Duas recentes notícias trouxeram à tona os horrores a que os trabalhadores estão submetidos no capitalismo. Trata-se da denúncia de trabalho análogo à escravidão na cidade de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, e da notícia sobre as condições precárias a que estiveram submetidos trabalhadores terceirizados pela Prefeitura de Joinville, Santa Catarina.
Nas duas situações, dentre tantas outras, o que se apresenta são os efeitos diretos da terceirização, que expõe de maneira mais descarada os trabalhadores a jornadas de trabalho cada vez mais precarizadas e consequentemente, menos amparados pelos direitos trabalhistas.
Nesse contexto é a terceirização irrestrita e a Reforma Trabalhista que abrem espaço formal para o estabelecimento de condições degradantes de trabalho.
No primeiro caso, trabalhadores de grande vinícolas eram submetidos a trabalhos braçais nas lavouras por horas, tendo acesso muitas vezes à comida estragada e sofrendo agressões físicas. Em Joinville, no dia 28 de fevereiro, também foi divulgada a situação de trabalhadores da construção civil alocados em uma obra municipal por meio de uma empresa terceirizada, que eram transportados em caminhão baú fechado e se alimentavam em locais completamente insalubres.
Após a denúncia em Joinville, o jornalista que publicou a matéria no Jornal Folha Metropolitana foi demitido e a presidente do Sinsej, sindicato que primeiro denunciou o caso, relatou ter recebido uma ameaça de morte.
Dentro deste cenário, está óbvio que a ação dos patrões empregadores é, além de quererem silenciar as denúncias, minimizar os gastos explorando trabalhadores para terem para si o retorno do lucro. Seja por meio do mal uso de verbas públicas, seja utilizando a mão de obra precarizada para a venda de um produto de alta qualidade a altos preços em mercados exteriores. Tudo isso, com a conivência de governos como o do prefeito de Joinville Adriano Silva (Novo), defensor (da lógica da) de uma terceirização sem medidas que destrói o serviço público e submete os trabalhadores terceirizados às piores condições de trabalho.
No Rio Grande do Sul, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CICBG), entidade empresarial da região gaúcha conhecida pela atividade de grandes vinícolas, soltou uma nota relacionando as condições de trabalho denunciadas com a falta de mão de obra na região por causa da existência de programas “assistencialistas”, que deixariam pessoas aptas ao trabalho “inativas”.
Ainda mais inaceitável foi o pronunciamento do vereador de Caxias do Sul Sandro Fantinel (então no Patriotas) que falou “não contratem mais aquela gente lá de cima”, se referindo aos baianos. “A única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor”, disse ainda.
Tais condições de trabalho são reproduzidas frequentemente pelos capitalistas, classe e modo produtivo que surgiu com a promessa de superar o trabalho compulsório, mas que, alicerçado pelo seu Estado, sempre se utilizou deste crime para aumentar seus lucros.
Em a Miséria da Filosofia, Marx explica:
“A escravidão direta é o eixo da indústria burguesa, assim como as máquinas, o crédito etc. Sem escravidão, não teríamos o algodão; sem o algodão, não teríamos a indústria moderna. A escravidão deu valor às colônias, as colônias criaram o comércio universal, o comércio universal é a condição da grande indústria. Assim, a escravidão é uma categoria econômica da mais alta importância.”
Ainda que a escravidão não seja mais abertamente legalizada, o que vemos hoje ainda é esta mesma estrutura, com empresas gerando lucros gigantescos utilizando de uma mão de obra precarizada que trabalha apenas para sua subsistência.
O capitalismo precisa desta escravidão moderna para se sustentar e, para isso, usa da “venda” de sonhos ou da ingenuidade do trabalhador, que, muitas vezes pelo medo da retaliação e pela necessidade da subsistência não tem força de reação contra a mão que o escraviza.
Uma das principais diferenças entre trabalho escravo e assalariado, é que o último, além de “livre” é mediado pelo Estado burguês no capitalismo. Essa liberdade de submissão, mediada por um Estado apodrecido, não serve a nossa classe e, por isso, deve ser denunciada e derrubada pelos trabalhadores.
A Esquerda Marxista convida você a unir-se à luta para que todo trabalhador tenha o direito ao trabalho e a uma vida digna, onde a riqueza da sociedade seja dividida, sem explorados nem exploradores.