Paraisópolis Foto: Vilar Rodrigo

Paraisópolis, o Estado e as instituições racistas

Paraisópolis é uma favela de São Paulo onde moram quase 100 mil pessoas e fica ao lado do Morumbi, bairro nobre na zona oeste da cidade. Nela existem cerca de oito mil estabelecimentos comerciais, a maioria pertencente a moradores, sendo que cerca de 21% dos habitantes trabalham dentro da própria favela, segundo a associação de moradores.

Como a maioria das favelas e bairros populares, Paraisópolis compartilha de problemas comuns em todo Brasil, como os altos índices de pobreza extrema, violência, falta de saneamento básico, de infraestrutura, serviços públicos como saúde, educação, esporte, cultura, lazer.

Entra prefeito, sai prefeito, e as obras de urbanização que estão paradas há anos não avançam. A construção de moradias sociais não sai do papel. Cerca de 5 mil famílias vivem de bolsa-aluguel pago pela prefeitura.

Confinados em ruelas, a população majoritariamente negra luta diariamente para sobreviver enfrentando todos os preconceitos. Um grande número de projetos sociais são desenvolvidos na favela com o objetivo de melhorar a vida da população.

O “Baile da 17”, pancadão onde nove jovens morreram pisoteados, começou no início da década em Paraisópolis. A festa ocorre semanalmente e reúne em torno de 5 mil pessoas ao som de muito funk.

É um dos fluxos mais famosos do Brasil. Já chegou a reunir cerca de 30 mil pessoas nas vielas de Paraisópolis. Semanalmente, o baile que se concentra em quatro ruas da favela recebe excursões de jovens de cidades do interior de São Paulo e até de outros Estados, como o Rio de Janeiro.

A Polícia Militar, que é um aparato repressivo do Estado, encurralou os jovens que participavam da festa, os atacou com bombas de efeito moral, balas de borracha e agressões com cassetetes. No desespero para fugir das agressões, nove jovens foram pisoteados.


A justificativa da PM para esta ação foi a de que dois suspeitos teriam roubado motocicletas fora da favela e foram seguidos por policiais. Durante a perseguição, os policiais entraram em Paraisópolis e se depararam com uma multidão de frequentadores do baile. Os criminosos teriam entrado no baile e usado as pessoas como escudo, atirado na direção dos policiais e os participantes da festa teriam jogado pedras na PM. Sempre o mesmo enredo que serve para justificar a violência policial.

Somente este ano a Policia Militar realizou em torno de 45 operações no Pancadão da 17. Nestas ocasiões o modus operandi é o mesmo: encurralam os jovens, atiram as bombas, em seguida as balas de borracha e depois as agressões praticadas contra jovens pobres e negros pela tropa de extermínio.

Hipocrisia de João Dória

O governador do Estado de São Paulo, que bebe na mesma fonte de Bolsonaro, hipocritamente vem a público dizer que lamenta o ocorrido, mas não adota nenhuma ação prática, como por exemplo, demitir o comandante geral da PM e determinar a prisão de todos os policiais que participaram da operação.

Este governador é um embusteiro que incentiva o racismo e a violência contra a população pobre e negra por parte de seu aparato policial, tanto que está implantando em várias cidades do interior os  Batalhões de Operações Especiais de Polícia (BAEP) aos modos da ROTA, tropa de elite da polícia de São Paulo conhecida pela sua letalidade. São tropas especializadas em reprimir aqueles que os Estado considera como inimigos do sistema e de seus interesses. E eles são os pobres e os negros.

Racismo foi a razão desta tragédia

O funk, ritmo que tem origem nas favelas, sendo o ritmo favorito da maioria dos jovens pobres e negros, vem sendo criminalizado assim como foi o samba. Este preconceito contra o funk é utilizado como justificativa para a prática de violência contra esta população.

Analisando os comentários nas redes sociais, é fácil compreender porque o Estado e suas instituições policiais sentem-se à vontade para praticar toda esta violência de forma cotidiana. Amplos setores da classe média, que possuem diversificadas formas de acesso ao lazer, consideram os jovens adeptos do funk como bandidos. Precisamos dizer as coisas como são: isso é racismo.

O preconceito destes setores de classe média acaba por justificar e até glamurizar estas ações de violência da polícia. Seguindo esta lógica racista, os policiais não precisam ser investigados, pois teriam reagido a uma agressão feita por marginais. Na prática seria a aplicação do “tal excludente de ilicitude”, que uma licença para matar pobres e negros, defendido por Sérgio Moro e Bolsonaro.

É preciso que fique claro que estamos vivendo uma guerra interna. O Estado e suas instituições, como a Polícia Militar, servem aos interesses do capital, das grandes corporações, da manutenção da exploração que leva e aprofunda a miséria de milhões.

Os inimigos a serem combatidos e eliminados são os trabalhadores, os pobres, os negros. Para impor todas as medidas que retiram direitos, que destroem os serviços públicos, para salvar banqueiros, os governos precisam se utilizar da violência para tentar conter as revoltas populares, como as que ocorreram no Equador, Bolívia, Chile.

A classe trabalhadora brasileira também se levantará para combater em defesa de seus direitos. Isso assombra a burguesia e as elites parasitárias e seu bandido predileto chamado Bolsonaro. Por isso a necessidade de se aumentar e equipar os órgãos de repressão, para que estes plantem o terror diário contra os trabalhadores.

Cada vez fica mais evidente que não existe saída dentro de sistema e sua ordem, onde vicejam todas as formas de opressão. Temos que fazer o combate diário em todas as lutas que se apresentam para melhorar nossas condições objetivas de vida, porém, nestas lutas diárias, temos que explicar pacientemente para a classe trabalhadora e para juventude que estamos numa guerra contra o sistema que nos oprime e que precisa ser destruído, e em seu lugar colocar um novo tipo de sociedade: justa, solidária, fraterna, criativa, onde não exista a exploração, e onde o viver seja fonte de prazer. Uma sociedade comunista.