Pelo fim imediato da repressão no IPN (Instituto Politécnico Nacional) e no Vocacional 5: A participação ativa da comunidade é necessária para a solução do conflito

Estudantes em greve e seus apoiadores estão sendo reprimidos violentamente por forças do estado e grupos paramilitares, de formas física, jurídica e midiática.

O conflito no Vocacional 5 adquiriu contornos preocupantes. Sua luta foi o pretexto para lançarem uma ofensiva contra a esquerda na IPN, levantando mais de 30 queixas criminais contra ativistas da comunidade. Também ocorreram agressões de bandos (porriles, em espanhol) que atacam com uma violência não vista há anos. Em uma ocasião “porros” (militantes dos bandos agressores) de mais de quarenta anos entraram em uma escola em greve e golpearam companheiros (estando dois deles com graves ferimentos). A intenção não era a de acabar com a greve, mas apenas “dar uma lição” por parte do Estado. Nunca foi sua intenção retomar as instalações, mas apenas agredir e em seguida fugir .

Ver as imagens de companheiro fortemente golpeados com as cabeças feridas, já era um sinal de alerta, mas o que aconteceu no último sábado, dia 15 de outubro, é completamente inaceitável. Escondendo-se covarde na escuridão da noite, por volta 02h30min da madrugada chegaram nos arredores do Vocacional 5 em caminhonetes e delas desceram não os porros ou agressores comuns, mas um grupo que mais se assemelhava a paramilitares profissionais, todos armados. Em meio a este novo ataque vários companheiros foram agredidos, um deles está com queimaduras graves e outro rapaz perdeu metade de sua mão, com o risco de vir a ser amputada.

Rejeitamos energicamente estes atos de repressão do Estado contra o Vocacional 5. É completamente inadmissível a verborragia de Enrique Fernandez Fassnacht, diretor geral do IPN. Perguntamos ao diretor: O que você espera para resolver o conflito no Vocacional 5? Você quer que ocorra uma nova agressão, mais companheiros espancados ou até mesmo um morto no Vocacional? O responsabilizamos por qualquer nova agressão contra colegas e que ameace as suas integridades físicas. Você é o principal responsável pelo prolongamento e polarização do conflito. Com a demora em atender as demandas, o desenvolvimento do conflito pode polarizar mais e até mesmo levar a um desfecho trágico. Por isso exigimos que resolva as reivindicações da comunidade do Vocacional 5.

A atitude que você e sua administração, que entra para a história como um das mais repressivas e autoritárias, tem sido a de tentar cooptar os setores mais fracos e oportunistas do movimento (onde o grupo Consciência Revolucionária é o exemplo mais escandaloso, passaram da oposição para serem seus cúmplices, repressores); por outro lado, os que realizam uma luta consequente são reprimidos com os métodos mais reacionários. Além das mais de 30 ações penais recentes, com vários sindicalistas tendo sido processados, agora avançam mais, processando o companheiro Cuautli Ramirez, membro da equipe de apoio do Vocacional 6.

Isto ocorreu depois de uma paralisação onde os trabalhadores exigiam respeito aos seus direitos, e foi suspensa pela ação de agressores a mando da  direção geral e agora quer fazer com que os agredidos sejam vistos como agressores, usando para tal, meios legais e administrativos. Exigimos a retirada das queixas crimes contra todos os envolvidos e que seja suspenso o processo punitivo movido contra o companheiro Cuauti. Pessoas como você, Enrique Fassnacht, e seu superior o Coronel Aureñlio Nuño, são os que deveriam pagar por seus crimes contra a comunidade, violando nossos direitos e mandando seus agressores nos atacar fisicamente.

Sabemos que sua atuação decorre da lógica geral de um sistema em declínio e completamente desacreditado, que não pode manter o controle a não ser pela repressão aberta e que cada vez mais querem ir mais longe e nos arrancar nossas conquistas históricas como são a saúde e a educação pública, assim como os direitos básicos trabalhistas. O governo de Peña Nieto prendeu vários líderes sindicais e ativistas sociais, atirando e assassinando moradores de Nochixtlán (seguindo a lógica de sua argumentação você poderá dizer que eles mereciam, porque em sua maioria eles não eram professores e sim opositores à reforma educacional). A atuação das autoridades no politécnico, sob sua liderança, se dá sob a mesma lógica. Nós não queremos demissões, nem presos, não queremos agressões nem mortos, mas não vamos deixar que nos retirem os direitos de organização e manifestação nem as conquistas históricas do nosso povo, por isso nos opomos às suas reformas e ataques privatizantes. Para nós está claro que o que buscam é o esmagamento da resistência organizada no IPN e assim avançar na execução da reforma educacional no instituto, desmembrando-o e aplicando seus ataques por meio das privatizações.

É evidente que parte de sua atuação histérica ocorre porque não conseguiram amainar a Comissão Organizadora do Congresso Nacional Politécnico conforme seu gosto e assim obter um CNP onde possa legalizar seus ataques. Isso explica por que você e seus subordinados agem como gorilas não domesticados contra a comunidade politécnica e os companheiros do Vocacional 5.

O argumento de que os companheiros que foram vítimas da repressão estatal não são politécnicos é o mesmo que reclamar do fato de que no passado nós, politécnicos, tenhamos realizado ações de solidariedade aos estudantes do magistério, apesar de não sermos estudantes desta área. Esse argumento só tenta encobrir a realidade e desviar a atenção diante de uma repressão inaceitável. Por que Fassnacht não disse uma palavra sobre a presença de homens armados em frente a uma escola do IPN que ameaçavam a integridade física dos companheiros em greve? Isso sim é um ato de extrema gravidade que não pode ser ignorado já que as autoridades do IPN se omitiram, mostrando quais são seus verdadeiros métodos de ataque à luta organizada dos estudantes.

Como CLEP temos fraternas críticas aos companheiros do COAGI e ativistas do Vocacional 5, mas nunca nos colocamos do lado do opressor, condenamos a repressão sangrenta contra a greve do VOCA 5, exigimos o fim da repressão e que as reivindicações dos estudantes sejam atendidas. Acreditamos que é a luta das massas que reside a mudança. Não há nenhum atalho que substitua o papel das massas exploradas na luta, por isso acreditamos que a unidade dos estudantes e do proletariado é necessária. Na greve do VOCA 5, por exemplo, pelo menos inicialmente, entraram em colapso as aulas extras que deveriam ser dadas por professores (que fazem parte da classe trabalhadora) e estes se recusaram a dar aulas. Esse é o caminho a percorrer e se conseguirmos que isso ocorra em um nível superior, com a participação de todos os trabalhadores em defesa da educação pública, contra os ataques do sistema capitalista e por uma sociedade mais justa. Dessa forma poderíamos então passar da defensiva para a ofensiva e fazê-los retroceder por meio do poder organizado dos trabalhadores e da juventude. Isso não é utopia, já vimos experiências como a Revolução Russa de outubro 1917 ou Barcelona em 1936, mas sabemos que é isso deve ser um processo. O nosso país não está paralisado contra os ataques do sistema, já vimos respostas maciças, como as recentes lutas do magistério, a greve Politécnica de 2014 e a luta pela aparição dos 43.

Queremos acabar com este sistema capitalista explorador e seu estado repressor, gostaríamos de fazer isso agora e de uma vez por todas, mas não temos ainda a força para fazê-lo, portanto, temos que avançar e adquirir esta força. Consideramos que qualquer medida que ajude as massas a adquirir consciência e confiança em sua organização é um ato progressista e que tudo o que nos afasta disso não é um método adequado para nossos propósitos. No caso da luta do VOCA 5 a luta foi iniciada com o apoio maciço dos três setores da comunidade. A participação ativa de toda a comunidade é necessária para que a luta tenha sucesso. Esta é apenas uma batalha e a melhor maneira de fazermos justiça aos camaradas reprimidos será dada com nosso fortalecimento nessa luta, organizando-nos melhor e com uma consciência mais desenvolvida, para continuar a batalha não só para melhorias significativas em nossa educação e trabalho, mas também para mudar a sociedade radicalmente, o que deve ser o nosso objetivo final.

A luta do Vocacional 5 colocou cada grupo em seu lugar. Ela é uma verdadeira aula e dela devemos tirar as lições, mas antes disso temos que fazer com que ela tenha um bom desfecho. Por isso que chamamos a comunidade do IPN e o povo trabalhador a se solidarizar com nossa luta e mobilizar todos para que as reivindicações sejam atendidas, cesse a repressão, freando os ataques dos grupos agressores, dos “porriles”, e dos paramilitares e sejam suspensas as ações judiciais contra os ativistas estudantis, apoiadores e professores.


Artigo publicado originalmente em 18 de outubro de 2016, no site da Corrente Marxista Internacional (CMI), sob o título “Mexico: Cese a la represión en el IPN y vocacional 5: Es necesaria la participación activa de la comunidad para la solución del conflicto“.

Tradução Wanderci Bueno.