Professores do Estado de São Paulo tomam as ruas para dar um basta na política de sucateamento na educação.
Na tarde de 12 de março, sexta-feira, reuniram-se na cidade de São Paulo cerca de 40 mil professores, que ocuparam o vão livre do MASP e as pistas da Avenida Paulista em ambos os sentidos, além da calçada do parque Trianon.
A concentração de educadores mostrou que bem mais de 1% dos docentes está mobilizado para a greve, contrariando as declarações do Governador do Estado de São Paulo, José Serra, que tentou em vão desacreditar publicamente o movimento reivindicatório dos professores. No momento da assembléia, foi confirmado que cerca de 80% dos professores do estado paralisaram suas atividades.
A adesão maciça à paralisação demonstrou o evidente descontentamento em relação não só às políticas salariais, mas a todas as condições concretas (ou a ausência delas) para a realização do trabalho docente.
Temos visto ao longo dos anos um processo gradual de precarização da atividade docente em São Paulo, que implica num sucateamento dos serviços públicos de educação.
Com a dobradinha “progressão continuada” e “bônus docente”, o governo do estado demonstra sua avidez por resultados numéricos e estatísticos, ao passo que a qualidade de ensino cai vertiginosamente.
A progressão continuada, mecanismo que o governo estadual encontrou para “empurrar” à frente os alunos com dificuldades de aprendizagem e assim maquiar as mazelas do sistema educacional, acabou por criar entre os alunos uma cultura completamente avessa ao estudo.
Isto possibilita ao governo mostrar resultados numéricos, sobretudo em relação à evasão escolar, frente a instituições como o Banco Internacional de Desenvolvimento, que financia ações do governo.
Contudo, isto acaba por criar uma bomba relógio nas escolas: os alunos progridem em séries escolares, mas preservam várias deficiências que não poderão ser sanadas nas séries subsequentes, até o momento em que serão lançados ao mercado de trabalho sem uma formação básica e sólida. Vemos assim, como resultado de uma política educacional omissa o surgimento da figura do analfabeto funcional.
Num futuro próximo, isto representa para o aluno recém-saído do Ensino médio dificuldades de inserção profissional e a impossibilidade de progredir com seus estudos, mesmo em instituições privadas de ensino.
Voltando aos professores: ao invés de reajustar salários, o governo tem se limitado a “dar” gratificações aos docentes, complementando o valor do salário. O problema é que estas gratificações podem ser retiradas a qualquer momento, sem maiores explicações.
Por outro lado, a implantação do bônus docente indica uma intenção muito clara de rebaixar os educadores à condição de vendedores de diploma, sobretudo em sua última aplicação, em que os resultados alcançados no ano de 2008 seriam utilizados para o cálculo do bônus de 2009. Partindo dos mesmos resultados, foram estipuladas metas numéricas a serem alcançadas no ano de 2009, sob pena de não recebimento do bônus quando do não cumprimento das metas.
Através desta ação, o governo minimiza sua responsabilidade sobre os problemas da educação, ao passo que joga sobre as costas dos professores a tarefa de dar cabo do processo de ensino e aprendizagem em condições absurdas, tendo como motivação uma espécie de comissão anual por cumprimento de metas. Esta “premiação” de resultados beira o assédio e efetivamente não contribui para uma melhor educação.
É dentro desta perspectiva que os professores tentam realizar seu ofício: na ausência de condições materiais mínimas para desempenhar um trabalho complexo e essencial para a construção de uma sociedade mais digna. O próprio professor torna-se uma bomba relógio, prestes a colapsar no desempenho de sua função.
Desta maneira, só a organização da categoria, com suas reivindicações por melhores salários e condições de trabalho pode alterar o curso deste processo.
São reivindicações da categoria:
Diante da crise internacional, os governos optam por entregar quantias descabidas aos capitalistas para salvá-los, ao passo que para “compensar” esta ajuda precariza e sucateia os serviços públicos. As greves ocorridas nos últimos dias na Grécia, Portugal e Reino Unido foram exemplos de que a classe trabalhadora não deve aceitar pagar as contas de um sistema em crise que não tem outra finalidade que não explorar o trabalhador ilimitadamente.
É a nossa mobilização que vai garantir que essa conta não seja despejada em nossos ombros e que conquistas sejam arrancadas.
A greve continua e uma nova assembléia está marcada para a próxima sexta-feira, 19 de março às 14 horas, novamente no MASP.