“O capitalismo – seja autoritário, seja liberal – admite a inabilidade em oferecer o mais leve alívio à miséria e ao sofrimento da juventude trabalhadora. Os jovens querem um trabalho e, quando (de vez em quando!) se dá um a eles, é apenas para melhor aprisioná-los a uma máquina que amanhã irá parar e então deixá-los famintos, apesar das muitas riquezas produzidas por eles. Os jovens querem trabalhar para produzir com suas mãos, para usar sua energia acumulada, mas o capitalismo oferece a eles a perspectiva do desemprego ou da ‘execução do trabalho em condições diferentes das condições normais de produção’, de acordo com a hipócrita e excelente definição de trabalho dada pela Liga das Nações, ou da produção de armamentos, que gera destruição e não melhorias. Os jovens querem aprender, mas o caminho da cultura é barrado para eles. Os jovens querem viver, mas o único futuro oferecido a eles é aquele de morrer de fome ou de apodrecer no arame farpado de uma nova guerra imperialista. Os jovens querem criar um mundo novo, mas a eles se permite apenas manter ou consolidar um mundo decadente que está caindo aos pedaços. Os jovens querem conhecer seu futuro, mas o capitalismo apenas responde a eles: ‘Hoje vocês têm de apertar mais os cintos, amanhã, veremos… Em qualquer caso, talvez você não venha a ter qualquer futuro’.”
(“Resolução Sobre a Juventude”, aprovada pela Conferência Internacional da Juventude da IV Internacional, realizada no dia 11 de setembro de 1940, em Paris)
Oitenta anos depois, essa resolução parece que foi escrita hoje, com a tinta ainda fresca no papel. A juventude de nossa geração enfrenta uma situação muito mais grave. A decomposição do capitalismo, que apenas começava a mostrar seu mau cheiro na Conferência Internacional da Juventude da IV Internacional, hoje apodrece o tecido social, barbariza os povos e brutaliza a nova geração.
O direito da juventude à felicidade e ao futuro nos é negado a cada passo. Todos os avanços técnicos e as forças produtivas do capitalismo são mobilizados pela burguesia para estupidificar a nova camada de trabalhadores. Para lançá-la na miséria, no desemprego e adoecê-la. A juventude da juventude está submetida à depressão, ao desespero e ao suicídio. Longe de ser natural, trata-se de uma enfermidade social e desnecessária historicamente.
Sufocamento no estreito ambiente familiar, sofrimento de incontáveis opressões e injustiças, alienação das habilidades cognitivas e físicas, bloqueio à instrução profissional, insegurança sobre o futuro, impedimento ao acesso de esportes, estádios, museus, bibliotecas, teatros e cinemas. Tudo somado à ausência de um horizonte histórico. Isso é que o capitalismo oferece à juventude.
“Só se pode chegar a ser comunista quando se enriquece a memória com o conhecimento de todas as riquezas criadas pela humanidade“, disse Lenin no Terceiro Congresso das Juventudes Comunistas, realizado em 1920. Para libertar o progresso da humanidade, a IV Internacional reivindicava em 1940 para a juventude acesso à cultura e à ciência, a todo o conhecimento acumulado pela humanidade. Essa continua a ser nossa bandeira hoje.
Trata-se, portanto, de pré-requisito para um mundo onde todos possam aprender sempre, onde o conhecimento teórico da humanidade possa ser aumentado diariamente. Não para ser colocado a serviço da guerra, do lucro ou do entorpecimento. Mas para libertar todas as correntes do pensamento e para o homem melhor subordinar as forças da natureza às suas necessidades.
Mais do que uma demanda moral, a questão diz respeito ao progresso histórico. O caráter humano de nossa espécie consiste na aparente contradição de sermos diferentes uns dos outros, e ao mesmo tempo existirmos em unidade com os demais. A isso que é chamado de espírito pelos religiosos, Marx e Engels conceberam como a essência humana, a matéria consciente de si, e a ideologia como sua manifestação.
A revolução libertará a humanidade para desenvolver plenamente seus sentidos de forma humana, não mais de forma egoísta e estreita. Essa revolução precisa, porém, ser realizada a partir desta sociedade em decomposição. Cabe ao proletariado e à sua juventude executar essa tarefa. Sua capacidade revolucionária está em essa própria classe se desenvolver mais do que as demais. Portanto, em vislumbrar e ansiar por esse futuro.
Fomos herdados com essas ideias e com a experiência da IV Internacional. Somos a geração encarregada pela história de superar os bloqueios impostos pelo capitalismo. Seremos os arquitetos do novo mundo. Por isso reivindicamos nosso direito ao futuro, à felicidade, ao conhecimento acumulado pela humanidade, a sermos plenamente humanos.
Parte de nossa luta, consiste, então, em nós próprios elevarmos nossa sensibilidade, ampliarmos nosso horizonte cultural e conquistar o conhecimento de todas as riquezas criadas por nossa espécie. Aqui apresentamos três listas para ajudar nesse sentido os novos militantes, indicando um caminho para começar com 10 indicações de literatura, 10 indicações de textos políticos e 10 indicações de filmes.
Este artigo é fruto do diálogo com vários camaradas estudantes, professores e veteranos da luta de classes. Este conteúdo também foi debatido na Célula de Secundaristas de São Paulo, e aprovado como resolução. As listas propostas, sua ordem e conteúdo são por essência transitórios. Isso porque resultam de reflexões coletivas sobre nossa época, a realidade que nossa geração e os desafios da luta de classes brasileira atual.
10 literaturas para começar:
- A Greve, Jack London
- Meu amigo pintor, Lígia Bojunga Nunes
- Guerra dentro da gente, Paulo Leminski
- O Velho e o Mar, Ernest Hemingway
- 10 Dias Que Abalaram o Mundo, John Reed
- Eu vi um novo mundo nascer, John Reed
- A Revolução dos Bichos, George Orwell
- Vidas Secas, Graciliano Ramos
- Quarto de Despejo, Carolina de Jesus
- A mãe, Máximo Gorki
10 textos políticos para começar:
- Princípios do Comunismo, Friedrich Engels
- ABC do Comunismo, Bukharin
- Karl Marx, Friedrich Engels
- Tarefas Revolucionárias da Juventude, Vladimir Lenin
- O Socialismo e as Igrejas, Rosa Luxemburgo
- Conheça Trotsky, Tariq Ali & Phil Evans
- As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo, Vladimir Lenin
- Brochura da Liberdade e Luta “Marx Estava Certo”
- “Resolução Sobre a Juventude”, Conferência Internacional da Juventude da IV Internacional, 1940
- Compêndio de escritos de Trotsky sobre juventude
10 filmes para começar:
- Terra e Liberdade (1995), Ken Loach
- Pão e Rosas (2000), Ken Loach
- Central do Brasil (1998), Walter Salles
- Batismo de Sangue (2006), Helvécio Ratton
- Cidade de Deus (2002), Fernando Meirelles
- A Culpa é do Fidel (2006), Julie Gavras
- A classe operária vai ao paraíso (1971), Elio Petri
- Adeus Lenin! (2003), Wolfgang Becker
- Persépolis (2007), Marjane Satrapi & Vincent Paronnaud
- Karl Marx (2017), Raoul Peck