Parem o massacre sobre a Faixa de Gaza

Na Palestina não havia motivos para comemorações de ano novo. O Estado de Israel iniciou novos ataques no fim de Dezembro, sem prazo para acabar…

Dois anos depois de as Forças de ‘Defesa’ de Israel, indiscriminadamente, terem exterminado mais de 1.000 civis libaneses na operação intitulada Operation Just Reward, Israel voltou sua atenção para a Faixa de Gaza, na forma da Operation Cast Lead. Apesar de seu inócuo nome, esta operação não se tornou menos intragável: de acordo com médicos palestinos, aproximadamente 300 palestinos foram mortos, muitos deles mulheres e crianças. Entre os alvos de Israel estavam: delegacias de polícia (que, não é surpresa, estão situadas em regiões densamente povoadas); o quartel general do Hamas com seu canal de televisão; a Universidade Islâmica – a única instituição de ensino superior da Faixa de Gaza.

De acordo com testemunhas, hospitais estavam repletos de feridos e os corpos dos mortos estavam empilhados nos necrotérios. Um correspondente da BBC que vive na Faixa de Gaza, Hamada Abu Qammar, descreveu uma cena horrível:

“Eu segui uma mulher que estava gritando ‘meu filho, meu filho’ como se o procurasse na construção. De repente o encontraram, um jovem com seus vinte anos. As pessoas que o encontraram não a deixaram ver o corpo, mas eu pude ver. O corpo estava sem cabeça e sem estômago. Ela desmaiou sobre o que restou de seu filho, que estava coberto com um lençol branco”.

O ‘cessar-fogo’ de Israel e a cumplicidade do Mundo Árabe

Os ataques foram realizados depois do fim do cessar-fogo de seis meses entre Israel e o Hamas. Contudo, mesmo durante a validade do cessar-fogo, isto não significava que a população da Faixa de Gaza estivesse longe dos problemas. Israel submeteu a Faixa de Gaza a um terrível bloqueio, privando a população da faixa de Gaza de comida, combustível e suprimentos médicos. Como disse John Ging, chefe de operações da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA, em sua sigla em inglês), em uma entrevista ao The Electronic Intifada (A Intifada Eletrônica) em Novembro, “já temos cinco meses de cessar-fogo e nos últimos dois meses a população da Faixa de Gaza já não tem nada, eles não têm recursos para uma existência digna. Nós, das Nações Unidas, de fato, temos suprimentos restritos para o período de cessar-fogo, estaremos em condições muito vulneráveis e precárias dentro de poucos dias, se o bloqueio continuar, teremos de ir embora devido à falta de comida”.

O Estado de Israel não é o único que deve ser responsabilizado. Enquanto Israel perpetrava estes ataques brutais, o Egito estava recebendo a ministra do exterior Tzipi Livni. De acordo com a BBC, “efetuada a agressão ao sul da Faixa de Gaza, centenas de Palestinos deslocaram-se para a fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, mas as Forças de Segurança do Egito abriram fogo para impedir que passassem”. De fato, o Egito, consistentemente, participou do bloqueio à Faixa de Gaza, mais uma vez fez o trabalho sujo para Israel, cercando os Palestinos como animais e negando-lhes suprimentos essenciais. Os Estados Árabes convocaram uma sessão de “emergência” da Liga Árabe, mas o Egito se opôs e a Arábia Saudita expressou ‘reservas’.

Por que o Egito agiu assim? Em primeiro lugar, o Egito é o segundo maior receptor de ajuda militar EUA (adivinhem quem é o primeiro), o Egito é um “aliado regional crucial” (ou seja, um peão) dos EUA, sendo assim, leva adiante a política EUA. Escrevendo no Haaretz, o jornal liberal israelense, Zvi Barel explicava que “o Egito e a Arábia Saudita, que vêem o Hamas como um aliado do Irã para aumentar a influência regional de Teerã a suas expensas, preferem aguardar um pouco na esperança de que a operação militar de Israel despoje o Hamas de sua capacidade de ditar condições”. Em outras palavras, os regimes de Egito e Arábia Saudita (e o seu senhor, os EUA) esperam que Israel tenha sucesso em destruir o governo do Hamas e substituí-lo por outro mais flexível. Estão dispostos a ver as ruas da Faixa de Gaza encharcadas de sangue palestino para que isto aconteça.

As manifestações de massas

Claro, a escandalosa colaboração dos Estados Árabes não é aceita por seus povos. No Egito e no Líbano manifestações com dezenas de milhares aconteceram em apoio aos Palestinos. Grandes manifestações também aconteceram na Síria, Líbia, Iraque e Jordânia. A repulsa à cumplicidade dos Estados Árabes estava evidente: a rede de televisão de esquerdas no Líbano Aljadeed (Nova TV) mostrou manifestações em frente à Embaixada do Egito, alguns tremulavam bandeiras vermelhas e outros usavam camisetas do Che Guevara.

Até mesmo em Israel, onde a população está submetida a uma implacável máquina de propaganda que dá apoio ao Estado, uma manifestação com mais de 1.000 pessoas reuniu-se espontaneamente em Tel-aviv, participaram organizações tais como: “Gush Shalom; A coalizão de mulheres pela paz; os Anarquistas contra o muro; e o Hadash [do qual o Partido Comunista de Israel faz parte]”.

Em Londres também houve uma manifestação de protesto em frente à Embaixada de Israel. De acordo com os informes da polícia, 700 pessoas participaram da intensa manifestação, a avenida foi bloqueada paralisando o tráfego. Houve conflitos entre a polícia e os manifestantes quando um grupo de manifestantes tentou furar a barreira que protegia a Embaixada.

A ineficiência do terrorismo e a bancarrota dos fundamentalistas

Então, o que é o Hamas, o suposto líder da resistência Palestina a Israel, em defesa dos Palestinos? Infelizmente, sua estratégia de “resistência” se baseia nos inócuos ataques terroristas a alvos civis israelenses. Desde que tomaram o controle da Faixa de Gaza, o movimento islâmico lançou centenas de foguetes caseiros em direção a cidade fronteiriça de Israel, Sderot. Estes ataques raramente foram mortais (menos de 20 pessoas foram mortas em tais ataques desde que Israel retirou seus colonos da Faixa de Gaza), mas tornaram a vida miserável para os habitantes desta pobre cidade da classe trabalhadora.

Estes ataques não causaram danos militares à superpotência regional; servem apenas para enfurecer a opinião pública israelense, particularmente entre os trabalhadores pobres de Sderot, que poderiam ser aliados naturais dos Palestinos. Tais ataques ajudam a criar uma forte mentalidade dentro de Israel, encorajando seus trabalhadores e pobres (duramente explorados pelo capitalismo israelense) a apoiar seu Estado em ataques contra ‘o inimigo’. As Forças Armadas de Israel podem tirar vantagem da favorável opinião pública de Israel para lançar ataques. Seu objetivo é destruir ou enfraquecer severamente o Hamas, e vê-lo substituído por um grupo mais flexível.

De sua parte, o Hamas está interessado em aumentar seu poder sobre seu próprio território. Os ataques terroristas sobre Israel têm o objetivo de fortalecer sua posição na mesa de negociação; o Hamas já demonstrou estar propenso a aceitar as exigências de Israel (até mesmo, estão dispostos a ajudar as forças de segurança do Egito a impedir que os Palestinos entrem no Egito através da Faixa de Gaza); mas sua base de apoio o força a insistir nisso mais que o Fatah. Este é um problema para Israel, cuja fortaleza econômica e posição política estarão ameaçadas se fizer demasiadas concessões.

Existe alternativa?

Se o Hamas adotasse uma posição séria para organizar uma resistência contra a ocupação israelense, fundamentaria sua estratégia, não nos inócuos atos de terrorismo lançados por pequenos grupos de ‘heróis’, mas no armamento das massas palestinas. Poderia organizar comitês de defesa regional em cada cidade, povoado e bairro, democraticamente controlados pelos trabalhadores, camponeses e refugiados, e compostos por todos os homens e mulheres sãos. Tal força teria uma genuína base de apoio de massa que conduziria a uma campanha de guerrilha urbana; seria um formidável adversário contra as forças de ocupação de Israel. Mas tal força ameaçaria o poder do Hamas (e o poder dos clãs semi-feudais que dominam a política na Palestina). Uma das primeiras ações do Hamas depois de tomar o controle da faixa de Gaza foi atacar as sedes das Federações Sindicais Palestinas, em uma tentativa de sufocar qualquer possibilidade de organização dos trabalhadores palestinos.

Da parte do movimento operário israelense existe uma obrigação moral para se opor as atitudes bárbaras de Israel. O Histadruti (Federação Sindical Israelense) pode se recusar a cooperar com o ‘esforço de guerra’, chamando a greve entre os trabalhadores envolvidos na produção de suprimentos militares, e, se necessário, uma greve geral contra a guerra. Os trabalhadores e pobres de Israel são aliados naturais das Massas palestinas da Faixa de Gaza e dos demais lugares. Esta guerra não beneficiará os trabalhadores israelenses – significará mais restrições às liberdades civis por parte do Estado (a polícia de Israel já possui poderes sem precedentes para vasculhar as casas das pessoas sem prévio aviso), mais cortes em gastos sociais, e mais ameaças de terrorismo nas retaliações do Hamas e do Hezzbollah.

Claro, não temos ilusões de que o movimento operário israelense esteja preparado para tais ações – os líderes sindicais israelenses estão muito integrados à máquina estatal, como na maioria dos países. Mas alguns membros da base, os trabalhadores israelenses, começarão a levantar questões inconvenientes nos encontros sindicais, exigindo ação de seus líderes.

Exigimos:

• Imediato fim das hostilidades das forças armadas de Israel contra a população da Faixa de Gaza.
• Suspensão imediata do terrível bloqueio econômico, permitir a livre movimentação, entrada e saída, de produtos e de pessoas na Faixa de Gaza.
• Fim dos inócuos ataques terroristas à população civil de Sderot; a liderança da resistência deve armar as Massas palestinas e organizar comitês de defesa em cada cidade, povoado e bairro.
• Suporte às sofridas massas da Faixa de Gaza por parte do movimento operário de Israel – nenhuma cooperação com a máquina de guerra israelense.
• Por uma Federação Socialista do Oriente Médio.

30 de Dezembro de 2008.

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