Os motivos pelos quais um militante da OCI renuncia ao seu posto na direção do Sindicato dos Metroviários de SP

Diante de graves posturas da direção majoritária do Sindicato dos Metroviários de São Paulo (Resistência/PSOL e PSTU), o diretor Felipe Carvalho, militante da OCI, renunciou ao seu posto na direção do sindicato e publicou para os trabalhadores da categoria a carta aberta abaixo.

Ele segue ativo na luta da categoria impulsionando junto a outros trabalhadores metroviários o movimento “Sindicato nos Trilhos” além de editar o boletim “Composição Comunista” em colaboração com militantes da OCI que trabalham na CPTM (empresa ferroviária irmã do Metrô em SP).

Prezados Metroviários,

Eu, Felipe F. Carvalho, venho por meio desta, formalizar a minha renúncia do posto de diretor de base do Sindicato dos Metroviários de SP da gestão 2022/2025, a partir desta data.

Comunico à categoria que esta decisão é resultado de diversas situações que considero inaceitáveis para uma gestão de uma entidade sindical e que tais ocorrências comprometem a integridade e a credibilidade da entidade.

Portanto, deixo claro a impossibilidade de permanecer em uma diretoria que é conivente com práticas de gangsterismo e para lutar contra isso atuarei na base categoria com movimentos e outras correntes que sejam oposição a esse tipo de sindicalismo e que queiram lutar pelos Metroviários.

Além disso, ao longo desse tempo que estive como diretor de base deste sindicato, observei várias práticas cometidas por essa gestão e a anterior, que julgo serem prejudiciais aos princípios de transparência, democracia e respeito aos direitos dos trabalhadores associados. Entre essas práticas, destaco:

  1. Falta de Democracia: Temos visto o avanço da burocratização do nosso sindicato, desde o início das assembleias online, presenciamos diversos momentos com perguntas mal formuladas propositalmente para induzir a categoria, ou mesmo, assembleias em horário incompatível com a possibilidade dos trabalhadores interessados exporem suas opiniões, debaterem e se pronunciarem com os mesmos direitos que a mesa diretora.

    A majoritária ou a própria presidência decidem de forma unilateral e antidemocrática, vetam falas da oposição e inclusive já fizeram acordos e tomaram decisões importantes pelas costas da categoria e da própria diretoria do sindicato, bem como a falta de consultas adequadas aos membros. Antes de tomar decisões cruciais é extremamente importante para a democracia operária, o debate de ideias.
  2. Coação: Há prática sistemática de coação contra membros que expressam opiniões divergentes, ou que questionam a majoritária e as decisões tomadas. Essa cultura de intimidação está crescente nessa gestão, de tal forma que chegamos a ter atitudes típicas de gangsterismo dentro do próprio grupo do whatsapp da diretoria, totalmente incompatível com os valores que um sindicato democrático deveria promover e até mesmo nas assembleias foi possível a categoria enxergar essa falta de democracia ou no fato de nem ouvir a base da categoria.
  3. Irregularidades: Identifiquei indícios de má administração e outras práticas deixando de repassar informações importantes, que deveriam ser passadas à categoria. Tenho convicção de que esses atos estão comprometendo a eficiência, a democracia operária e burocratizando a entidade ao ponto de termos decisões individuais de quem busca outras ambições, ao invés de coletivas que busquem os interesses comuns dos metroviários.

Essas questões comprometem a finalidade do sindicato e desrespeitam os direitos dos membros que acreditam na luta justa e transparente por melhores condições de trabalho e direitos.

Assim, além de renunciar de fazer parte desta direção, faço esta denúncia formal com caráter de alerta a toda a categoria e aos diretores que ainda prezam pela democracia operária dentro do nosso sindicato, para que as práticas mencionadas sejam devidamente debatidas e corrigidas se assim desejarem.

Deixo aqui um resumo das situações que presenciei, expus e critiquei durante o período dessa gestão:

Em setembro de 2022 após o metrô dar calote nos Steps da categoria, parte da diretoria do sindicato achava necessário uma mobilização devido a esse tema, ainda nem tínhamos assumido formalmente, pois a gestão só começaria em novembro, mas a linha da majoritária “chega de sufoco” (Resistência/PSOL) foi de não fazer nada pra não “prejudicar” a campanha para governador de Fernando Haddad. As minhas falas sempre levaram em consideração o sentimento da base que eu representava e nesse sentido veio a segunda traição, quando saiu o edital de terceirização da Via Permanente. Conseguimos convencer que deveria acontecer uma assembleia em torno desse tema, mas Camila e Fajardo, então coordenadores, não aceitaram fazer nenhuma mobilização.

Em janeiro de 2023, após reunião discutimos as pautas principais, campanha pelos Steps, periculosidade do CCO, PR (participação nos resultados) atrasadas de 2021/22/23 e concurso público. Parte da diretoria do “Chega de Sufoco” (Resistência/PSOL) estava com medo de fazer greve e queria encerrar a campanha e para isso criaram várias desculpas, dizendo que a base não estava mobilizada ou que pelo fato da assembleia estar vazia não daria pra fazer a greve, etc.

Após várias discordâncias e muita pressão nossa, o “Alternativa” decidiu dividir a posição da diretoria e foi a favor da greve em 22/03/2023. Eis que essa greve, com votação dividida, durou quase 2 dias e em todos os jornais da mídia burguesa saiu que nos 100 primeiros dias do governo Tarcísio o que pesou contra foi a greve dos Metroviários, mas a saída da greve foi precoce (numa votação com maioria de apenas 21 votos) e a categoria recebeu um valor muito menor do que o que era devido e tinha condições de conquistar se aguardasse para definirmos a continuidade da greve ao fim do dia e não às 8h enquanto muitos metroviários ainda estavam dormindo e não puderam votar.

Em junho de 2023, a diretoria demitiu uma funcionária puérpera, após retornar da licença maternidade, com a filha recém nascida na UTI. Fui atrás das informações, entrei em contato com essa funcionária e levei o caso à minha base, onde fizemos arrecadação para ajudar com os custos emergenciais da nenê. Depois propus à diretoria a readmissão da funcionária ou a extensão da estabilidade igualando-se à das metroviárias que é de 12 meses após a maternidade e a presidente Camila de forma irredutível não aceitou. Eis que foi necessário iniciarmos um abaixo-assinado que atingiu mais de 100 assinaturas em menos de 2 dias. Só assim, com muita pressão e de um grupo de mulheres que a diretoria aceitou ampliar a estabilidade, mas que pagaria como prêmio os outros 6 meses de que faltavam.

Na campanha salarial de 2023, também ficou registrado a incapacidade, o medo de lutar e a falta de transparência onde a Presidente, o Vice Presidente e o Secretário Geral foram em uma reunião para sugerir a proposta que o Metrô deveria fazer para que fechássemos a campanha, ou seja, uma proposta à qual nem a categoria e nem o restante da diretoria haviam sido informados.

Após essa campanha em que deixei claro a necessidade de mantermos a reivindicação principal que era o concurso público e pedi para que tomássemos aquela como uma campanha fundamental, o Metrô e o governo Tarcísio enxergaram uma fraqueza e iniciaram um ciclo muito maior de ataques e desmonte, demitindo um diretor do sindicato no dia seguinte ao fechamento da campanha, demitindo operadores cujas demissões haviam sido revertidas com luta e paralisação, novos editais de terceirização e a diretoria inerte.

Eis que a pressão por uma luta unificada iniciou e a ideia de um plebiscito para mobilizar foi aprovada, mas para algumas correntes aquilo era mera perfumaria pra dizerem que estavam lutando quando na verdade, nunca acreditaram que a luta pudesse trazer a vitória contra a privatização.

Mas, aqueles que acreditavam que aconteceria uma unidade da base se moblizaram para construir – foi o caso do Comitê de Luta contra a Privatização da CPTM, que criou um abaixo-assinado para que os seus sindicatos se unissem e fizessem assembleias em conjunto. Conseguimos que as assembleias fossem na mesma data, mas para as burocracias era ruim se fosse uma assembleia única, pois usaram o discurso de que o outro não queria fazer greve maior que 24h e por isso não podiam quebrar a unidade. Mentiras, pois já haviam anunciado para imprensa que seria uma paralisação de 24h antes de acontecerem as assembleias. Fui extremamente contra essa posição que golpeava a democracia operária.

Já em 2024 o governo e o Metrô perceberam mais fraqueza e decidiram passar o trator, extinguindo setores, demitindo em massa e criando cargos de confiança para pelegos desmobilizarem qualquer tipo de reação da base.

Nessas condições, cobrei uma postura mais firme e reações contundentes aos ataques sofridos pela categoria, mas a diretoria passava a colocar mais medo na categoria e fazia atos muito menores e sem força para mudar nada como o café com vizinho que já é desprezado pelo metrô, pois sabe que é só mais um blefe!

Por fim, alguns acontecimentos e a forma que foi tratada a ocorrência, onde um diretor ligado à corrente majoritária (CHEGA DE SUFOCO), a mesma corrente da presidente do sindicato, ameaçou e injuriou no grupo de whatsapp da diretoria um outro diretor.

Esse diretor que fez as ameaças ainda colocou um vídeo onde criminosos matavam um indivíduo, inclusive me citando e ao outro diretor, com o intuito de ameaçar e nos intimidar. Além de passar pano pra ocorrência, o grupo da presidente decidiu encobrir e omitir da categoria, algo que no meu entendimento abre brecha para novas ocorrências semelhantes ou piores. A direção do sindicato reunida não tomou nenhuma atitude contra o diretor que fez as ameaças, considerando que ele já havia pedido desculpas. (!!!)

Fica claro e evidente a impossibilidade de permanecer nessa diretoria, mas seguirei lutando na base, com o movimento Sindicato nos Trilhos e organizando o boletim Composição Comunista, que envolve metroviários e trabalhadores da CPTM!

Agradeço pela atenção e fico à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais, que se façam necessários.

Nossa luta é mais forte que qualquer burocracia sindical.