Foto: Roberto Parizotti

Os atos de 7 de setembro e a crise do reformismo 

Neste texto são analisados os atos chamados pela esquerda em defesa do Fora Bolsonaro. Para uma análise dos atos convocados por Jair Bolsonaro e seus apoiadores, leia este texto.

No dia 7 de setembro foram convocados atos em todo o país a favor e contra o governo Bolsonaro. Após os atos, constatou-se que as manifestações pró-governo foram maiores do que as contrárias a Bolsonaro, em especial no grande palco nacional de disputa, a cidade de São Paulo. Enquanto a manifestação do “Grito dos Excluídos” no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, reuniu por volta de 15 mil manifestantes, o ato bolsonarista ocupou 11 quarteirões da Avenida Paulista. Mas o que isso significa?

Sobre os atos da “esquerda”

Foram registrados 84 atos pelo Fora Bolsonaro no Brasil no dia 7 de setembro em 26 estados. Em contraposição, ocorreram 179 atos a favor do governo nos 27 estados da federação. Aqui nos ocuparemos centralmente sobre os contrários ao governo. Em outro artigo são analisados os atos bolsonaristas.

A Esquerda Marxista compôs atos em diferentes estados e capitais. O maior deles ocorreu no Vale do Anhangabaú, na cidade de São Paulo. O perfil dos atos foi de uma militância organizada, sindical e de movimentos sociais, sem grande adesão de uma base independente e massiva. Prevalecia o grito pelo “Fora Bolsonaro”, mas em uma perspectiva eleitoral. As falas nos caminhões de som, longe de encarar concretamente os problemas enfrentados hoje pela juventude e classe trabalhadora brasileira, colocam todas as ilusões no embate eleitoral de 2022 entre Lula e Bolsonaro. No máximo se falava na possibilidade do impeachment, uma saída que, apesar de apontar para a necessidade de retirada de Bolsonaro do governo, delega ao podre Congresso Nacional a solução para a crise das instituições.

Fato é, da convocação ao ato, o tom era de construção e consolidação de apoio a Lula em 2022. Era esse o único sentido das falas dos dirigentes pedindo “unidade”. Ou seja, unidade pela candidatura de Lula nas eleições do próximo ano. Unidade em defesa desta democracia, burguesa e diametralmente frontal aos interesses da classe trabalhadora.

Qual o significado dos atos contra Bolsonaro no 7 de setembro?

É preciso entender a razão destes atos de 7 de setembro contra o governo terem sido menores do que os que ocorreram em meses anteriores, ou mesmo menores do que atos que ocorreram em 2019, sendo que a popularidade de Bolsonaro hoje é muito menor do que há 2 anos e a rejeição muito maior.

Para analisar esta situação é preciso olhar para o papel das direções do movimento (PT, PCdoB, PSOL, CUT, UNE etc.) e sua política. A não adesão massiva de jovens e trabalhadores aos atos convocados é também um reflexo da falta de confiança da base nessas direções. E o fato é que apesar de convocarem, eles não mobilizam de fato suas bases.

Outro elemento para a baixa participação nos atos Fora Bolsonaro de 7/9  foi toda uma propaganda de medo de que haveria um caos  e enfrentamento físico com os bolsonaristas e que o melhor era não disputar com atos no mesmo dia. É um recuo inaceitável diante de um inimigo debilitado.

A verdade é que esta esquerda que aposta na conciliação de classes confia na democracia (burguesa) ou, dito de outra forma, confia nas instituições burguesas (STF, Congresso Nacional, Ministério Público, eleições etc.) e não tem nenhuma confiança na capacidade de luta de jovens e trabalhadores. O contraditório, em particular no caso do PT, é que são essas mesmas instituições que encarceraram Lula sem provas e que efetivaram o impeachment de Dilma. Ou seja, mesmo após sofrer tantos ataques, Lula e PT seguem fiéis serviçais da democracia burguesa. É por isso também que Lula, ao invés de convocar e participar dos atos, se resguarda para as eleições de 2022.

Esse sistema e essas instituições são as verdadeiras responsáveis pela miséria corrente da classe trabalhadora brasileira. Estamos no meio da maior crise do capitalismo, e sua solução não depende da vontade ou competência de indivíduos. Embora a maioria do povo brasileiro indique não aprovar o governo Bolsonaro, um setor significativo não confia no próprio sistema, mas também não foi para a rua ontem. O fato é que a maioria da classe trabalhadora brasileira não se viu representada e estimulada a participar de nenhuma das manifestações do 7 de setembro, fosse pela maior visibilidade dos atos em apoio ao governo, fosse por não confiar nas direções reformistas que não se colocam como um ponto de apoio para o avanço do movimento, fosse por temer confrontos físicos com os bolsonaristas.

Perspectivas

Existe um ódio crescente ao governo Bolsonaro, responsável direto por toda a tragédia que vive a classe trabalhadora. Se este ódio não se expressou com força nas ruas ontem, toda a responsabilidade é das direções do movimento, incapazes de apresentar a pauta política e os métodos de combate capazes de mobilizar as massas.

As direções deveriam estar organizando a greve geral da classe trabalhadora, para derrubar o governo Bolsonaro e oferecer uma saída real à crise do sistema.

Nossa militância participou dos atos distribuindo o Manifesto ABAIXO O GOVERNO BOLSONARO! POR UM GOVERNO DOS TRABALHADORES SEM PATRÕES NEM GENERAIS! Nele oferecemos uma plataforma de luta que é capaz de mobilizar o conjunto da classe trabalhadora a uma greve geral, para sairmos da crise no processo de enfrentamento do governo e do próprio sistema. Contudo, como vemos, não é esse o plano da CUT e do PT, que se preocupam em explicar aos trabalhadores em como administrar sua fome e miséria até as eleições de 2022. É preciso ter claro: as eleições de 2022, com vitória ou não de Lula, não mudarão nada de significativo na realidade da classe trabalhadora brasileira.

A partir do manifesto supracitado estamos formando Comitês de ação “Abaixo Bolsonaro já!” em todo o país, dialogando com aqueles que não aceitam esperar 2022 e que não confiam nesse sistema. Difundir essa iniciativa é central para criarmos uma alternativa real de luta contra esse sistema e pela construção da greve geral. Assine o manifesto, incorpore o comitê de sua região e seja parte desse movimento!