Duas professoras tiveram suas aulas interrompidas por criticarem o presidente Jair Bolsonaro em sala de aula.
O primeiro caso aconteceu no Colégio Olimpo, no dia 30 de agosto em Goiânia, GO, quando uma mãe invadiu uma aula virtual e interrompeu a fala da professora de história para defender que houve fraudes nas urnas eletrônicas – tese defendida por Bolsonaro. A mãe, identificada por Mônica, vinha monitorando a professora e quis ridicularizá-la (Veja um dos vídeos).
Na outra situação, ocorrida no dia 1º de setembro em Cuiabá, MT, no Colégio Notre Dame de Lourdes, uma professora teve sua aula gravada anonimamente por uma mãe, que selecionou um trecho em que a professora criticava o presidente Jair Bolsonaro por sua política indígena e ambiental, além de comentários sobre a urna eletrônica. A mãe, instigada pelo bolsonarismo, divulgou a gravação para os sites de notícias com o propósito de intimidar e constranger a professora. Rapidamente o assunto viralizou e militantes da direita, partidários do presidente, começaram uma campanha de difamação da docente e contra o que eles distorcidamente chamam de “doutrinação”.
Diante das pressões, a Escola afastou a professora. No dia seguinte, 2 de setembro, um helicóptero da Polícia Militar sobrevoou o pátio da escola durante o intervalo, fez voo rasante, policiais acenaram e estenderam uma bandeira do Brasil. Uma clara tentativa de intimidar os que se solidarizaram com a professora e fazer coro às convocações do presidente para o 7 de setembro.
Sindicatos de profissionais da educação, entidades estudantis e professores se solidarizaram com as professoras nas redes sociais. Diante das repercussões negativas para o Governo do Mato Grosso, a Vara Criminal Militar acionou o Ministério Público para investigar o uso político da aeronave. No entanto, é necessário pôr fim ao governo Bolsonaro imediatamente para que ataques desse tipo se encerrem.
Após intensas lutas, os trabalhadores da educação conquistaram o direito à liberdade de cátedra, ou seja, expressar seus conhecimentos e análises no exercício do magistério. Essas lutas conseguiram inscrever na Constituição Federal a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas” (Art. 206 LDB 9394/96).
Esses ataques à educação estão em sintonia com o falido projeto Escola Sem Partido, que buscava impor o pensamento único nas escolas – o da classe dominante – impedindo os jovens e profissionais de se organizarem em grêmios estudantis e sindicatos e, deste modo, seguir com a destruição da educação como um direito público, gratuito e universal.
Ao contrário do que defende a Escola Sem Partido, lecionar é sempre um ato político e não existe neutralidade em uma sociedade dividida em classes com interesses antagônicos. Como seria possível um professor ensinar um tema sem contextualizá-lo com a realidade?
A chegada de Bolsonaro e sua trupe ao Palácio do Planalto – resultado da política de conciliação de classes desenvolvido nos anos anteriores – despertou um setor reacionário da sociedade que estava acuado após os trabalhadores colocarem um operário no poder. Embora extremante minoritária, essa parte da sociedade, os bolsonaristas, estão estimulados pela ação do presidente e pela falta de reação da esquerda – os dirigentes dos grandes partidos, centrais e sindicatos não mobilizam de fato as bases na rua e preferem centrar esforços no campo eleitoral e institucional.
No fundo, essa parcela de ignorantes reacionários odeiam os professores e a educação pública. Acreditam que o jovem deve ser educado separadamente pela família e pela igreja. Contrariamente, a educação da criança é de responsabilidade social, tarefa do Estado, da família e de toda a sociedade!
Como bem explica o editorial da 8ª Edição do jornal Tempo de Revolução, esses acontecimentos demonstram o desespero do governo Bolsonaro, que vê sua popularidade dissolver dia após dia e é incapaz de aplicar os planos econômicos que deseja a burguesia, restando-lhe jogar uma cortina de fumaça em tudo que pode para tentar sobreviver e manter sua pequena, mas raivosa, base social.
Esse governo se equilibra na corda bamba e qualquer empurrão pode jogá-lo no abismo. É por isso que estaremos no 7 de setembro com os trabalhadores e a juventude difundindo o manifesto “Abaixo o Governo Bolsonaro! Por um Governo dos Trabalhadores Sem Patrões Nem Generais!”.