Quem manda no país

O ex-diretor do Banco Central e sócio fundador da gestora de investimentos Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, respondeu a uma pergunta da Folha (Folha de São Paulo, 23/10/18):

Haddad distanciou-se do economista mais heterodoxo do PT e admite a necessidade de ajuste na Previdência. Esses acenos não convencem?
É aquela história. Você tem um funcionário fazendo corpo mole, dá uma chance para ele melhorar o desempenho e ele não se corrige. Aí você cansa, resolve demiti-lo e ele diz que agora vai mudar completamente. Dá para acreditar?

Essa pergunta e a resposta nada sutil de um “gestor de investimentos” mostram muito bem o que são os “políticos” – simples gerentes de plantão a serviço da burguesia que quando não tem o desempenho esperado, são demitidos. E o tom de desprezo para com Haddad reflete a forma que todo operário é tratado na linha de montagem. Mas, todo operário sabe, há os que são capachos e os que erguem a cabeça e resistem. E, entre os que resistem, com a sua união, a sua luta, se formam os sindicatos e os partidos que representam a classe operária. Haddad está entre os que são capachos, que se curvam e continuam a ser cada vez mais chutados.

De Lula, que “perdoou os golpistas” a todos os outros petistas que fazem acordos cada vez maiores com os setores da burguesia que podem, que lançam acenos a Alckmin cada vez que podem, que se unem aos Calheiros e outros “coronéis” (latifundiários) do Nordeste, destes nada há a se esperar, só mais conciliação e rendição para a burguesia na tentativa de mostrar que sãos os melhores funcionários para os “investidores”. E, se a Socialdemocracia do século 20 só falava em socialismo em dias de festa (na crítica ácida de Trotsky), hoje os partidos que se dizem socialistas, como o PT, nem nas festas.

Boulos tenta se mostrar “confiável” ao sistema e candidato a ser mais um “funcionário” e com isso afundou toda perspectiva de um bom resultado eleitoral do PSOL. O PSOL, que poderia, na atual conjuntura, crescer como uma alternativa à esquerda, se vê limitado por uma linha política reformista e pequeno burguesa, que não questiona os fundamentos do atual sistema e, por isso, não se conecta com os anseios das massas trabalhadoras. A candidatura de Boulos atinge no máximo 1% nas pesquisas e, em diversos níveis, a perspectiva é que o partido provavelmente não terá o resultado esperado.

Em um dado pouco divulgado nas pesquisas espontâneas, em que não é apresentado o nome do candidato, mais de 40% dos eleitores segue sem ter candidato nenhum. No caso das mulheres, esse número chega a 51%. Afinal, o candidato que se coloca contra tudo que está aí também se coloca frontalmente contra a igualdade das mulheres.

A burguesia teme com esses números. Ela olha o exemplo dos EUA, onde Trump em um esforço de tornar o judiciário mais palatável nomeia um juiz conservador e encontra uma resistência das mulheres que repercute no próprio senado. Afinal, terão eleições este ano e cada senador republicano treme como vara verde frente à revolta feminina.

No Brasil, os acenos às mulheres ocupam o tempo de vários candidatos, mas isso nada resolve. Elas continuam firmes e não acreditam no que lhes é dito. Todos eles falam em “reformas” trabalhista e da previdência e os direitos das operárias é duplamente ameaçado. Tudo o que conquistaram em mais de um século de lutas – direito a creche (ainda que parcial), a licença maternidade, aposentadoria e pensões melhores – está sendo colocado em questão.

Os donos cobram o “desempenho”. Têm medo de Haddad por ser um funcionário que diz que vai mudar, mas a sua demora nas “reformas” fez com que demitissem Dilma e agora não acreditam em Haddad. Têm medo de Bolsonaro e sua política de choque frontal que pode desestabilizar tudo. O que sobrou?

Sobrou a polarização entre as classes. A greve geral na Argentina, o afundamento de Macron na França frente às greves operárias e as manifestações comandadas pelo partido França Insubmissa, as greves e manifestações nos EUA, tudo isso mostra que a burguesia se vê cada vez mais confrontada com a revolta dos operários e dos oprimidos, particularmente os jovens, contra o seu sistema e a miséria e destruição que espalham pelo mundo.

É o medo dessa polarização que ela não consegue conter que leva aos manifestos de FHC pela “união do centro”, aos pronunciamentos do Presidente do STF que “temos que respeitar o resultado eleitoral”. Do outro lado, é essa mesma polarização que leva ao movimento “mulheres contra Bolsonaro” e a repulsa das camadas mais pobres ao candidato da direita.

Os marxistas expõem o seu programa – contido no Manifesto dos candidatos contra o Sistema, pela revolução socialista – durante as eleições. E continuarão, antes e depois dela, junto com os operários e jovens na luta para acabar com o capitalismo e abrir caminho em direção ao socialismo.

Editorial do jornal Foice&Martelo 125, de 28 de setembro de 2018. Confira a edição atual aqui.