Imagem: CPTM

Pedro Moro pede demissão da CPTM e mais uma vez a farsa da privatização é exposta

No último dia 18 de julho, o então presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Pedro Moro, pediu demissão da empresa e se preparou para assumir uma posição na diretoria da TIC Trens, criada na esteira da concessão da linha 7 realizada em fevereiro deste ano.

Esse caso expõe não apenas a podridão do indivíduo, que trabalhou ativamente para a privatização da empresa enquanto era presidente, mas de todo o sistema, já que esse caso não é o primeiro nem exceção e sim a regra das privatizações. A própria Via Mobilidade é hoje presidida por um ex-gerente do departamento das linhas 8 e 9, Francisco Pierrini, que assumiu o cargo logo após a entrega das linhas pelo governo João Doria.

Em todas as privatizações vemos a mesma lógica: enquanto os trabalhadores da base são demitidos em massa e substituídos por outros em condições de trabalho muito mais precárias, os gestores e diretores do alto escalão são rapidamente absorvidos pelas empresas privadas, muitas vezes em uma situação muito melhor do que quando estavam na empresa pública.

Para os capitalistas que assumem os serviços públicos, trata-se de absorver “profissionais” com experiência na gestão. Mesmo os supersalários destinados a atraí-los não constituem sequer um problema, afinal – assim como observamos na concessão das linhas 8 e 9 e em muitas outras privatizações – o Estado continua custeando a operação, e após as privatizações o peso para o orçamento público só aumenta! 

Nem mesmo as leis criadas pela própria burguesia constituem qualquer obstáculo para a suas ambições. A lei da suspeição que impõe um tempo mínimo para que um gestor passe de uma empresa pública para a iniciativa privada é habilmente contornada com base em “detalhes técnicos”. Afinal, Pedro Moro não estaria indo para a nova empresa na posição de CEO ou presidente, apenas um diretor! A burguesia, com seu exército de servos na forma de escritórios de advocacia, brinca com a lei com a mesma felicidade com que o porco rola na lama.

Os principais argumentos utilizados pela mídia burguesa para justificar as privatizações, como o “fim dos supersalários” e a “desoneração do Estado”, mostram-se completamente falsos. Não apenas os verdadeiros detentores dos supersalários nas empresas públicas têm seus privilégios ampliados quando passam para a iniciativa privada, como o Estado segue pagando a conta. Essa é a essência das políticas de privatização: aumentar a exploração do conjunto da classe trabalhadora e os lucros da burguesia.

Pedro Moro, assim como todos esses seres desprezíveis que se tornam alvo da raiva dos trabalhadores das empresas públicas quando se vendem para a iniciativa privada, tiveram suas carreiras iniciadas e impulsionadas justamente a partir das relações com “padrinhos” entre os representantes da burguesia no Estado.

Enquanto na base das empresas públicas como a CPTM os trabalhadores são submetidos a concurso público e precisam provar sua competência, a alta direção dessas empresas é formada a partir de indicações políticas: o governador escolhe o secretário que escolhe os presidentes das empresas públicas sob sua pasta, os presidentes, por sua vez, escolhem os gerentes e por aí vai, numa corrente onde a apadrinhagem política sempre se sobrepõe a qualquer critério técnico.

A própria CPTM conta com indivíduos muito capazes em seus quadros de trabalhadores da base, que conhecem as nuances do trabalho como a palma de sua mão. Muitos deles possuem um amor genuíno pela profissão (temos até nome para eles, são os “ferrofãs”) e sem dúvida seriam gestores muito mais eficientes que esses indicados e não exigiriam um décimo das mordomias!

No entanto, sob o capitalismo, o transporte é pensado como uma mercadoria e não como um meio para atender da maneira mais eficiente possível as demandas da sociedade. Apenas a mais plena democracia operária, com a escolha pelos trabalhadores dos seus chefes e gestores da base ao topo da empresa, pode erradicar os supersalários e colocar “a pessoa certa na posição certa”. Personagens como Pedro Moro e Francisco Pierrini não são necessários em nada para manter uma empresa como a CPTM funcionando, são antes de tudo um empecilho, pertencem à lata de lixo da história. Apenas a gestão democrática da empresa pelo conjunto dos trabalhadores pode tornar realidade um transporte público, gratuito e para todos!