A candidatura do PSOL para a prefeitura de SP cresce, principalmente entre os jovens da classe trabalhadora. Segundo o Datafolha (5/11), entre os jovens de 16 a 24 anos a intenção de voto em Boulos já alcança 29%, mais de um quarto do eleitorado, e segue aumentando.
Boulos é a melhor alternativa para a classe trabalhadora e para a juventude enfrentar os candidatos da burguesia no terreno eleitoral. E a disposição da juventude de votar no PSOL é um dos elementos políticos mais importantes e explosivos da atual situação. O setor da sociedade que abre as portas para as grandes explosões da luta de classes está dando seus sinais por meio das “eleições” no regime burguês, mas certamente não ficará restrito a esse limite institucional. Entre esses milhões que se colocam a questão sobre como resolver seus problemas no campo da política encontraremos diversos militantes com os quais construiremos a organização revolucionária.
Por outro lado, nos últimos dias, Boulos afirmou na Associação Comercial de SP que “não esperem de mim demonização da iniciativa privada” após, no mesmo evento, ter escutado de um dos membros da associação que “seu discurso é tão redondo, parece até candidato de direita”. Ele falava sobre a questão das OS(s), dando a entender que não faria uma reversão imediata da entrega dos serviços públicos a essas organizações que, mesmo que oficialmente sem fins lucrativos, são privadas e servem ao mercado e ao capital. Embora tenha tentado se defender, é fato que a burguesia capta com facilidade seu esforço conciliatório, sem no entanto cogitá-lo como alternativa. Trata-se mais de manter controle para o caso de um uso emergencial no futuro.
Por isso, Boulos argumenta diuturnamente que os Sem-Teto não “invadem” qualquer propriedade, mas apenas aquelas que pela lei atual já deveriam ter sido objeto de ação do Estado por não cumprirem a função social da propriedade, argumento com o qual chega a conquistar a simpatia de youtubers jovens de direita e outros influenciadores. Em resumo, segundo ele, o MTST aplica a legislação atual de garantia da “função social da propriedade privada” (e, portanto, lei que garante a manutenção da propriedade privada) melhor que os gestores burgueses que atualmente governam. Tenta mostrar que o movimento é inofensivo para o sistema. O absoluto inverso do que poderia levá-lo ao segundo turno.
Para quem o acompanha há algum tempo não há surpresa. É o mesmo que na campanha presidencial deixou claro no Roda Viva – sem ser perguntado – que não é contra a propriedade privada e que pretendia governar com os bancos, mas com os que queriam o desenvolvimento nacional (!).
Num momento em que a última trincheira da luta contra a reabertura total da economia é o combate contra a volta às aulas presenciais nas escolas públicas, tal assunto praticamente não existe na campanha do PSOL! Boulos deveria estar na linha de frente de tal combate com a consigna “Volta às aulas só com vacina”. No lugar disso, silêncio e imobilidade. Muito cuidado para não confrontar a classe média e a burguesia paulistana.
A questão é que o mundo todo vive um forte sentimento antissistema. É para se contrapor ao que existe hoje que os jovens começam a ver em Boulos uma saída no campo eleitoral. E quanto mais eles procuram, menos Boulos permite que encontrem.
Nós, da Esquerda Marxista, buscamos o mesmo que esses jovens: uma saída para esta crise. Buscamos a reorganização da classe trabalhadora com independência de classe, contra o sistema, buscamos uma saída para essa crise, que para nós só pode ocorrer por uma via revolucionária, começando com a derrubada do governo, com um governo dos trabalhadores, sem patrões e nem generais. Buscamos o mesmo que esses jovens e trabalhadores e, por isso mesmo, temos obrigatoriamente que estar junto com eles nesse combate.
As eleições expressam de maneira deformada a situação da luta de classes. Mas ainda que deformada, é sempre uma expressão dessa luta, da correlação de força entre as classes, do nível de organização e da clareza (ou a falta de) política de seus dirigentes.
As eleições na Bolívia que reconduziram o Movimento ao Socialismo (MAS) ao governo após um golpe de Estado organizado pelos EUA, o referendo no Chile pela revogação da constituição de Pinochet ou mesmo as eleições norte-americanas em que Trump viu seu apoio derreter após quatro anos de crise e deterioração da economia são provas disso. O voto é usado como arma, na falta de uma organização revolucionária que possa resolver definitivamente as questões nas ruas. E a unidade internacional da luta de classes obriga a que as eleições brasileiras sejam vistas neste contexto. As intenções de voto em Boulos são expressão do sentimento antissistema, ainda que o PSOL relute e não assuma uma postura antissistêmica. A roda da história é mais forte que os aparatos burocráticos e vemos um apoio eleitoral aumentar não em função da direção do partido, mas apesar dela.
As eleições não mudarão nada, apenas a luta pode trazer as mudanças. Na Bolívia, a eleição do MAS significa um rechaço ao golpe, porém o MAS é um governo de conciliação e logo se mostrará um obstáculo aos trabalhadores e exigirá um novo ciclo de luta de classes. No Chile, a anulação da constituição de Pinochet é um passo, mas uma constituição socialista só poderá ser fruto de um levante revolucionário. Nos EUA, a eleição de Biden não é um avanço, pois é apenas uma das frações do partido do capital. Em todos os casos, é preciso e falta uma organização revolucionária.
Nenhuma ilusão no regime burguês. Denunciamos a farsa do regime burguês e seu processo eleitoral, que apenas escolhe a cada quatro anos quem aplicará os planos do capital.
A Esquerda Marxista, em São Paulo, lança o camarada Prof. Pedro Bernardes 50800 como um candidato “Contra o sistema! Fora Bolsonaro!”, e no âmbito da eleição para prefeito chama a votar em Guilherme Boulos, do PSOL, a votar 50 contra os candidatos que sustentam o sistema e que são os responsáveis diretos pela tragédia que vive a classe trabalhadora. Mas deixamos clara nossa posição: O PSOL deve romper com o sistema se quiser ser o instrumento de luta dessa juventude e dos trabalhadores que confiam seu voto para derrotar os governos do capital.
O que dizem as pesquisas de opinião
As pesquisas dos Institutos da burguesia são perigosas para nós, pois são contraditórias. A burguesia precisa delas para orientar seus agentes, mas ao mesmo tempo pode utilizá-las para nos confundir. De qualquer maneira, dado que eles precisam de dados, ainda que estejam frequentemente distorcidas, se não refletem completamente a verdade, refletem em parte o que querem que se pense. Em ambos os casos, devemos analisar como um importante dado da realidade.
Boulos expressa entusiasmo e esperança de figurar como segundo colocado e estar no segundo turno das eleições para a Prefeitura de SP. Com isso, tenta elevar a moral da tropa do PSOL que faz uma campanha eleitoral num período bastante difícil de pandemia, quando as atividades presenciais exigem cuidados especiais e boa parte da propaganda se dá pela internet e pelas redes sociais.
Na última pesquisa do Datafolha, feita na primeira semana de novembro, Boulos está com 14% das intenções de voto, saindo de 10% quinze dias atrás. Covas (PSDB) tem 28%; Russomanno (Republicanos), 16%; Márcio França (PSB), 13%. No “segundo bloco” vem Jilmar Tatto, candidato do PT, com 6%; Arthur do Val – Mamãe Falei tem 4%; Joice Hasselmann e Andrea Matarazzo têm 3%; Levy Fidelix, Orlando Silva e Maria Helou têm 1% cada um. Levantamento foi feito entre os dias 3 e 4 de novembro.
Ainda mais recentemente, em pesquisa realizada pelo IBOPE entre os dias 7 e 8 de novembro, Russomano apresenta nova queda (12%). Boulos se manteve com 13% da pesquisa anterior realizada pela instituição, ultrapassando assim, pela primeira vez Russomano na pesquisa de intenções de voto para as eleições deste ano.
Em São Paulo, o partido mais tradicional da burguesia paulista e do atual prefeito, o PSDB, segue na dianteira das intenções de voto (28% no Datafolha e 32% na última pesquisa do Ibope).
Após, em plena campanha eleitoral, cimentar todo o Vale Anhangabaú e causar uma enorme enchente – é verdade, diga-se de passagem, que tal projeto vem do governo de Fernando Haddad, selando mais uma parceria “genial” entre PT e PSDB em mais um episódio criminoso – Bruno Covas consegue ainda figurar na frente das pesquisas. Durante uma pandemia, esse elemento não só negligenciou completamente a necessidade de um lockdown, como reabriu a economia expondo ao risco de vida a massa da população, negou-se a proteger os servidores em diversos ramos, extinguiu serviços de amparo e assistência social básica, terceirizou, precarizou, cortou investimentos, fez intensa campanha pelo retorno às aulas presenciais na rede pública, colocando em risco a vida dos funcionários, professores, estudantes e suas famílias. Só em São Paulo são quase 40 mil mortos pela Covid. Em suma, é o responsável por parte considerável da situação trágica em que vive a classe trabalhadora na cidade.
Porém, diante da ausência de uma candidatura com enraizamento na classe trabalhadora, nas periferias da cidade, com vínculos concretos com o movimento operário, estudantil e popular, a burguesia e pequena-burguesia conseguem, agrupando-se em torno de seu representante mais leal e experimentado, manter o domínio eleitoral. Enquanto não houver uma alternativa concreta de ruptura, a burguesia encontrará meios de manter-se, ora com seu representante preferido, ora com um representante de ocasião.
Em segundo lugar esteve durante semanas Celso Russomano, Deputado Federal, apresentador de TV, suposto jornalista e advogado do direito do consumidor. Boulos, numa boa tirada, o chama de “cavalo paraguaio”, o conhecido corredor que passa a corrida toda na frente, mas se cansa antes de chegar à reta final e acaba sempre decepcionando. Boulos disse isso antes da primeira pesquisa do Datafolha que após demonstração de apoio do presidente Jair Bolsonaro mostrou Russomano em primeiro, com 27% das intenções de voto, o que gerou receio nos que repetiam sua piada. Mas parece que Boulos acertou em alguma coisa, agora com a queda vertiginosa nessa reta final de campanha por parte de Russomano. Ele segue caindo semana após semana e mesmo o site da Veja e outros grandes veículos de informação da burguesia avaliam que pode nem chegar ao segundo turno. Por outro lado, os mesmos noticiam que Covas prefere enfrentar Boulos do que Russomano no segundo turno. Com isso, fica difícil saber se avaliam ser possível ou se na verdade querem uma disputa entre Covas e Boulos. Em ambos os casos, fica claro que a grande burguesia em São Paulo quer o PSDB no governo e trabalha para isso.
Além disso, é essencial destacar que o apoio do presidente Bolsonaro, se num primeiro momento levou a que Russomano aparecesse melhor colocado nas pesquisas por ter ativado a base de apoio bolsonarista mais convicta, num segundo momento gerou cada vez maior rejeição e abandono do candidato na classe trabalhadora. O descontentamento com o governo, o grito de “Fora Bolsonaro” que segue latente nas massas é que mais destruiu do que desenvolveu essa candidatura. A derrota de Trump também pode cumprir certo papel nesse derretimento.
Boulos, por sua vez, se não cresce, mantém uma taxa de intenções de voto regular semana a semana, que pode o colocar no segundo turno das eleições municipais. Nos dados de pesquisa espontânea, ou seja, quando a pessoa entrevistada responde de memória, sem que sejam lidos ou mostrados os nomes dos candidatos, ele chegou a figurar em primeiro lugar em semanas anteriores. Na pesquisa estimulada, porém, segue com 13% segundo o Ibope e 14% segundo o Datafolha.
Atrás dele está Márcio França, colega de partido de Erundina até 2016, do PSB, e ex-vice-governador do Estado na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), agora com 13% (Datafolha) e na última pesquisa do Ibope, até a publicação desse artigo, caiu de 11 para 10%.
O PT, que por tantos anos foi o principal rival do PSDB no município e que já governou a cidade em três oportunidades, após crescer bastante e sextuplicar as intenções de voto, alcançou míseros 6% na referida pesquisa, demonstrando um enfraquecimento e desgaste enorme do partido, fruto das últimas décadas de traições.
Por fim, candidaturas de Joice ou o Arthur Mamãe Falei não decolam, porque colar-se ao discurso ultra-direitista que elegeu Bolsonaro não cola mais. Na outra asa, os ultra-esquerdistas como o PSTU seguem incapazes de se fazer ouvir, isolados e sectários em sua auto-proclamação. Não basta gritar um programa revolucionário e esperar que as massas venham até nós. É preciso lutar no campo de batalha em que os jovens e trabalhadores mais avançados se encontram neste momento e, durante a batalha, ombro a ombro, explicar pacientemente. Hoje, eles buscam se apoiar na candidatura do PSOL em SP.
O que significam os números?
Grande parte da “esquerda” seguirá usando tais dados para repetir seu chavão de que o “paulistano” é conservador. O próprio Boulos repete em diversas ocasiões que devemos “enfrentar o conservadorismo”. Mas com exceção dos jovens com menos de 26 anos, temos o mesmo eleitorado que oito anos atrás elegeu Haddad, e devemos lembrar que parte desse eleitorado cerca de duas décadas atrás elegeu Marta Suplicy e cerca de 30 anos atrás elegeu Erundina, vice na sua chapa. A cada 10 anos esse paulistano conservador deu pelo menos uma chance à “esquerda”.
A verdade é que o paulistano é que precisa enfrentar o conservadorismo dessa esquerda. Afinal, Erundina como prefeita não aplicou um programa socialista e, pintada agora como o modelo de militante histórica da esquerda, após o impeachment de Collor aceitou ser ministra de Itamar Franco, mesmo com a posição pública – embora cínica, pois não só consentiu como operou para que Itamar assumisse sem novas eleições e sem disputa – do PT de fazer oposição ao governo, sendo suspensa. Em 1998 saiu do partido e foi para o Partido Socialista Brasileiro, um partido burguês que de socialista só tem nome. Lá passou por apoios a Ciro Gomes, Marina Silva, Antony Garotinho e outros nomes menores no grande rol de demagogos da burguesia e pequena-burguesia e traidores da classe trabalhadora.
Como esperar tal “coerência” do trabalhador paulistano no processo eleitoral se, contra Doria, organizações diversas e mesmo algumas correntes internas do PSOL chamaram voto no Márcio França em 2018? Aliás, o Resistência, para ficar num único exemplo elucidativo, agora precisou publicar em seu próprio site um artigo explicando que “Márcio França é de direita”. E o trabalhador paulistano é que “não sabe” votar?
Ao mesmo tempo em que vemos claramente que colar-se à imagem de Bolsonaro fez Russomano cair, Boulos e o PSOL abandonam completamente a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”, quando é justamente a repulsa ao governo que faz o adversário cair e seu próprio apoio aumentar. Como explicar tal paradoxo? Apenas se pode explicar entendendo que, a queda do governo pelas mãos do proletariado nas ruas abalaria fortemente as estruturas e as instituições burguesas, abalaria o sistema. A atual direção do PSOL, defensora da democracia burguesa, não vê nisso vitória. São seus dirigentes e principais parlamentares que após a queda de Trump publicam notas e memes que indicam que Bolsonaro terá o mesmo destino – a derrota eleitoral – em 2022. Mas isso quer dizer que, se dependermos deles, devemos esperar até 2022 para derrotar Bolsonaro nas regras do próprio jogo burguês?
Aqui mora nosso problema e também daqui depreendemos nossa tarefa.
Boulos, o PSOL e a situação do PT
Em 2015, com o intuito de analisar o papel que vinha assumindo o MTST no cenário político nacional, acabamos por ter que analisar o papel de Boulos e seu significado político. Assim explicamos:
“Desde as jornadas de junho de 2013, a situação política brasileira mudou e abriu-se uma nova etapa. Milhões saíram às ruas, primeiro em luta por redução em preços das passagens de ônibus, mas rapidamente por outras diversas reivindicações. Grande parte da juventude descobria, pela primeira vez, o sabor de tomar as ruas e discutir política. De forma muito confusa, a juventude levantou a cabeça e decidiu lutar.
(…)
A juventude que só conhece o PT do governo, e que se conhece seu passado de lutas é pelos livros de história e relatos dos mais velhos, lutou contra ele como luta contra qualquer outro governo. Depois que os jovens foram para casa, o ano de 2014 trouxe consigo importantes movimentos grevistas, que vêm até hoje mostrando a crescente disposição de luta dos trabalhadores. Em muitas ocasiões, as bases estão atropelando as direções sindicais burocráticas e impondo greves em assembleias massivas.
Diante da grande mudança no estado de ânimo do povo e seu cada vez maior descontentamento com o governo federal dirigido pelo PT, o Partido dos Trabalhadores viu sua autoridade frente aos movimentos sociais afundar. Com isso, a burguesia levantou a cabeça. Desde então, sem encarar o PT como um instrumento de resistência do povo, ela vem lançando ataque após ataque.
Com a ruptura cada vez mais acelerada com as direções tradicionais dos trabalhadores, movimentos que não se identificam claramente com os mais conhecidos líderes petistas e que não estão alinhados com o governo federal, ganham evidência. Atualmente, um dos principais deles é certamente o MTST, do qual o líder, Guilherme Boulos, assumiu um papel destacado no cenário político nacional.
As maiores manifestações de rua promovidas por organizações dos trabalhadores e movimentos sociais no último período tiveram importante contribuição do MTST. Nas manifestações, Boulos fala diretamente a dezenas de milhares de pessoas e suas posições reverberam em grande parte do movimento dos trabalhadores. Pela internet, são muitas as entrevistas e artigos de sua autoria ou sobre suas declarações. O site da UOL, ligado à Folha de São Paulo, reserva-lhe uma coluna regular. Grande parte dos jovens que saíram em 2013 às ruas para lutar por suas reivindicações e não encontraram amparo nas organizações tradicionais da classe trabalhadora brasileira viram e veem neste movimento um ponto de apoio independente.”
Boulos, durante os últimos anos, vendo o destaque assumido, decidiu-se a converter tal popularidade em base para tentar eleger-se primeiro nas eleições presidenciais – quando obteve o pior resultado da história do PSOL – e agora para a Prefeitura de SP.
Tendo construído sua imagem como de aparente combate aos governos do PT, criticando pela esquerda e entrando em acordo pela direita, Boulos buscou o PSOL. Esse último, por sua vez, sem uma base operária como sempre teve o PT, buscava de todas as formas um caminho para “as massas”. Diferente do caminho da luta do proletariado organizado contra a burguesia, a direção do PSOL buscou o atalho da coligação PSOL-MTST. Mas a conexão de um partido com a classe trabalhadora não permite atalhos. Não se pode substituir o enraizamento no movimento sindical – de caráter classista – e no movimento estudantil – de onde se extraem sempre quadros essenciais – por uma aliança eleitoral com o movimento dos sem-teto, onde uma base policlassista cria contradições complexas e enorme fragilidade política diante dos grandes desafios que o partido enfrenta na luta de classes atual.
O próprio MTST perdeu grande parte de sua força de massas. A crise e a impossibilidade de arrancar do Estado, sem romper com o capital, concessões em políticas habitacionais não permite que esse movimento siga sendo o que foi. Grande parte de sua “vida” era justamente devida ao governo de conciliação.
O PT, após 13 anos de governo federal atacando a classe trabalhadora e governando com o capital financeiro, dando aos banqueiros recordes atrás de recordes de lucros, tendo aplicado reformas como a da previdência de 2003 a privatizações e “concessões diversas (incluindo o Pré-sal), após Dilma ser eleita com um último voto do trabalhador brasileiro para evitar a volta do PSDB e a própria aplicar o programa político do inimigo derrotado nas urnas, não se pode admirar que a votação em seus candidatos às principais prefeituras sejam desastrosas.
Em São Paulo, centro econômico e político do país não seria diferente. Pelo contrário, é um dos quadros mais claros de esvaziamento. E Boulos, que em 2018 fez tudo o que podia para ser o candidato mais próximo de Lula, agora vive a contradição de ser uma alternativa justamente porque é visto como a única alternativa possível à esquerda do PT.
Nesse contexto, muitos são os que pressionam para que o PT abandone sua candidatura para apoiar Boulos, mais um reflexo do tão difundido ideário de unidade da esquerda, sem qualquer base programática que ampare tal debate.
O argumento bastante usado de que o PT escolheu um candidato inexpressivo propositadamente (uns dizem que para dar espaço ao Boulos e outros para resguardar as figuras de maior renome do rechaço eleitoral) e que isso causa a baixa intenção de voto ignora o histórico de golpes do partido contra sua própria base e não leva em conta que Jilmar Tatto é um antigo burocrata bastante experiente e que, tanto seu grupo quanto as demais correntes internas do PT se utilizam da candidatura para disputar espaço e o aparelho partidário.
A baixa intenção de voto no PT é fruto da experiência da classe trabalhadora com seus governos. Qualquer outra explicação subestima o processo subterrâneo que ocorre na consciência da classe trabalhadora nas últimas décadas e, principalmente, após 2013.
Lula deixou claro que o PT só apoiará Boulos num possível segundo turno. Dessa forma, busca guardar posição para recompor-se num futuro pleito, para o que não vale a pena ser ofuscado por uma liderança nova. Em São Paulo é possível e necessário para ele. Mas em muitos lugares PSOL e PT estão coligados. Sem entender corretamente o que move o eleitorado jovem em direção a suas candidaturas e sem romper com a conciliação de classes, o PSOL segue coligando-se não apenas com PT, mas com partidos da burguesia (PSB, Rede, PDT etc).
Em São Paulo, uma candidatura própria e em separado do PT mostra o potencial que teria como ferramenta da classe trabalhadora e da juventude se sua direção adotasse uma linha de ruptura com o sistema.
O segundo turno. Voto útil ou voto de classe
Temos três cenários possíveis. O mais otimista, supondo um avanço da campanha de Boulos na classe trabalhadora, levando-o ao segundo turno contra Bruno Covas, o que colocaria a questão de forma mais simples. Boulos é o candidato da classe trabalhadora e a “esquerda”, de forma geral, se agruparia em torno de seu nome. Se a palavra de Lula valer – e sabemos que não se pode cotá-la em cifras altas – o próprio PT deverá apoiá-lo.
Mas outros dois cenários são possíveis. O primeiro, que ainda é o que mostra a fotografia das intenções de voto do dia 4, seria um segundo turno com Covas e Russomano. Neste caso, a postura ultra-reacionária de Russomano não permite espaço para tergiversações dos reformistas quanto à sua figura. Mas, se Russomano demonstrar alguma chance de avançar nas pesquisas do segundo turno, há um perigo real de parte da dita “esquerda” discutir e mesmo decidir pelo liberal engomado Bruno Covas para impedir a ascensão do “fascista” e bolsonarista Russomano. Dada a alta rejeição e a tendência de queda de Russomano nas pesquisas, consideramos a possibilidade de Russomano liderar no segundo turno como remota.
A outra possibilidade, que ganha força, é a candidatura de Márcio França alcançar a segunda posição, levando-o a um segundo turno com Covas. Neste caso, o perigo da confusão na esquerda é mais iminente.
Nas eleições para o governo do Estado de São Paulo em 2018, uma parte considerável da “esquerda” defendeu – aberta ou veladamente – o voto em Márcio França (PSB) para derrotar Doria (PSDB), que à época colou sua imagem à de Bolsonaro criando o BolsoDoria. Segundo parte destes, tratava-se de combater o avanço do fascismo no Estado. Diante de tal ameaça, seria “útil” votar mesmo num candidato burguês.
Entre eles estavam correntes como o Resistência, de Valério Arcary, que neste dia 4 postou em sua página no Facebook um texto em que explica que nos EUA, diante do risco do bonapartismo de Trump – que “não é um blefe” – seria possível o voto em Biden. Sim, em Biden, do Partido Democrata, ex-vice de Obama que bombardeou a Síria e promoveu a guerra em tantos cantos do mundo, além de tantas e tamanhas atrocidades contra a classe trabalhadora estadunidense, latino-americana e do mundo inteiro. Outras correntes do PSOL, como o MES de Luciana Genro, ou parlamentares como Marcelo Freixo também comemoram a vitória de Biden. Boulos anda na mesma linha. Um equívoco sem tamanho.
Nessas eleições, Valério Arcary precisou correr para explicar que, apesar de terem chamado voto em França dois anos antes, ninguém deve pensar que ele é de esquerda. Talvez nos aliviássemos por saber que não pensam isso, mas sabemos que a chance de repetirem o erro se apresenta logo após o dia 16 e preferimos esperar. Também poderíamos nos aliviar se nos esquecêssemos que o PSOL está aliado com o PSB, partido de Márcio França, em muitas cidades do Brasil e que essa mesma corrente, junto com quase todas as outras, defenderam com unhas e dentes o aliancismo eleitoral com diversos inimigos para enfrentar o “conservadorismo”.
Não existe capitalista bonzinho. Não existe capitalismo “menos ruim”. Em certos momentos o capital precisa de violência explícita, declarada, aberta, para garantir o lucro. Em outros precisa de diplomacia e conciliação de classes para o mesmo objetivo. Em ambos os casos, o cerne do problema não é o método usado – embora isso tenha, obviamente, suas consequências – mas o fim: o lucro. Para a produção do lucro é necessária a exploração e a opressão, sempre. O problema é o modo de produção baseado no lucro, na extração da mais-valia, em todas as suas variáveis. Por vezes, o mesmo governante do capital que se mostra dócil agora será violento se uma crise lhe exigir mais à frente.
“Fascismo”, bonapartismo e o oportunismo eleitoral
Não vivemos num governo fascista. A Esquerda Marxista já explicou o caráter bonapartista do governo Bolsonaro.
Mas ainda que vivêssemos, nem mesmo o fascismo justificaria tal malabarismo teórico e político.
Trotsky e os revolucionários de seu tempo nunca combateram o fascismo defendendo democracia, mas sempre defendendo socialismo.
Nas eleições participamos para divulgar nosso programa, para construir nossa organização, para denunciar a farsa da democracia burguesa, para denunciar o sistema, para contar nossas forças.
Em que alcançamos qualquer destes objetivos defendendo o voto em Márcio França ou em Mário Covas?
Covas na cidade de São Paulo e Márcio França como vice-governador aplicaram que política senão a de privatizações, de destruição de serviços públicos, de pagamento da dívida pública, de violência e repressão contra os movimentos sociais, contra os trabalhadores, os pobres e negros das periferias etc? Que política senão a mesmíssima política de Paulo Guedes e Bolsonaro?
A Esquerda Marxista, num eventual segundo turno de Covas contra França ou Russomano, chamará a votar nulo. Nenhum voto na burguesia, nenhum voto no inimigo de classe. O mesmo fizeram nossos camaradas da seção estadunidense da Corrente Marxista Internacional que entre Biden e Trump mantiveram sua independência de classe e não cederam ao chamado voto no burguês menos pior.
Nem mesmo quando Sanders se propunha candidato pelo Partido Democrata apoiávamos o movimento que se reunia em torno dele para defender saúde pública, para defender direitos para os trabalhadores. Mas nunca se poderia chamar a votar no Partido Democrata. Para Sanders merecer o voto do trabalhador, deveria romper com os democratas. Nos EUA, nossos camaradas agitam a bandeira de luta por um Partido Socialista de massas como alternativa aos dois países do capital.
Que caminho o PSOL deveria seguir?
O PSOL precisa conectar-se com o imenso mal-estar que vive a classe trabalhadora em SP, tal qual em todo o Brasil. No lugar de disputar os espaços com a burguesia e a pequena-burguesia.
É nas amplas massas trabalhadoras insatisfeitas e que têm ódio das instituições que reside a energia que poderia converter o PSOL numa verdadeira ferramenta de transformação.
Para se conectar com esse sentimento é preciso radicalizar completamente o discurso. Durante a pandemia, quando os alugueis se tornaram um peso insustentável para milhões de pessoas, a expropriação dos imóveis fechados, a anistia das dívidas, a criação de programas públicos de aluguel social, tornam-se medidas mais que urgentes. Mas elas precisam estar associadas a uma luta pela expropriação dos imóveis residenciais nas mãos das empresas, da especulação. Não pode haver casas fechadas onde há moradores de rua, nem por mais um dia! Não se pode esperar prazos da lei burguesa.
É preciso romper com o sistema da dívida pública, com a responsabilidade fiscal que coloca os interesses dos credores do mercado financeiro antes dos interesses da classe trabalhadora. É preciso romper com a terceirização, a concessão para as OSs, usar todo o dinheiro público para serviços públicos para suprir as necessidades dos trabalhadores. Transporte, saúde e educação públicos, gratuitos e para todos.
É preciso garantir que as aulas só retornarão após vacinas e que a prefeitura construirá junto com os sindicatos e trabalhadores da educação, bem como com as organizações da classe trabalhadora as alternativas paliativas durante esse período, sem cair no modelo de sobre-exploração de professores e massacre psicológico contra trabalhadores e estudantes das atuais atividades remotas.
Mas se fizer isso Boulos não será o “bonzinho” que só ocupa os imóveis que o Estado já deveria ter desapropriado. Se romper com o pagamento da dívida que só beneficia banqueiros e especuladores não poderá ser o mesmo Boulos que disse dois anos atrás que pretendia governar com os bancos, desde que investissem no desenvolvimento do Brasil. Se expropriar os imóveis que hoje a burguesia utiliza para especular ele não poderá ser o mesmo Boulos que não quer “demonizar a iniciativa privada”.
As abstenções devem ser altas esse ano, devido a pandemia. É preciso um motivo forte para uma boa parte da juventude e da classe trabalhadora mais esclarecida sair de casa em pleno domingo, muitas vezes o único dia em que, além do descanso, as pessoas estão mais protegidas do vírus. É preciso que o candidato mereça o voto, apontando um caminho para a luta.
Em suma, Boulos precisaria ser o candidato contra a sistema, o candidato do Fora Bolsonaro, o candidato da revolução socialista!
Essa é a linha da candidatura Prof. Pedro Bernardes 50800 para vereador em SP. Para batalhar para que o PSOL assuma este programa de ruptura com a burguesia que chamamos todos a votarem em Guilherme Boulos 50, do PSOL, para prefeito de SP.