Ah, eu acordo pra trabalhar
Eu durmo pra trabalhar
Eu corro pra trabalhar
Eu não tenho tempo de ter
O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
(Capitão da Indústria – Paralamas do Sucesso)
Desde que a campanha VAT (Vida Além do Trabalho) foi iniciada temos visto uma grande adesão da classe trabalhadora, em especial os jovens, que têm sido fortemente atingidos pela barbárie capitalista que se expressa nas jornadas de trabalho organizadas na chamada escala 6X1. Uma vez que a maioria deles não têm condições de dedicar-se somente aos estudos, necessitando trabalhar para auxiliar nas contas da casa ou se manter de forma independente, muitos jovens têm entrado no mundo do trabalho através de setores que exploram fortemente esta mão de obra como as lojas em shoppings e as empresas de call center. Encurralados entre uma formação que tem atacado violentamente a educação pública e a formação científica nas escolas – especialmente com o chamando Novo Ensino Médio (NEM) –; o escasso número de vagas no ensino superior público; a ausência de políticas efetivas de assistência e permanência estudantil nas universidades públicas para aqueles que passam no funil dos vestibulares e a precariedade da formação ofertada à distância pelas faculdades privadas, resta aos jovens trabalhar nestes setores em que seu trabalho é mal pago e as exigências são gigantescas.
Diante desse quadro de barbárie capitalista, a campanha VAT tem trazido a questão da luta pelos direitos dos trabalhadores e da necessidade de superação do capitalismo de forma bastante direta e límpida para os jovens. Neste contexto temos aproximado muitos jovens que buscam pela superação radical deste modo de vida, reconhecendo-se como comunistas e entrando nas fileiras da OCI através da nossa campanha Você é Comunista? Organize-se! (VEC)
No mês de novembro os militantes da célula da UTFPR de Curitiba conversaram com dois jovens que se encontram nessa situação de superexploração em jornadas de 6X1. Allie e Akira (que serão identificados pelos pseudônimos a seu pedido), têm 24 e 19 anos e, além de trabalhar, estão cursando nível superior. Eles apontam que o perfil das pessoas que trabalham com eles, no call center e no shopping, varia entre jovens de 19 a 23 anos, em sua maioria com o ensino médio completo e que não estão na universidade. Que a escala de trabalho é organizada pela chefia semanalmente, ou seja, não há como estabelecer uma rotina além do trabalho, pois, não se sabe com antecedência qual serão os seus dias de trabalho. Ambos apontam que existem entidades sindicais que representam suas categorias, mas que não conseguem ver ações que promovam a união dos trabalhadores ou lutas efetivas em defesa dos seus direitos.
Além de trabalhar cumprindo uma jornada que vai das 13 às 21 ou 22 horas, Allie e Akira cursam faculdade no período da manhã e por isso afirmam que o pouco tempo que lhes resta fora do trabalho precisa ser dedicado às demandas da faculdade – que, aliás, não têm a dedicação necessária, uma vez que uma jornada de 6X1 com esses horários de trabalho exaurem a energia de qualquer trabalhador. Ambos apontam que uma carga horária de trabalho deste tipo é injusta com o trabalhador, em especial os jovens, que nesta fase da vida, além de ter direito ao estudo também deveriam ter acesso aos direitos ao lazer, cultura e socialização. A vida se resume ao trabalho e à faculdade, entendendo-se esta como o cumprimento das tarefas e carga horária, sem que haja um tempo de qualidade para ser dedicado aos estudos.
Ambos têm expectativa de que o trabalho que têm agora seja temporário e que no futuro possam trabalhar em áreas ligadas à sua formação universitária. Mesmo tendo consciência de que “um trabalho melhor” e melhor remunerado tem se tornado, dentro do capitalismo, um sonho distante, Allie e Akira – assim como todos os jovens da sua idade – têm sonhos e planos para uma vida com menos exploração e mais tempo livre. Neste sentido, ambos entendem a importância da organização da classe trabalhadora e que a luta pela redução das jornadas de trabalho seria ruim apenas para o patrão, ou seja, a classe capitalista possuidora dos meios de produção e que vive às custas do trabalho alheio. Eles compreendem que a luta pela melhoria das condições de trabalho é necessária e urgente, pois os jovens já não aguentam mais o nível de exploração a que estão submetidos e a ausência de perspectivas.
A deterioração das condições de vida e trabalho, o aumento da exploração dos trabalhadores e da precarização dos salários têm se acentuado neste momento de crise profunda do capitalismo. As novas gerações, que viram seus avós e pais construírem uma vida com muita luta, mas com alguma conquista, se veem agora em uma situação na qual não têm nenhuma perspectiva de estudo, trabalho, independência e lazer minimamente dignos. As doenças ligadas ao trabalho e ao modo de vida capitalista estão atingindo duramente os jovens que não conseguem encontrar uma saída individual para seus problemas. E é isso que o capitalismo tem a nos oferecer!
É preciso, portanto, canalizar nossas frustrações, angústias e raiva em uma organização coletiva e que tenha como objetivo a superação radical do modo de produção capitalista e a construção de uma sociedade socialista, sem exploração de uma classe pela outra. É com esse objetivo que temos somado esforços na campanha Vida Além do Trabalho, mantendo o entendimento de que as reivindicações imediatas são fundamentais, que é preciso também avançar pela luta por uma jornada de trabalho inferior às 44 ou 40 horas semanais tradicionais em nosso país e, além disso, organizar a luta contra o capitalismo construindo a OCI como uma importante ferramenta de luta da classe trabalhadora. Se ficamos sozinhos, as pressões das relações sociais capitalistas nos empurram para o pessimismo e a desilusão. Se nos organizamos, permanecendo ao lado daqueles que pensam e lutam juntos em busca de uma outra sociedade, conseguimos vislumbrar uma saída para esse mundo da barbárie e tragédias para as quais o capitalismo nos empurra.
Podem as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista! Nela os proletários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm um mundo a ganhar (Manifesto do Partido Comunista).
Pelo fim da escala 6×1!
Pela redução da jornada de trabalho!
Pela vida além do trabalho!
Junte-se a nós nas atividades da campanha VAT! Junte-se à OCI!