Por que Le Pen não representa as mulheres da classe trabalhadora?

Acontece hoje (7/5) o segundo turno das eleições para escolher o próximo presidente francês. Na disputa seguem a candidata da extrema-direita Marine Le Pen, da Frente Nacional, com 21,3% dos votos no primeiro turno, contra o candidato burguês e ex-ministro do atual presidente François Hollande (PS), Emmanuel Macron, do Em Marcha!, com 24,1 % dos votos. É visto que a classe trabalhadora francesa não tem quem a represente nesse segundo turno das eleições.

O sectarismo de uma minoria esquerdista que se negaram a apoiar Mélenchon (França Insubmissa), além da desconfiança de camadas da classe trabalhadora nos candidatos do PS e Republicanos devido a seus sucessivos golpes à classe nos últimos anos, garantiu que Le Pen seguisse para a próxima fase das eleições. Isso não significa que as camadas votantes em Le Pen se identifiquem com seu discurso xenófobo e fascista. Apenas mostra o quanto os partidos não tradicionais e com discurso anti-sistema vem ganhado atenção pelo mundo. Não foi o racismo de Le Pen que a fez seguir adiante, e sim as diversas traições de partidos tradicionais reformistas que fizeram com que camadas mais sentidas da classe caíssem em sua “armadilha” demagoga procurando desesperadamente por uma nova alternativa.

“Representatividade de gênero”

Alguns grupos feministas ainda defendem a chamada representatividade com “recorte de gênero” nos espaços de poder da sociedade, independente de discurso político. O mesmo discurso é usado para defender Margaret Thatcher e sua história como primeira e única primeira-ministra britânica mulher até hoje. Com certeza as esposas dos mineiros e demais mulheres da classe trabalhadora britânica vão discordar de tal idéia.  Defender que Le Pen pode representar algum progresso para as mulheres do mundo com base em tal “recorte” é ignorar o papel fundamental da luta de classes em todos os âmbitos da sociedade.

O programa de Le Pen, “França para os franceses”, promete fechar as fronteiras do país para trabalhadores do resto do mundo, estigmatiza mulçumanos, além de dar preferência para trabalhadores franceses na questão da moradia. Claramente um posicionamento racista. O partido de Le Pen tem 55 anos de história e em todo esse tempo tem feito oposição aos direitos das mulheres. A própria candidata tem um histórico de votar contra projetos que beneficiariam as francesas. Isso mostra que os interesses de classe da única candidata do sexo feminino nessas eleições se sobrepõe ao “recorte de gênero”.

Historicamente, temos vários exemplos de “recortes” que não significam melhoras nas vidas das pessoas que supostamente seriam representadas. Por exemplo, a ex-presidente Dilma que não se posicionou sobre a questão do aborto enquanto milhares de mulheres morrem em clínicas clandestinas (isso as que conseguem ainda pagar por isso). E Barack Obama que supostamente representaria os negros, mas no período em que estava no poder, negros da classe trabalhadora continuaram sendo assassinados por policiais nas ruas dos Estados Unidos.  Le Pen é um modelo ainda mais claro de todo conservadorismo burguês, mas a defesa do capital por ela e os outros reformadores desse sistema continua a mesma.

“Representatividade de classe”

Sabemos que a mulher trabalhadora é duplamente explorada, e por isso esta em sua esmagadora maioria fora dos principais campos de poder da democracia burguesa. Primeiro porque, historicamente, foi trancafiada dentro das casas para servir como escrava particular do homem. E segundo porque, no geral, a classe trabalhadora dificilmente consegue representação política ou ocupa esses espaços para defender seus direitos.  Mas as armas para lutar contra o machismo e a exploração das mulheres da classe trabalhadora não são defender a qualquer custo, independente do posicionamento político, “mulheres no poder” ou cotas de gênero nas eleições (como no caso brasileiro).  O machismo, assim como todas as opressões, é uma das bases do capitalismo usado pela burguesia para manter a exploração de gênero e classista. Para derrotá-lo, devemos lutar ombro a ombro com os homens de nossa classe com as armas viradas justamente ao principal inimigo das mulheres operárias e camponesas: o sistema capitalista.

No centenário da Revolução Russa de 1917, podemos tirar várias lições do que realmente representa a luta pelos direitos das mulheres e como ela deve vir ligada a luta contra a opressão da classe trabalhadora como um todo. Com a revolução as mulheres conquistaram o direito a voto. A Rússia foi o primeiro país a legalizar o aborto que eram feitos em hospitais públicos, o casamento e o divórcio que antes eram feitos apenas no religioso, e se o homem decidisse, passou a ser civil. O salário de homens e mulheres foi tornado igual para a mesma função, as escolas que separavam os sexos foram abolidas o que significou a mesma educação para meninas e meninos, auxílio maternidade, lavanderias e refeitórios comunitários entre outras conquistas que se espalharam pelo mundo.

As trabalhadoras e trabalhadores franceses não tem opção para escolher nas urnas no próximo domingo. Entre a racista e o banqueiro não há alternativa real que melhore a vida dessas pessoas, pois é mais do que claro de que são dois grandes representantes da classe burguesa. Qualquer que seja o resultado, ele aponta um grande acirramento na luta de classes no próximo período e mais austeridade. Nós, marxistas, apoiamos integralmente a luta desses trabalhadores, e lutamos diariamente contra o machismo, o racismo, a homofobia e toda forma de opressão que esse sistema nos impõe. Sabemos que apenas com organização baseada na representatividade de classe e com a luta constante nas ruas, escolas e fábricas, poderemos derrotar o inimigo comum de todos os oprimidos e evitar a barbárie provocada pelo capitalismo em decadência.