de conspiração como a do “marxismo cultural”, em que o mundo atual, incluindo o próprio capitalismo1, estaria dominado pelo comunismo por meio das escolas, universidades e mídia, em um pretenso delírio quixotesco. Porém, a comparação que melhor se adequa a Olavo de Carvalho, definitivamente, não é com o errante e sonhador cavalheiro Dom Quixote de La Mancha da obra literária de Miguel de Cervantes Saavedra.
Estaria mais adequado assemelhar o autoproclamado filósofo a Grigori Rasputin (1896-1916), místico russo e, também, autoproclamado “homem santo”, que – assim como o guru do atual presidente brasileiro e de seus filhos – serviu de esteio e orientação à família Romanov nos derradeiros dias do Império Russo. Ambos souberam navegar pelos meandros da ignorância filosófica e religiosa das elites e de seus representantes políticos em meio às crises sistêmicas do capitalismo, para galgar influência, prestígio e poder; charlatões, no melhor emprego da palavra. Charlatanismo conveniente para o controle das massas pelas rédeas de monarcas ou da burguesia, pois as levam a acreditar na abnegação servil, com vistas a alcançar o paraíso divino, ou na meritocracia e no individualismo exacerbado; contraposições claras à consciência de classe e à necessidade de união coletiva e de ação concreta, propulsoras indeléveis da revolução proletária. Vez ou outra, esse charlatanismo encontra oportunistas capazes de tirar proveito da frágil posição de vantagem em que estão, até as contradições que sustentam encontrarem suas antípodas e, assim, promover a aniquilação, seja assassinado por seus opositores políticos ou por um “suposto vírus mortífero”. A estes Rasputins e Olavos, seu lugar perpétuo, a lixeira da história.
1 “O capitalismo é padrinho e protetor do comunismo. A guerra não é entre capitalismo e comunismo, é entre CRISTIANISMO e comunismo”, postagem de Olavo de Carvalho de 1º de dezembro de 2021 em seu perfil no Twitter.