A burguesia italiana sempre usou a FIAT como cabeça de ponte para atacar os direitos dos trabalhadores. Mas, os trabalhadores respondem com muita luta, mobilização e organização e não se renderão.
A FIAT é o coração do capitalismo italiano. Mais de um milhão de trabalhadores dependem da indústria automobilística e este setor representa 12% do PIB italiano.
Do “biênio vermelho” (1919-1920) ao chamado “outono quente” (1968-69), até a derrota de Mirafiori em 1980, quando foram demitidos 22 mil trabalhadores depois da greve de 22 dias, todos os eventos-chave da luta de classe na Itália têm passado pela FIAT.
A burguesia italiana sempre usou a FIAT como cabeça de ponte para atacar os direitos dos trabalhadores. Foi assim na derrota de 1980, mas também nos primeiros anos da década de 90 quando se construiu a planta de Melfi, no sul do país. Era chamada de “fábrica total”, a “grama verde”, ou seja, uma empresa na qual uma classe operária muito jovem e sem experiência foi obrigada a aceitar ritmos de trabalho massacrantes- até 18 turnos seguidos, a chamada “doppia batuta” (em que o operário faz por duas semanas o mesmo turno e depois muda)- com os salários mais baixos de todo o grupo FIAT. Tudo isso aconteceu num clima de repressão similar ao dos anos 50 com nove mil punições por ano e sem nenhuma fora de amparo sindical. No entanto, depois de anos de baixar a cabeça, em 2003 os trabalhadores começaram a reagir: depois de 21 dias de greve conseguiram a abolição da “doppia batuta” e a equiparação salarial com as demais plantas.
Agora a Fiat está tentando impor, em Pomigliano, o mesmo modelo produtivo de Melfi, mas parece que a resposta dos trabalhadores também é a mesma: a luta.
Em Pomigliano, o trabalho da Tendência Marxista do PRC, FalceMartello (Foice e Martelo), começou no ano de 2005. E naquela época, apresentamos nosso documento “Romper com PRODI, preparar a alternativa operária”, no V Congresso do partido. Foi assim que conhecemos os operários da célula de fábrica do PRC FIAT Auto-Avio, os quais, depois do debate decidiram de todo modo apoiar por unanimidade o documento de Fausto Bertinotti.
Naquela época, depois da derrota eleitoral de Berlusconi começava a experiência de governo do PRC. Os trabalhadores seguiam confiando nos seus dirigentes e os estavam colocando à prova. Enquanto, em 2006, começava a mobilização na Avio, a empresa do setor aeroespacial do grupo FIAT, que está próxima da FIAT Auto.
Nós, da FM, decidimos lançar uma campanha de solidariedade com os trabalhadores em luta, com distribuição de panfletos e do jornal na frente da fábrica. A campanha, que durou alguns meses e se enlaçou com a renovação do contrato nacional dos operários do metal, nos permitiu estreitar relações fortemente com os trabalhadores e os sindicalistas de FIOM (Sindicato Nacional Metalúrgico), que também são militantes do PRC, e também graças às posições que temos mantido e as batalhas que temos levado no Comitê Central de FIOM.
No mesmo período, o governo de centro-esquerda dirigido por Romano Prodi, apoiado também pelo Partido da Refundação Comunista (PRC, parte do antigo PC Italiano), implementou políticas antioperárias. Isto começou a criar uma série de críticas dentro do próprio partido e um debate entre os militantes, decepcionados pela total capitulação da direção do partido frente aos interesses do grande capital, representado pelo governo Prodi.
Enquanto na Avio a luta seguia, chegava a demissão política de Antonio Santorelli, sindicalista da FIOM, secretário da célula PRC FIAT Auto-Avio e histórica figura do movimento operário de Pomigliano D’Arco.
Seus camaradas iniciaram uma batalha por sua reintegração ao trabalho e organizaram uma tribuna permanente na frente da fábrica. Nós, camaradas da FM, participamos da tribuna e dos piquetes e lançamos uma campanha de solidariedade através do nosso jornal e de panfletos.
Nos primeiros dias, a tribuna teve êxito, participaram também os dirigentes nacionais de FIOM e também o então secretário do PRC, Franco Giordano. No entanto, depois de algumas semanas, todo mundo no partido se esqueceu de Santorelli: com ele, só ficamos nós e seus camaradas de célula.
No mesmo período, o PRC dá um giro à direita, isola o setor operário enquanto nós lançamos uma batalha para que o partido rompa com o governo. Em Nápoles, combatemos para que Santorelli possa fazer sua intervenção na Assembléia Nacional dos Trabalhadores do PRC, onde a burocracia não quer que intervenha porque sabe que sua própria experiência na Avio lhe permitiu tirar conclusões e agora é muito crítico diante do grupo dirigente do partido e sua política de colaboração com o governo.
A burocracia do PRC abandona a célula que vive uma crise profunda em razão da política nacional do partido.
Junto a Santorelli, que decidiu militar em nossa tendência, decidimos voltar a construir a célula de fábrica, usando a tribuna permanente que, todavia, existe na frente da Avio, como espaço para discutir com os trabalhadores e organizar a mobilização. Em colaboração com Antonio, começamos a analisar a situação na FIAT: uma fábrica muito jovem, onde o trabalhador médio não tem mais de 30 anos e onde as condições de trabalho têm piorado de maneira brutal. Existem todas as condições para que se dê um clima explosivo, de modo que é preciso organizar-se para estar preparados.
Em maio começa o novo congresso do PRC, onde nosso documento “Um giro à classe operária para o PRC” consegue 100% das preferências no congresso da célula de fábrica. Os trabalhadores entendem que FalceMartello, a tendência marxista do PRC, não se limita a falar da necessidade de um giro à classe operária, mas sim que constrói esta mudança de estratégia diariamente, junto aos trabalhadores. Através de um trabalho paulatino e paciente, dia após dia, ao longo de alguns meses temos conseguido vencer a desconfiança dos trabalhadores, acostumados às traições de seus dirigentes sindicais e do partido.
Ao fim de alguns meses, em setembro de 2008, chega nossa oportunidade: começa a luta na FIAT, já que no novo plano de produção apresentado por Marchionne, diretor da FIAT, não se prevê nenhum tipo de missão produtiva para a fábrica de Pomigliano e o risco é o fechamento da própria planta.
É assim que se dá vida ao movimento “Na Pomigliano não se toca”, que através de marchas, piquetes, bloqueios de estradas, assim como uma extraordinária greve de toda a cidade, com mais de 30 mil pessoas que saem às ruas para manifestar-se, impede-se o fechamento da fábrica.
Participamos do movimento com nossas consignas e apresentamos também um programa geral para a mobilização que une as reivindicações mais urgentes pela necessidade de dar um futuro à fábrica através da nacionalização. Uma demanda que se desenvolve na medida em que avança a proposta de “carro ecológico”, como única possibilidade de futuro para a fábrica, ainda que a FIAT se negue a investir nisso.
Sobre esta proposta, em fevereiro de 2008, construímos uma enorme assembleia em que participaram o Secretário do PRC, Ferrero, e o da FIOM, Rinaldini, na qual participaram mais de 500 trabalhadores. Nos mesmos meses, nossa influência na célula tem crescido e mais trabalhadores começam a militar em nossa tendência.
Depois de ter derrotado a hipótese do fechamento da fábrica, há um momento de refluxo no movimento, no entanto os problemas da fábrica não estão solucionados ainda. Decidimos, então, aproveitar as eleições europeias para manter vivo o espírito da luta e usamos a campanha eleitoral para ir para frente de todas as fábricas do grupo FIAT e nos dirigir às principais fábricas do sul do país.
Para estas eleições lançamos o camarada Mimmo Lofredo, jovem líder sindical e novo secretário da célula PRC Fiat Auto-Avio. Durante todo um mês, viajamos para todo o sul do país, distribuímos milhares de panfletos, organizamos dezenas de palestras e encontramos muitíssimos trabalhadores. O resultado foi extraordinário: conseguimos mais de 8 mil votos, o que fez que Mimmo estivesse entre os primeiros da lista eleitoral e o primeiro candidato da esquerda nos municípios próximos da planta da FIAT de Pomigliano, em número de votos.
Agora a luta de Pomigliano entrou numa nova fase, na que os operários, com a palavra de ordem “Pomigliano Não se Rende”, estão lutando contra a política de Marchionne que quer usar a fábrica de Pomigliano como cabeça de ponte para eliminar os direitos de todos os trabalhadores italianos e anular o contrato nacional de trabalho e o direito à greve.
Estamos preparados para esta nova fase da luta: apesar de conscientes de que ela será muito dura e difícil, da mesma forma sabemos que podemos contar com um pequeno núcleo de quadros experientes e com a experiência acumulada nesses anos de luta. Não é mais que o princípio.
Para saber mais sobre a luta de Pomigliano – clique aqui