Artigo publicado na edição 90 do jornal Foice&Martelo, de 15 junho de 2016.
O Deputado Eduardo Bolsonaro (PSC) apresentou no dia 23 de maio um projeto que, dizem por aí, deixou seu pai orgulhoso. Ele pretende criminalizar, através do Projeto de Lei 5358/2016, considerando como um ato terrorista, a “fomentação ao embate de classes sociais” e o uso da foice e o martelo.
A justificativa do projeto só serve para expor o baixo nível dessa criatura que tenta defender um carrasco da ditadura, Coronel Ustra, no texto e ao fazer uma enorme confusão, proposital, usando argumentos do senso comum ao considerar o comunismo como uma ideologia responsável pela morte de milhares ao longo da história. Não é preciso gastar muitas linhas para combater esse PL que tenta associar, infantilmente, o comunismo ao nazismo.
No entanto, com esse debate aberto, torna-se interessante contar a história desse símbolo, a foice e o martelo, que representa a união do camponês ao operário urbano. Ao contrário do que alega Bolsonaro, o emblema do comunismo não está ligado à morte, e sim à vida, e nasceu no primeiro Estado operário da história, na Rússia Soviética.
A história do surgimento da foice e o martelo é relatada por Vladimir Bontch Bruévitch em “O Escudo Nacional Soviético”. Essa pequena crônica pode ser lida em “Relatos da Revolução de Outubro“, à venda na Livraria Marxista. Bruévitch foi militante do Partido Comunista da União Soviética, participou ativamente das revoluções de fevereiro e outubro de 1917, e desempenhou importantes papéis durante e após a Revolução Russa.
Bruévitch conta que os bolcheviques criaram o escudo do Estado soviético no início de 1918, pouco depois da tomada do poder pelos trabalhadores, e ele deveria distinguir-se radicalmente dos escudos dos Estados capitalistas. A proposta inicial foi apresentada pelo desenhador das oficinas tipográficas da Direção de Emblemas e Moedas do Estado.
Lenin estava em seu gabinete com Sverdlov, Dzerjinski, Bruévitch e outros bolcheviques quando o desenho foi apresentado pela primeira vez.
“Sobre um fundo vermelho brilhavam os raios de um Sol nascente, rodeado por um semicírculo de feixes de trigo em cujo interior se distinguiam claramente uma foice e um martelo, enquanto no escudo, cruzando-o de baixo para cima, campeava, dominante, como que num aviso para todos, uma afiada espada de aço de Damasco.”
“É interessante! – comentou Vladimir Ilich. – Tem conteúdo. Mas para quê essa espada?”
Lenin argumentou seriamente sobre o significado da espada. Para ele, o proletariado não se furta do combate e lutará até a sua vitória. Se utilizará da “espada” para expulsar seus inimigos, derrotá-los e assegurar a ditadura do proletariado. Mas a conquista é completamente estranha aos revolucionários. A guerra é defensiva e a espada não é o emblema que representa os Estado operário. Convencidos dos argumentos de Lenin, a retirada da espada foi aprovada e o escultor Andréiev fez a versão que hoje conhecemos como o emblema da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Antes da Revolução de Outubro a bandeira que representava a luta dos trabalhadores do mundo não possuía nenhum elemento além da cor vermelha. A Comuna de Paris a estabeleceu como bandeira oficial. Os partidos sociais democratas do mundo a utilizavam como sua bandeira. Porém, as particularidades da Revolução Russa foram responsáveis pela mudança que caracteriza hoje o símbolo do comunismo.
A única classe que pode levar à vitória uma revolução socialista é o proletariado urbano, principalmente o industrial, por conta de seus interesses e seu papel na produção. As pautas do campo não vão de encontro direto com a socialização da produção, mas se referem, principalmente, a uma redistribuição das propriedades. Além disso, o campesinato tende a ser atomizado, tendo sua organização política dificultada.
A Rússia era um dos países mais atrasados do mundo no ano em que estourou a revolução. A maioria esmagadora da população estava no ambiente rural. A revolução dirigida pela classe operária só poderia se realizar se o trabalhador do campo fosse ganho. A aliança operária e camponesa tornou-se uma necessidade concreta. Um dos momentos decisivos da revolução ocorreu durante o 2º Congresso dos Sovietes dos Deputados Trabalhadores e Soldados, quando foi aprovado o Decreto sobre a Terra redigido por Lenin. Nesse momento os camponeses foram ganhos para a revolução, pois bolcheviques haviam dado uma solução para as questões não resolvidas pelo Governo Provisório.
Desde então, a foice que representava o camponês e o martelo representando o operário foram colocados juntos para simbolizar a luta pelo fim da propriedade privada dos grandes meio de produção, pelo fim da exploração do homem pelo homem. O símbolo da igualdade e fraternidade entre os povos da terra. Os únicos que devem temer diante desse símbolo são os responsáveis por toda a miséria, fome, pelas guerras e tudo o que põe em risco a existência da própria humanidade: a burguesia e seus lacaios.