Onda de greves abala o Irã

Desde o início de agosto, uma onda de greves se espalhou pelo Irã como um incêndio, envolvendo trabalhadores de vários setores, desde a indústria do petróleo até os serviços públicos; do Khuzistão, no sudoeste, a Mashhad, no nordeste.

As greves estão mais concentradas na província do Khuzistão, rica em petróleo, no sul, envolvendo as plantações de cana-de-açúcar Haft Tappeh, indústrias petroquímicas e trabalhadores em campos de petróleo e gás. Continuam a se espalhar, envolvendo (entre outras) pelo menos 46 usinas e empresas petroquímicas nacionalmente; trabalhadores ferroviários em Khorosan, Arak, Teerã, Karaj; e minas de carvão em Kerman.

Nos últimos anos, vimos ondas de movimentos de massa envolvendo greves, manifestações e, principalmente, uma revolta de cinco dias da juventude da classe trabalhadora, em novembro de 2019. Embora a revolta tenha sucumbido devido à repressão e à falta de liderança ou organização, a crise social que alimenta esse descontentamento violento na sociedade continua a se aprofundar. A inflação está disparando: e já era de 40% em 2019. A economia se contraiu 13,1% desde 2018 e espera-se que se contraia mais 6% até o final do ano. Os salários de muitos trabalhadores não foram pagos. Embora o salário-mínimo tenha aumentado 21% para 18,34 milhões de riais (US $ 113), isso foi rapidamente engolido pela inflação. Até o regime admite que, no final de 2020, 57 milhões de uma população total de 82 milhões serão empurrados para baixo da linha da pobreza.

A pandemia da COVID-19 piorou ainda mais a situação, com 14.405 mortes até julho relatadas pelo ministério da saúde. Mas, de acordo com dados do governo que vazaram para o mesmo período, são conhecidas 42.000 mortes de COVID-19. Os números reais são provavelmente muito mais altos, uma vez que os testes são muito limitados. A reviravolta completa da República Islâmica – desde negar a ameaça da pandemia ao fechamento do país em fevereiro, apenas para reabrir, temendo o colapso econômico – mostrou brutalmente a falência do regime.

O descontentamento ferve a fogo lento

Já na primavera, havia um número crescente de manifestações de trabalhadores e greves isoladas. Entre outros, as enfermeiras que lutam na linha de frente contra a pandemia realizaram manifestações consecutivas, desde março, em todo o Irã com relação a salários não pagos e contratos injustos. E, em 15 e 16 de julho, eclodiram manifestações políticas isoladas em Teerã, Isfahan e Behbahan contra a execução planejada de prisioneiros das manifestações de 2019, sendo prontamente reprimidas.

Mais proeminentemente, em 14 de junho, Haft Tappeh (a maior empresa de cana-de-açúcar do Irã, empregando mais de 4.000 pessoas) convocou uma nova greve. Durante anos, os trabalhadores da Haft Tappeh fizeram greves e protestos contra a privatização da empresa em 2015 e com relação a salários não pagos. Haft Tappeh passou por uma série de proprietários; que, sem exceção, desviaram dinheiro e saquearam a capacidade produtiva da empresa. Os slogans radicais dos trabalhadores em 2018, como “difundir por todo o país”, aterrorizaram o regime, que prendeu o principal líder da greve.

Na presente greve, os trabalhadores da Haft Tappeh exigem a libertação de seus companheiros presos, o pagamento integral de seu seguro saúde, a recontratação de todos os trabalhadores demitidos, a prisão de seu atual proprietário, Asad Beigi, e a renacionalização. Essas demandas foram completamente ignoradas e, no dia 29 de julho, Ebrahim Abbasi (um dos dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores na Cana-de-Açúcar de Haft Tappeh) ameaçou: “Se não pagarem nossos salários e o seguro não for renovado até esta noite, entraremos na segunda fase das greves. Juntos, nos unimos a mais trabalhadores para que nossa voz seja ouvida pelo mundo”.

Do Khuzistão a Mashhad

A classe trabalhadora já estava em um ponto de ruptura antes mesmo desta última onda de greves. A morte de Ebrahim Arabzade, por insolação, em uma unidade petroquímica em Mahshahr, no Khuzistão, deu início a uma greve em 2 de agosto. Isso se espalhou rapidamente pela indústria petroquímica e, em 9 de agosto, 46 fábricas em 20 cidades de 12 províncias diferentes aderiram à greve.

E a greve não se limitou a um setor. Em 2 de agosto, a Heptco (uma empresa de máquinas agrícolas em Arak) entrou em greve, com um histórico semelhante de privatização e peculato. Do setor petroquímico, as greves se espalharam por usinas de todo o país. Em 4 de agosto, a greve também atingiu os campos de petróleo e gás.

O regime está apavorado com uma repetição de 2018-19. Desde 15-16 de julho, as forças de “contra-insurgência” entraram em todos os principais centros urbanos. Ao mesmo tempo, o regime chegou a tentar apaziguar os trabalhadores de Haft Tappeh, enviando uma delegação parlamentar, e convidou o sindicato a se reunir com uma comissão parlamentar. Ao visitar Haft Tappeh, a delegação foi confrontada por um discurso de Ebrahim Abbasi, atacando o Estado por sua campanha de difamação e prisão de grevistas por acusações forjadas. Quando um trabalhador, Adel Sorkeh, regressou das reuniões com a comissão parlamentar, ele chegou à seguinte conclusão: “não temos confiança nos de cima, e não temos esperança em tais reuniões. Nossa única esperança é a força dos trabalhadores”.

Por uma greve geral revolucionária!

A República Islâmica é um disfarce para o apodrecido capitalismo iraniano, que nada tem a oferecer à classe trabalhadora, exceto promessas vazias e opressão. O regime já estava em um beco sem saída antes da pandemia. Desde a pandemia, ficou tão desesperada que, pela primeira vez em 60 anos, solicitou um empréstimo do FMI, que foi inevitavelmente bloqueado pelos EUA. Em 2019, o assassinato do general Soleimani foi uma tábua de salvação para sustentar a República Islâmica com base na resistência ao imperialismo americano, mas, agora, as massas realmente não têm mais nada a perder, exceto suas correntes.

A única barreira da luta de classes a ser ultrapassada é a falta de liderança e organização. Os próprios trabalhadores já estão organizando reuniões de greve, que devem ser expandidas através de comitês de greve em todos os setores. Uma vez mobilizado, o poder unificado da classe trabalhadora não pode ser detido por nenhuma força na terra; pois, nem uma roda gira, nem um telefone toca, nem uma lâmpada brilha sem a permissão da classe trabalhadora! Somente uma greve geral pode colocar a República Islâmica de joelhos, e somente a revolução socialista pode pôr fim à miséria do capitalismo iraniano.

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.

PUBLICADO EM MARXIST.COM