Por que as direções sabotaram a greve geral?

O dia 14 de junho poderia expressar de uma forma ainda não vista toda a indignação ao governo Bolsonaro e seus ataques. Mas, apesar das direções, a enorme insatisfação que se acumula sob a superfície da sociedade não impediu que a “greve geral” pudesse ser um dia de luta com paralisações de setores importantes da sociedade.

Uma breve visita aos sites e redes sociais da CUT, das demais centrais sindicais, de partidos como o PT e PCdoB, já era suficiente para constatar o quão sem empenho por parte deles estava sendo preparada a greve. Poderia ser esse um problema de comunicação das centrais e partidos citados? Difícil que seja. Na verdade, a explicação para esse problema está na ausência de ações nas bases. As atividades de preparação do dia 14 foram irrisórias, mal chegaram ao que podemos chamar de “cumprir a tabela” e em algumas categorias os sindicatos desmobilizaram a greve nas assembleias que deveriam preparar a paralisação.

A mobilização para uma greve convocada pela CUT, CTB, CGTB, CSB, Força Sindical, Intersindical, UGT e Nova Central, com apoio e adesão da UNE e das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo deveria sacudir o país inteiro com manifestações de preparação, com assembleias e panfletagens em fábricas, escolas e universidades. Toda essa inatividade das centrais e partidos pode ser caracterizada como uma sabotagem consciente.
Também é preciso tratar do caráter de uma greve chamada para acontecer em um único dia e em uma sexta-feira. Já vimos como eventos semelhantes só aconteceram anteriormente por vontade das bases e não de suas direções.
Há alguns anos falávamos que “a Grécia hoje é o Brasil amanhã”. Isso porque desde 2010, os gregos iniciaram um grande combate aos pacotes de austeridade impostos pela União Europeia e FMI ao país. Entre 2010 e 2011, mais de 35 greves gerais ocorreram com duração de 24 e 48 horas. Essa foi a tática das direções reformistas que, aliadas ao regime burguês, utilizaram da tática de greves curtas e com prazo para acabar para criar uma válvula de escape da insatisfação das massas esperando o cansaço das mesmas.

Uma greve geral por tempo indeterminado colocaria a questão do poder na ordem do dia. Trata-se de decidir quem manda no país: a classe que produz toda a riqueza da sociedade ou uma classe parasita que nada produz e expropria essa riqueza?

Em determinados momentos, as direções podem ir mais longe do que desejam, mas antes tentarão se utilizar de toda a estrutura que possuem para manter o movimento sob o seu controle. A direção da UNE, por exemplo, sentiu a necessidade de “se mexer” após o dia 15 de maio, quando viu milhares de estudantes saírem às ruas e levantarem palavras de ordem como “Fora Bolsonaro”. A entidade máxima dos estudantes precisou chamar os atos do dia 30 para impor uma palavra de ordem genérica em defesa da educação, sem conteúdo de classe, e utilizou todo o peso do seu aparato para colocar o peso do aparato em cidades que eles nem possuem qualquer tipo de influência no movimento estudantil.

Também temos os exemplos históricos das direções que foram empurradas para um caminho que nem esperavam. Fidel Castro não era um socialista e desejava estabelecer uma república burguesa em Cuba antes de ser empurrado pelas massas do campo e das cidades para a expropriação da propriedade privada em toda a ilha. Hugo Chávez, apesar de não completar o processo de expropriação na Venezuela, se obrigou a dar passos largos na defesa do socialismo no país.

Esses exemplos servem para demonstrar que nada está dado ainda. Que há uma disposição enorme de combate da classe trabalhadora brasileira e que ela hoje só não está em choque direto com o capital porque há um bloqueio por parte das direções que não acreditam na capacidade da classe. Não acreditam, em última instância, na possibilidade da realização de uma revolução socialista. Há um lugar especial reservado para essas direções que hoje são o principal sustentáculo do capital e será a classe que elas tanto temem que as colocarão lá, na lata do lixo da história.