O Ministro da Fazenda, Paulo Guedes, falando no Senado Federal, explicou que:
“‘Quero pedir desculpas se fiquei irritadinho em alguns momentos, porque estou muito cansado. Andei levando ‘balaços’ de quem devia estar do meu lado’, disse. Guedes contou aos senadores que foi aconselhado a não ir à CCJC porque estava levando ‘tiro nas costas’ do partido do governo.” (Correio Brasiliense, 28/03/2019). Guedes tem razão. Enquanto ele defende publicamente a “desindexação” do orçamento, permitindo que o governo gaste como queira sem controle do Congresso, a Câmara dos Deputados vota uma PEC que aumenta a parte indexada, inclusive com o apoio do PSL e do filho do presidente.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, num ataque sem precedentes, declara que Bolsonaro precisa parar de brincar e virar presidente. Sim, o “fogo amigo” cresce e o governo fica acuado de todos os lados. Então, quem pode vir em socorro? Chapolin Colorado? Não, Dilma Rousseff e Valério Arcary.
No Jornal do Comércio do RS, Dilma declarou:
“Esse País não pode se viciar em golpes. O golpe contra mim foi sem crime de responsabilidade (fiscal). Se ele (o atual presidente) cometer algum crime de responsabilidade, não será golpe. O governo dele será interrompido. Mas não vou fazer um prognóstico de queda de um presidente legitimamente eleito. Sou uma democrata, não uma golpista.” (Jornal do Comércio, 27/03/2019)
Sim, Dilma é uma “democrata” que defende que o atual presidente, que pretende roubar a aposentadoria de dezenas de milhões de trabalhadores, deve continuar. E isso quando todos sentem que o governo ou nem começou ou já acabou. Nem o PSL poderia fazer melhor.
O Psol não fica atrás. No momento em que Bolsonaro defende uma “revisão” da história para dizer que a ditadura não foi ditadura e que o golpe de 1964 deve ser comemorado, o PSOL lança uma nota que termina assim:
“O PSOL conclama todas as forças democráticas, socialistas e progressistas a se unirem para impedir os retrocessos e, nesta semana, realizar uma campanha em defesa da democracia e pelo #torturanuncamais.” Executiva Nacional do Psol (Site do PSOL, 26/03/2019)
Sim, vamos unir todas as “forças democráticas”. Será que nessas “forças” inclui-se o PSDB, cujo Presidente (Alckmin) criticou a postura de Bolsonaro e se disse pronto a denunciar qualquer flerte com regimes ditatoriais?
O PSTU, no editorial do jornal de 27 de março, chama a derrotar as “ameaças”, “provocações” autoritárias de Bolsonaro. E, numa “saída para a esquerda”, fala em construir o Socialismo. Estamos de acordo em construir o Socialismo, mas quando o governo Bolsonaro começa a fazer água a tarefa dos revolucionários é empurrar para este governo, é gritar a altos brados “Fora Bolsonaro”. Afinal, é isso que as massas estão gritando nas ruas, com palavras um pouco mais duras, digamos.
Para fechar com chave de ouro, lembremos a publicação de Valério Arcary no Facebook:
“Leio posts e ouço em debates intervenções defendendo que a esquerda em geral, e o Psol em especial, deveriam defender a necessidade de iniciar uma campanha pelo impeachment de Bolsonaro. Entendo as razões, mas não tenho acordo. Receio que seja uma ilusão de ótica. Ainda é cedo.
A relação social de forças sociais ainda não teve inflexão favorável. Ao contrário, prevalece uma dinâmica desfavorável…
Não vai adiantar muito gritar Fora Bolsonaro para nós mesmos. E como, felizmente, embora minoritária, a esquerda é, relativamente, grande, quem gritar vai ter audiência. Mas, impotente…”(Facebook, 13/03/2019)
O post de Valério concentra o outro lado da discussão. De um lado, os que acham que o momento é de “unir os democratas”, “defender a democracia” (posição de Dilma e do Psol). De outro, a posição dos que, como Valério, acham que estamos numa situação desfavorável e que o momento é defensivo.
Esses senhores deveriam escutar melhor as ruas. No Brasil, durante o carnaval, milhões de pessoas foram às ruas gritando “Bolsonaro, vai…”. Este é o grito que as massas, sem nenhuma direção política, deram. Trotsky explica na História da Revolução Russa que, durante as revoluções, as massas geralmente estão à esquerda dos partidos, e a base partidária à esquerda da direção. Sim, o Brasil não está numa revolução, mas se encontra numa situação profundamente instável, onde os de cima não podem governar como antes.
A crise do Estado, com o fim da “Nova República” (o pacto de conciliação que foi erguido na Constituinte de 1988), leva a um destroçamento das instituições burguesas. Tudo que é sagrado voa pelos ares. O STF é constantemente contestado, suas decisões são tomadas por maioria ou inclusive o presidente decide sozinho (o tal inquérito para apurar ataques ao STF).
A Câmara dos Deputados vive momentos de delírio ao impor derrotas a Bolsonaro, como a quebra do decreto que impunha sigilo a documentos oficiais, a aprovação da PEC que engessa o orçamento e, além disso, a ameaça de derrubar pontos vitais nas MPs que “reorganizam” o governo com a fusão de ministérios. Bolsonaro comporta-se como se o mundo fosse o que ele fala nas redes sociais e seus ministros estão mais para quem subiu na goiabeira e viu Jesus do que para alguém que pretende gerir o Estado burguês em prol da burguesia. Nessa situação, Valério acha que “ainda é cedo”? As massas, que sofrem com o desemprego, a miséria e daqui a pouco vão conviver com inflação mais alta ainda não podem esperar. E é delas que virá a saída, não dos burocratas partidários que têm mais medo da revolução do que da burguesia.
A Esquerda Marxista não tem dúvidas de que lado ela está: Fora Bolsonaro e todo este governo direitista e entreguista. É com esta palavra de ordem que estamos nas ruas, ao lado das massas.