Foto: Evy Mages

Protestos contra a indústria das armas nos EUA: há solução no capitalismo?

Após inúmeros massacres, incontáveis lutos e um sem número de promessas vãs de políticos democratas e republicanos, a juventude americana perdeu a paciência. Desde a semana passada, manifestações gigantescas, com ampla participação de estudantes secundaristas, vêm ocupando as ruas das principais cidades do país. Nas ruas, o grito é um só: por um mundo sem armas e violência.

A dimensão dos atos é tamanha que inspirou manifestações de solidariedade nos quatro cantos do mundo, inclusive naqueles onde as mortes por armas de fogo são extremamente raras. Grandes cidades como Londres, Paris, Berlim, Tóquio e Seul, onde raramente se ouve o barulho de tiros, registraram protestos de centenas e até milhares de pessoas, que se reuniram para fazer coro aos jovens americanos e sua luta por um mundo onde a vida humana seja devidamente valorizada e preservada.

Nas ruas dos EUA, a disposição dos manifestantes em fazer sua mensagem chegar aos ouvidos dos poderosos de seu país impressiona. Contudo, é difícil imaginar que atos de rua, por si só, sejam capazes de fazer frente a este que é um dos mais poderosos lobbies em atividade no governo americano: o da indústria das armas, concentrado principalmente na infame organização conhecida como NRA (National Rifle Association). O enorme poderio financeiro dessa e de outras organizações tem garantido, até o momento, a surdez conveniente de deputados e senadores em Washington sobre a questão.

A indiferença do establishment à indignação dos manifestantes é facilitada pelas palavras de ordem um tanto vagas e pela confusão generalizada em relação às verdadeiras causas do problema. Na “marcha pela nossas vidas”, como ficaram conhecidos os enormes protestos recentes, não faltaram declarações vazias de sentido como “somos todos irmãos e irmãs” e “somos todos um”. A única proposta prática oferecida pelos organizadores dos atos era a de que políticos que seguissem votando de acordo com os desejos do lobby das armas fossem boicotados nas próximas eleições.

Não é necessário dizer o quão inócua é essa ideia. Imaginar que o processo eleitoral, cuja estrutura é caótica e totalmente controlada pela burguesia e seus lobbies, seja um palco de enfrentamento com a poderosa indústria armamentista é simplesmente ridículo. Os que apresentam essa proposta “radical” aos jovens e trabalhadores, embora o façam aos gritos e lágrimas, sabem muito bem que estão apontando para um beco sem saída. Na verdade, sempre que ocorre uma chacina no país e surge a comoção popular, já aparecem esses indivíduos com seu radicalismo de mentira, para desviar a indignação da juventude para direções menos perigosas para o sistema.

Os marxistas explicam que o problema não são as armas. De fato, em diversos momentos da história, os trabalhadores somente escaparam de serem massacrados como ovelhas pela repressão da burguesia por terem tido acesso a elas. O problema é o capitalismo, essa máquina de reproduzir a exploração e a violência. Esse sistema vai sempre garantir que as armas, um dos produtos mais lucrativos no mercado, tenham farta oferta, sem se importar nem por um instante com quantas vidas humanas serão ceifadas no processo.

Para construir uma sociedade na qual nossa existência realmente tenha valor, precisamos primeiro acabar com o domínio da burguesia sobre a sociedade e a economia, e isso passa por nos organizar em cada escola, universidade, fábrica e local de trabalho sob a bandeira do socialismo. E no enfrentamento com a classe dominante, que sempre vai defender seu sistema até as últimas consequências, os trabalhadores e jovens deverão defender-se e reagir, inclusive recorrendo às armas para criar comitês próprios de defesa. Em uma outra sociedade, livre da divisão entre classes sociais, poderemos começar a construir um mundo onde seremos todos irmãos e irmãs, unidos em nossa diversidade.