Em áudio recentemente difundido pelas redes sociais, aparentemente, uma diretora da rede estadual de Santa Catarina expressa o total desprezo pela vida humana e naturalização do processo de assassinato social sofrido pela classe trabalhadora em meio à pandemia. De acordo com a diretora:
Parece que está tendo caso de professores que não estão completando o professor online, estão sendo contaminados pelo coronavírus, vindo a óbito e deixando o professor online sem preencher, depois quem vai preencher isso? (Trecho do áudio vazado de diretora da rede estadual de SC)
O “Professor Online” é o diário de classe digital da rede e, ao que parece, a voz é da diretora da escola. A diretora envia esse áudio a um grupo de professores de sua escola orientada pela Secretaria Estadual de Educação de Santa Catarina, a mesma que obrigou o retorno das aulas presencial no estado. Esse áudio, longe de refletir uma posição individual, expressa a posição das instituições burguesas e seu real nível de preocupação com as vidas de servidores públicos e trabalhadores em geral. Representa ainda o descontrole em relação à pandemia na rede, em um contexto em que entidades constatam aumento de 100% no índice de mortalidades entre os docentes brasileiros durante a pandemia. Sua resposta em relação a isso? Que finalizemos nossas atribuições antes de sermos abatidos no chão da escola. Essa barbárie é expressão do que ocorre em redes de ensino em todo o país, é reflexo do pensamento burguês próprio do capitalismo em sua fase senil.
Os agentes públicos em cargos mais altos, em especial aqueles em cargos de confiança, tendem a ser meros cumpridores das ordens dos cargos executivos das prefeituras e governos Brasil afora. Via de regra, não refletem sobre as ordens, cumprem elas para manter os privilégios, por menores que sejam. Cientes ou não, passam a expressar a ideologia dominante em ação e diretamente contra os trabalhadores. Alguns acreditam estar cumprindo sua função para com a “sociedade” ao fazê-lo, por mais repulsivas que sejam tais ações. Desconhecem ou ignoram que atendem simplesmente às necessidades da classe dominante, o que os coloca em contradição permanente em relação ao conjunto da classe trabalhadora.
Essa situação é mais uma que expressa alguns dos acontecimentos ilustrados por Kafka em seu clássico livro “O Processo”, em que os agentes públicos cumprem as mais absurdas ordens sem qualquer noção séria de onde elas vêm e qual sua finalidade. Mesmo assim, realizam elas com a segurança de estarem promovendo o correto. E, frente à firmeza com a qual a diretora cobra os professores para que preencham o “Professor Online” antes de morrer, neste aspecto concordamos com Kafka: “A certeza deles deve-se apenas à burrice”. E não nos referimos à burrice escolástica, mas ao desconhecimento das razões e finalidade do que orienta, fruto das condições de agente pública em um cargo de confiança de um governo burguês. A ausência de uma consciência política mínima o suficiente para compreender que uma vida proletária vale muito mais do que um novo registro burocrático no oceano de inutilidades produzido nas administrações públicas capitalistas.
Esse é mais um exemplo trágico que demonstra a necessidade de nossa organização contra esse sistema para pôr abaixo o governo Bolsonaro, construindo um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!
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