O Ministro do Trabalho Brizola Neto declarou recentemente que, em meio à crise econômica internacional, mesmo que os “indicadores econômicos apontem para um novo ciclo de crescimento do Brasil”, o país poderá gerar entre “1,5 e 2 milhões de novos postos de trabalho”.
Para que o país possa gerar empregos em quantidade e qualidade, a receita do ministro é o aumento da produtividade, posto que “Não podemos correr o risco de colocar gargalos na mão de obra e impedir o avanço da economia”. Na verdade a onda de desemprego avança e só no estado de São Paulo, segundo as últimas notícias, haverá uma queda de 100 mil postos de trabalho neste ano em curso.
Todo o problema do argumento de Brizola Neto é que ele apresenta um quadro unilateral e superficial do que realmente está em jogo na economia e no mercado de trabalho.
Lembremos que, quando do início da crise econômica mundial, muitos economistas e o governo pregavam que o Brasil ficaria imune às turbulências externas. De fato, depois do PIB cair em 2009, a economia brasileira cresceu em 2010. Mas se de fato houve criação significativa de postos de trabalhos (inclusive no ano de 2009) tais números escondem a tendência perversa que está se disseminando sem freios em nosso mercado de trabalho: o aumento da rotatividade, a precarização dos postos de trabalho e uma nova onda de demissões. Pesquisas recentes do DIEESE mostram que a suposta “blindagem” de nossa economia diante da crise mundial veio acompanhada de uma menor permanência dos trabalhadores em um mesmo emprego, que o salário médio dos trabalhadores contratados é, em média, menor do que o dos demitidos. Sobre isso ver : http://www.redebrasilatual.com.br/temas/trabalho/2011/11/construcao-civil-e-agricultura-sao-campeoes-de-rotatividade-mostra-dieese
Diante desse quadro, é preciso desmistificar o argumento de muitos de que a causa da precarização do emprego no Brasil são os “gargalos de mão obra” fruto de uma suposta baixa produtividade do trabalhador brasileiro, tese esta que está também presente na fala do Ministro do Trabalho. Ou seja, defende a velha ideia de que se nossos trabalhadores fossem mais qualificados, seria possível a geração de melhores e mais permanentes empregos. Este argumento ignora o fato que Marx já apontava no século XIX, que a tendência histórica do capitalismo é de alienar e submeter cada vez mais o trabalho ao capital.
Na medida em que o capital domina cada vez mais o processo produtivo e retira o poder de controle do trabalhador, é o capital (máquinas, tecnologias, métodos de organização da produção) que é ou não o responsável pela produtividade das empresas. Assim, o problema da falta de bons empregos não reside em um estrangulamento da oferta da força de trabalho, mas sim no fato de que cada vez mais, os processos de modernização tecnológica implicam numa alta demanda por empregos ruins e numa baixa demanda por empregos mais qualificados e melhor remunerados. Afinal, não faltam no Brasil profissionais especializados (operários qualificados, técnicos, engenheiros), etc.
No caso brasileiro, pesa não apenas o fato de que a modernização tecnológica tornam supérfluos milhares de postos de trabalho qualificados, mas também, como mostra o estudo do DIEESE, que boa parte dos empregos recentemente gerados destina-se à construção civil onde a rotatividade é gigantesca e os salários são muito mal pagos.
Nosso argumento, em resumo, é o de que, mesmo com uma economia aquecida, na qual sejam gerados postos de trabalho, isto não quer dizer que haja uma melhoria salarial e aumento na qualidade dos empregos. E para piorar o quadro, é preciso também questionar o otimismo de Brizola Neto quanto “ao novo ciclo de crescimento” da economia brasileira.
Em 2011 o crescimento econômico caiu para 2, 7% e a maioria das previsões para 2012 apontam para um crescimento ainda menor. Ou seja, diante das turbulências internacionais, cujo centro agora é a Europa, seria um milagre se o Brasil repetisse o crescimento que teve em 2010. A crise leva os empresários a demitirem e reduzirem investimentos em novas tecnologias e qualificação de mão de obra. A regra é: cortes e quebra de direitos.
As quedas dos juros, as medidas protecionistas do governo Dilma e as manobras com o câmbio, para favorecer as exportações, não podem superar a dura realidade dos demais indicadores econômicos: os outros países estão diminuindo suas demandas por nossos produtos, investimentos externos tendem a cair, as famílias brasileiras estão cada vez mais endividadas e as empresas preferem aplicar dinheiro na ciranda financeira do que injetar recursos em investimentos produtivos arriscados.
Neste quadro, a situação que já era desfavorável em nosso mercado de trabalho tende com certeza a piorar ainda mais.
O problema no Brasil não é a falta de qualificação do “trabalho”, mas sim a falta de qualificação do “capital”. Sendo mais preciso: a nossa falta de competitividade tem pouco a ver com uma suposta fragilidade da mão de obra, mas com o fato de que os países ricos têm empresas com capacidade financeira, tecnológica e comercial superior às empresas de ‘origem brasileira’ e em época de crise sugam com maior voracidade os lucros gerados aqui para aliviar as quedas nos países de origem.
Não podemos perder de vista, Marx já frisava no século XIX que a essência do modo de produção capitalista é a subsunção do trabalho ao capital e a alienação do trabalhador no processo produtivo. Em outras palavras, o controle do processo produtivo pertence ao capital e não ao trabalhador. Assim, o essencial não é tanto saber se um operário brasileiro é mais ou menos qualificado que um alemão, ou norte-americano, mas sim que tipos de máquinas, equipamentos e técnicas estão disponíveis para cada um deles e não importa se o operário é alemão, ou norte-americano, ou brasileiro, todos são explorados e em época de crise, em todo o mundo, os governos e os empresários descarregam seu ônus nas costas dos que produzem: os trabalhadores!
A possibilidade do Brasil desenvolver uma economia, com indústrias altamente produtivas e garantir o pleno emprego, com salários e diretos garantidos, com uma produção agrícola que alimente adequadamente a população, está diretamente ligada à possibilidade de resolver com urgência a questão da propriedade privada dos grandes meios de produção. E isso os capitalistas, sejam brasileiros ou não, são incapazes de realizar. Essa tarefa está diretamente nas mãos da classe operária. Enquanto houver exploração e acumulação privada do lucro gerado pelos trabalhadores a anarquia da produção perdurará, os empregos estarão em risco e o imperialismo imporá as regras.
Vejamos o que ocorre com a indústria automobilística
Os dados impressionam: em três anos e meio, os governos, Lula e Dilma, praticaram uma renuncia fiscal de 26 bilhões de reais para a indústria automobilística. E qual o retorno disso para a maioria da população? Os empresários alegam que enviaram “somente” 14,6 bilhões de dólares, a título de juros e dividendos, para suas matrizes no exterior. Com o dólar valendo, em média, 1,7 reais no período, isso equivale a 24,82 bilhões de reais, ou seja, praticamente tudo o que o governo concedeu de “incentivo fiscal” foi na realidade remetido para manter as matrizes das montadoras (Volks, Fiat, General Motors, Ford, Renault, etc) no exterior. Conclusão: O governo brasileiro ajudou a manter os capitalistas da indústria automobilista na Alemanha, Itália, Japão, EUA, etc.
O setor criou, com esse “incentivo” 27.753 novas vagas de trabalho, ao custo médio de 1 milhão de reais. Em outras palavras, é como se o custo para contratar cada pessoa fosse de 1 milhão de reais, por 3,5 anos ou 42 meses de trabalho.
Essa conta merece ser feita! 42 meses de trabalho equivalem a 47 salários, considerando o pagamento do 13º salário e os 40% de adicional de férias. Assim, estariam contratando cada trabalhador por um preço de 21 mil reais! Considerando o INSS e o FGTS, cada trabalhador, desses novos contratados deveria receber 16 mil reais de salário bruto ao mês. Em outras palavras, o governo poderia ter usado este dinheiro para contratar, por exemplo, 54 mil professores para as universidades federais, ou 50 mil médicos para o serviço de saúde. Mas não, foi tudo usado para as indústrias que contrataram operários com salários médios de 3 a 5 mil reais (a depender da região) e remeteram praticamente todo o restante do valor recebido do governo para as matrizes no exterior. Realmente, a política econômica dos governos de coalizão impressiona!
Retração e queda no PIB
Mas as coisas não param por aí, com as primeiras ondas da crise novamente batendo aqui em continuidade do já ocorrido em 2008-2009, começa a ocorrer uma queda na produção industrial que, se comparada com maio de 2011, regride 4,3%. A maior queda desde setembro de 2009.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 27 setores produtivos pesquisados, em 17 houve retração, sendo que a produção de automotores caiu 16,8% em relação a maio de 2011.
Ainda, segundo dados do IBGE, na produção de bens de capital, efetivamente destinados para a produção, ocorreu uma queda de 1,8% entre maio e abril deste ano, e se comparado com 2011, houve um recuo de 12,2%.
De que adiantou mesmo o governo jogar milhões e milhões de reais para salvar as indústrias? Diante da retração que avança, a gritaria dos capitalistas aumenta e o governo acena com novas ajudas aos ‘pobres coitados’.
O governo entra para dar uma mãozinha
O Banco Central começou a intervir no câmbio para valorizar o dólar, descaradamente mentiu ao afirmar que estava a intervir para evitar que a inflação não subisse. Valorizar o dólar é deixar a porta aberta para aumentar a inflação. Essa medida favorecerá ainda mais as remessas de lucros ao exterior e ao mesmo tempo aumentará a ganância por investimentos especulativos dos imperialistas no Brasil.
Recentemente o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) declarou que: “a industria necessita crescer 1,6% entre julho e dezembro, esperamos que as políticas monetária e fiscal tenham efeito no segundo semestre”. Várias empresas e agencias declararam que teremos um ‘pibinho’ e passam a estimar que o PIB, no máximo atingirá 2%, algumas falam em 1,7%.
André Perfeito, da Gradual Investimentos, declarou recentemente: “A primeira impressão é que os dados da indústria jogam por água abaixo os esforços do Planalto e da Fazenda em dar suporte ao humor empresarial”
Demissões: a alternativa dos patrões!
Como sempre os empresários querem descarregar o ônus da crise nas costas dos trabalhadores e já começam a declarar que realizarão demissões, na verdade já estão demitindo. A indústria têxtil, que recebeu milhões de reais em isenções, começa a aplicar seus planos de demissões, a indústria química demite e fala em fechamentos de plantas de produção, a Volvo demitiu 208 operários, a GM ameaça fechar uma fábrica em São José dos Campos e demitir 1.500 operários, a Volks começou a aplicar um PDV em Taubaté, a Mercedes suspende 1.500 trabalhadores.
É a ponta do iceberg que avança velozmente! Só a mobilização efetiva dos trabalhadores poderá barrar esse avanço destruidor!
Nenhuma trégua aos empresários! Eles que paguem pela crise!
Que a presidente Dilma decrete a Estabilidade no emprego já!