Em 27 de Janeiro a CCR assumiu de maneira oficial a operação das linhas 8 e 9 que estavam sob responsabilidade da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), em São Paulo. No entanto, desde o final de dezembro de 2021 a transferência dos funcionários de todos os setores (com exceção dos agentes de bilheteria) já havia sido concluída, ou seja, a operação já se encontrava efetivamente nas mãos da CCR quando o mês de janeiro se iniciou.
A sombra da CCR se projeta sobre o estado de São Paulo e do Brasil há décadas. Essa gigante do transporte possui de rodovias a portos e aeroportos, tendo recentemente embarcando no ramo de transporte de passageiros nas grandes metrópoles. Em São Paulo, essa aventura começou com a compra da linha 4-Amarela, construída com dinheiro público e vendida por uma fração irrisória do custo de construção. A trajetória desse grupo se assemelha em muito a história dos grandes capitalistas de sucesso: uma superexploração da força de trabalho e regalias do Estado burguês às custas dos interesses e necessidades da massa de trabalhadores e jovens.
O governo tucano, fiel representante dos interesses da classe capitalista, vem há muito sustentando o crescimento da CCR. A já citada venda da linha 4 foi apenas um primeiro passo no setor de transporte de passageiros, na esteira se seguiu a venda linha 5-Lilás à ViaMobilidade – pertencente ao grupo CCR – seguida de um processo constante de dilapidação das empresas públicas como Metrô e CPTM. Mesmo movimentando uma quantidade muito inferior de passageiros a CCR tem prioridade sobre os recursos destinados ao transporte público, não apenas isso como também recebe “por cabeça” transportada mais recursos que as empresas públicas do transporte sobre trilhos.
Além disso cabe ressaltar que a fábula liberal de “encolhimento do Estado” afim de aliviar a carga tributária sobre os pobres não passa de balela demagógica. As linhas 4 e 5 continuam onerando os cofres públicos e o Estado segue pagando pelas linhas que vendeu à iniciativa privada. Não bastasse isso, em 2021 vimos o repasse bilionário destinado à CCR, cláusulas contratuais que garantem uma margem de arrecadação e lucro aos capitalistas.
Com a queda de arrecadação durante a pandemia, o governo de São Paulo tirou dos cofres públicos os recursos necessários para garantir o lucro dos patrões, mas para os trabalhadores do transporte público e passageiros do sistema ofereceu arrocho salarial e aumento do preço das tarifas. Este é apenas um entre muitos exemplos da hipocrisia do discurso propagado pela burguesia de que “estamos todos no mesmo barco” e que todos “temos que fazer sacrifícios”. No altar do capital sacrifica-se apenas vida de trabalhadores e jamais os lucros dos capitalistas.
Exploração desenfreada
Em pouco mais de um mês de operação acumulam-se as ocorrências nas linhas 8 e 9 geridas pela CCR: atropelamentos, avanços de sinal e aberturas de porta do lado errado (o lado sem plataforma) que põe em risco a vida dos passageiros.
A razão disso fica claro quando observamos as condições de trabalho a que estão submetidos os maquinistas contratados pela CCR. Enquanto o treinamento médio de um maquinista na CPTM dura cerca de 6 meses o treinamento dos maquinistas que assumiram pela CCR não durou mais que três semanas.
Soma-se a isso as jornadas extenuantes a que estão submetidos os trabalhadores. Com uma escala de 3×3, os maquinistas da CCR cumprem 12 horas de jornada durante três dias para depois folgar três. A responsabilidade de transportar milhares de pessoas de uma só vez impõe a esses trabalhadores a atenção máxima e constante durante o percurso de aproximadamente uma hora. Enquanto um maquinista da CPTM fazia cerca de 6 viagens (3 idas e voltas) nas linhas 8 e 9, agora, com a CCR, o mesmo faz rotineiramente 10 viagens (5 idas e voltas). Os danos causados pelo aumento de cortisol (hormônio do estresse) no corpo humano decorrente de um estado de estresse e atenção constantes são bem documentados pela ciência médica. Diante dessa realidade não é surpresa nenhuma que os trabalhadores da CCR cometam erros durante a jornada de trabalho.
Por fim, ainda temos a questão do salário. Apesar de realizar a mesma função de um maquinista da CPTM (operando inclusive os mesmos trens já que o governo do estado fez a gentileza de ceder à CCR trens que nem mesmo terminou de pagar), os salários dos trabalhadores da CCR são muito inferiores aos dos maquinistas da CPTM – um maquinista da CPTM recebe cerca de R$ 3.500 e um da CCR recebe cerca de R$ 2.400.
Isso explica-se pelos laudos “técnicos” obtidos pela CCR recentemente que retiram do trabalhador o adicional de periculosidade. Nesses laudos fantasiosos considera-se que o maquinista da CCR não levará o trem para a oficina (quem levará então?) e que esses mesmos trabalhadores não irão operar os Aparelhos de Mudança de Via (AMV), dispositivo que permite ao trem trocar de uma linha para a outra, geralmente com operação pelo Centro de Controle, mas que em caso de problema devem ser operados manualmente).
Agora imaginemos uma situação em que um aparelho desse dê problema e seja necessária sua operação manual: irá a CCR destinar um time com o objetivo de percorrer o trecho até o AMV avariado para sua operação? Levando em consideração o fato de que em muitas partes do trecho é impossível trafegar com qualquer veículo fora dos trilhos e que em qualquer caso tal operação levaria a atrasos gigantescos na viagem. Claro que não! Sabemos que na prática os maquinistas da CCR irão ter que operar os dispositivos avariados, assim como são eles que levarão os trens às oficinas. Esse laudo obtido pela empresa e completamente desconexo com a realidade tem como objetivo unicamente reduzir os salários dos trabalhadores e aumentar o lucro dos capitalistas.
Levando tudo isso em consideração fica claro que a CCR não tem o menor comprometimento o serviço prestado à população. Longe de ser resultado da “displicência” dos trabalhadores os problemas que vêm acontecendo têm sua raiz em um modelo de transporte desenhado para o lucro de um punhado de empresários em cima da desgraça dos trabalhadores e usuários do sistema.
Por um transporte público, gratuito e para todos
Sabemos que a riqueza produzida pelos trabalhadores é suficiente para garantir todos os direitos básicos ao conjunto da população. No entanto, dos R$ 3,535 trilhões do Orçamento Federal de 2020, apenas 0,2% foram destinados ao transporte no país, porém, para bancar os juros e amortizações da Dívida Pública, o governo Bolsonaro destinou 30,08%, o equivalente a R$ 1,3 trilhão.
Por isso nós da Esquerda Marxista impulsionamos e combatemos ao lado dos ferroviários e passageiros no Comitê de Luta Contra a Privatização da CPTM com a palavra de ordem: “Transporte Público, Gratuito e para Todos”. É apenas através da organização dos trabalhadores e do método de combate classista que podemos fazer frente aos governos e seus verdadeiros senhores, a classe capitalista. Pondo um fim a esse sistema de exploração no qual a barbárie que vemos no transporte público é apenas uma faceta das muitas formas de exploração a que estão submetidas a classe trabalhadora e a juventude. Conheça a Esquerda Marxista e Junte-se a nós nesse combate!
• Por um transporte público, gratuito e para todos!
• Contra a privatização da CPTM!
• Privatização Mata!