Encantador artigo de Alan Woods escrito em Londres na véspera da cerimônia real desnuda a monarquia mostrando seu papel escuso nas negociatas internacionais, inclusive com regimes ditatoriais do Oriente Médio e revela que o povo britânico não ama a coroa.
Na sexta-feira, 29 de abril, o povo da Grã-Bretanha será convidado a participar da celebração festiva do casamento de Mr. William Windsor e Ms. Katherine Middleton. Ao mesmo tempo o governo está cortando bilhões de extravagâncias desnecessárias, como hospitais, escolas, professores, enfermeiros, pensões para os idosos, doentes, desempregados e mães solteiras. O Governo de Coalizão tem tido o bom senso de gastar muito dinheiro em algo tão essencial para o bem público como o casamento de Guilherme e Kate!
Qualquer um pode ver a vantagem disso. Em uma época de queda do padrão de vida de todos aqueles que não são membros da família real ou banqueiros, pode-se desviar a atenção do público britânico de dívidas não pagas e desemprego. Pode até fazê-los esquecer das grandes manifestações que levaram mais de meio milhão de pessoas às ruas de Londres para protestar contra os cortes que vem sendo implementados pela Coalizão Conservadores-Liberais-Democratas.
Ainda mais importante, a coroação pode ter efeitos benéficos para a coalizão governista, cuja popularidade vem caindo nas pesquisas de opinião. Essa queda trouxe à tona a divisão entre os Tories e seus aliados liberais e democratas, que estão prestes a enfrentar a aniquilação nas eleições para governos regionais de Maio. É a esperança sincera de David Cameron que o destino da coalizão seja reavivado pelo juramento matrimonial: o que deus uniu o homem não separa.
Estamos sendo informados que boa parte dos custos com a cerimônia serão pagos pelos bolsos da família Middleton e da família real. No entanto, por outro lado, isso esconde o fato de que o dinheiro nas contas dos Windsor vem da generosidade dos contribuintes britânicos. Alguns mal intencionados já indicaram que a nossa família real, que recebe milhões de segurança social, pode ser a maior parasita dos recursos do Estado. Contudo, tão injusto julgamento não condiz com o papel fundamental que a monarquia exerce na sociedade britânica.
Além de prover horas de entretenimento inofensivo para as massas, tirar suas mentes de seus problemas, a monarquia também produz empregos lucrativos para jornalistas, fotógrafos e comentaristas de televisão. Tomemos como exemplo a BBC, que designou nada menos que 550 jornalistas para cobrir a cerimônia. Considerando que essa mesma BBC acabou de anunciar a demissão de dezenas de jornalistas e a virtual demolição de seu Setor Internacional, como resultado de cortes no orçamento, devemos interpretar isso como um ato de generosidade sem precedentes.
Na verdade, Londres está infestada de jornalistas vindos de todas as partes do mundo com o mesmo afã que teriam os participantes de um banquete canibal. Esse entusiasmo é perfeitamente compreensível, uma vez que nem todos os países são abençoados por terem as instituições da monarquia. Os franceses e italianos, há muito desprovidos delas, estão extasiados de prazer. Mas são sempre os americanos que estão mais sujeitos aos efeitos tóxicos da proximidade com a realeza, curvando-se para expressar sua devoção pela coroa britânica, que tão veementemente rejeitaram em 1776. Mas, como a BBC noticiou, desanimadamente, o entusiasmo da imprensa mundial não é compartilhado pelo povo das Ilhas britânicas.
Indiferença
Houve uma grande mudança de atitude na sociedade britânica desde 1981, quando o príncipe Charles e Lady Diana se casaram. Naquele ano, dez milhões de pessoas tomaram as ruas para celebrar. Um número ainda maior fez o mesmo para comemorar as bodas de prata da Rainha, em 1977. Agora, apesar dos grandes esforços do primeiro ministro para convencer as pessoas a festejar o casamento real, os números estão em forte queda.
A imprensa tenta mascarar a realidade com frases como “quebra do espírito de comunidade nas grandes cidades”. Mas essa explicação não explica nada, uma vez que a Grã Bretanha já possui grandes cidades há centenas de anos ou mais. Mesmo que fosse o caso, o argumento não explica porque ocorreu tamanha quebra do espírito comunitário. Não é o espírito canibal do capitalismo e da economia de mercado que encorajam o egoísmo sob o slogan do “individualismo”? Lembremos de Thatcher: “não existe sociedade”.
À medida que o grande dia se aproxima, já há sinais de desespero do primeiro ministro David Cameron. Na semana passada ele apelou para que as pessoas “tomassem iniciativa” e organizassem festas de rua no dia 29 de Abril. Em uma tentativa de encorajar mais pessoas a organizar essas festas, as autoridades locais eliminaram o protocolo e os regulamentos que normalmente envolveriam a organização de tais eventos.
Chris White, presidente do Conselho de Cultura, Esportes e Turismo da Associação de Governos Locais [LGA, da sigla em inglês: Local Government Association], declarou: “Conselhos em todo o país removeram todos os entraves para tornar a organização de festejos públicos em homenagem ao casamento real o mais fácil possível”. E ainda acrescentou: “Unir as comunidades nesses tempos difíceis só pode ser positivo e certamente é um dos papeis chaves dos conselhos”.
O governo enfatizou que ordenou aos conselhos que esquecessem o protocolo e qualquer lei que poderia impedir as pessoas de comemorar. Um ministro de governo local, Grant Shapps, disse: “Nós deixamos claro que regulamentos de saúde pública e segurança que impeçam simples celebrações não se aplicam a casamentos reais – longe disso, eles podem ser removidos com o mínimo alarde e mesmo sem formalidade”.
Que se ignorem as leis que mantém a população segura e saudável. Que haja sangue e fogo! Que venham os terremotos e as pestes! Mas, sobretudo, que ocorram festas de rua! O motivo por de trás de medidas tão especiais é simplesmente a indiferença surda, senão hostilidade aberta, que é a resposta do povo britânico a essa campanha barulhenta. E ao invés de unir a nação, a coroa acabou por expor vastas e crescentes divisões e conflitos de classe.
A divisão de classes
O Daily Telegraph, um jornal conservador, publicou uma matéria no dia 23 de Maio com um titulo interessante: “Casamento Real: lista de festas de rua sugere divisão de classe”. Nela, lê-se o seguinte:
“Centenas de Milhares de Britânicos patriotas tomarão as ruas na próxima semana para celebrar o casamento real – mas dados oficiais do governo revelam uma divisão de classe entre os anfitriões dos festejos.
Enquanto as comunidades de classe média no sudeste e os condados de Home abraçaram a idéia de fazer uma festa tradicional com tema real, as áreas onde predominam a classe trabalhadora, incluindo as cidades do norte, demonstraram um entusiasmo bem menor.”
De acordo com a LGA, até quinta-feira, mais de 5.500 comunidades haviam solicitado o fechamento de suas ruas a fim de realizar festejos ao ar livre em homenagem ao casamento. Londres liderou a lista com mais de 800 solicitações, enquanto Hertfordshire, Surrey e Kent estavam todos nas primeiras posições, com muitas solicitações. Todos estão localizados no sudeste, região de alta concentração de classe média e de pessoas de alta renda.
Mas nos enclaves da classe trabalhadora como Liverpool, Manchester, Newcastle e Sheffield, o entusiasmo tem sido bem menor. E em Glasgow, com uma população de 600.000 habitantes, majoritariamente da classe trabalhadora, nenhuma solicitação por festa foi feita.
Nos bairros de Londres, os dados indicam que haverá uma festa para cada 9.600 habitantes. Mas em Birmingham a estimativa é de uma festa para cada 41.000 habitantes, em Liverpool uma para cada 27.630 e em Manchester, uma para cada 20.130. Em Yorkshire a febre do casamento falhou em atingir Bradford, onde só haverá quatro festas na rua, enquanto Sheffield terá 31 e Leeds 21. Cardiff aprovou apenas 53 fechamentos de rua e Bristol, 54. Em Newcastle houve 32 pedidos, mas nos arredores de Sunderland apenas quatro foram feitos.
Porém, não é uma simples divisão norte-sul, mas uma divisão de classe muito mais profunda. Tomemos como exemplo o condado sulista de Shropshire, predominantemente rural e em geral não associada com qualquer tipo de luta de classes ou políticas radicais. Um artigo no The Shropshire Star no dia 1º de fevereiro de 2011 tinha o seguinte título: “Casamento Real: Ninguém festejando como em 1981”. Lia-se o seguinte:
“Shropshire vira as costas para os grandes festejos nas ruas para celebrar o casamento real em Abril. Pouco interesse tem sido demonstrado em organizar festas para celebrar o casamento entre William Windsor e Kate Middleton. O Conselho de Shropshire recebeu apenas quatro solicitações para fechar ruas até o dia 29 de Abril e teve que pedir por maiores informações para que estas pudessem ser devidamente consideradas.
Não serão cobradas taxas pelo fechamento enquanto os conselho de Telford e Wrekin – que cobrarão taxa de 25 libras – teve “alguns pedidos”, mas nenhuma solicitação concreta. A prefeita de Shrewsbury, Kathleen Owen, disse que foi “bastante desapontador” que mais pessoas não tivessem feito pedidos.”
No final do artigo do Shropshire estão os comentários dos leitores, que fazem uma leitura bastante interessante! Vejamos alguns exemplos:
“Nós tivemos uma explosão de comunicação e informação desde 1981 e a maioria das pessoas se encontrariam chocadas com uma opulência tão repugnante dada o atual colapso financeiro doméstico, com o país prestes a gastar rios de dinheiro apesar de estar no vermelho. Pode ter uma festa acontecendo em Westminster, mas fora de M25 eu não acho que alguém realmente se importe.”
E isso:
“Eu desejo a William e Kate o melhor, mas por favor mantenham a discrição pois alguns de nós estamos perdendo o emprego sem qualquer responsabilidade por isso, alguns não recebem aumento, outros com uma semana de trabalho mais curta, nós todos estamos sofrendo aumento de impostos e de custos de vida. O que temos para celebrar? Ah, esqueci que fomos nós mesmos que elegemos esse governo e esse conselho e agora temos que pagar o preço… sim estou bravo porque foi tudo culpa dos banqueiros e nós é que pagamos o preço, mas tudo bem… eles ainda estão ganhando seus bônus, mas está tudo OK… o suficiente para cobrir o déficit… algo errado em algum lugar. Eu preferia pagar mais imposto a curto prazo, manter meu emprego e sustentar minha família do que perder o emprego, mas não nos foi dada qualquer chance de escolher. Você se pode eleger esse conselho nem esse governo novamente.”
E mais isso:
“A realeza está tão fora de contato com as pessoas comuns que ninguém dá a mínima para esse casamento que se aproxima. As pessoas tem preocupações muito mais urgentes, como vão manter-se no emprego etc. Na casa real é desconhecido o significado da palavra ‘recessão’.”
A falta de interesse explica as campanhas midiáticas apoiadas pelo governo para encorajar as pessoas a festejar na rua. Eles podem alcançar seus objetivos até certo ponto, mas não podem alterar o fato de que houve uma grande mudança de atitude do povo britânico em relação à monarquia e aos ricos em geral. O motivo pelo qual isso é alarmante não é somente porque David Cameron quer mais votos em Maio. É que a monarquia britânica é uma arma-reserva nas mãos da classe dominante. Em uma atmosfera de intensificação da luta de classes eles podem vir a precisar dela e, portanto, devem mantê-la afiada.
Oposição silenciada
A importância da ocasião é tanta que nenhum esforço ou gasto devem ser poupados para que tudo ocorra sem qualquer incidente. Sem meias medidas de fato! Um dia antes do Grande Dia, a polícia já anunciara que nenhum tipo de manifestação seria tolerada, pacífica ou não. Até mesmo mensagens consideradas ofensivas para a sensibilidade do Grande Público Britânico estão terminantemente proibidas.
Uma vez que isso é claramente uma questão de preocupação pública, a conta pelo policiamento será naturalmente paga pelas finanças públicas. Não será barato! Quinze milhões de libras serão gastos no dia 29 de Abril, enquanto o público é instruído a “apertar os cintos”, suas escolas e hospitais são fechados e o desemprego continua a crescer.
Policiais estarão em grande número para garantir que o casamento de William e Kate seja um evento “seguro e alegre”. Para garantir o máximo de paz no dia, as autoridades, em sua sabedoria, decidiram colocar atiradores de elite nos terraços e telhados de Londres com ordem de atirar para matar. Não pode haver meias medidas para proteger a festa da realeza!
A Scotland Yard vai mobilizar nada menos do que 5 mil policiais apoiados pelos militares e afirmou que qualquer atividade criminosa na sexta feira será respondida de forma “robusta”. Como se define “atividade criminosa” e o que seria uma “resposta robusta”? A resposta pode ser encontrada no artigo do jornal Metro, do dia 27 de abril, intitulado “Anti-Monarquistas banidos de protestos contra o casamento”, que nos informou que a polícia alertou aos anti-monarquistas que qualquer distúrbio durante o casamento não será tolerado.
A comandante da polícia metropolitana, Christine Jones, disse que: “qualquer criminoso que tente provocar distúrbios, seja na forma de protestos ou qualquer outra, sofrerá uma resposta robusta, decisiva, flexível e proporcional”. Isso quer dizer que protestos contra a realeza são criminosos e qualquer agitação republicana significa uma atividade potencialmente criminosa.
Agora, é uma longa e honorável tradição da democracia britânica que qualquer grupo de cidadãos possa se reunir para fazer protestos pacíficos. Mas na sexta-feira que vem essa tradição será violada pela polícia da forma mais gritante. A ninguém será permitido expressar sua oposição ao casamento real “na forma de protesto ou qualquer outra”. Isso quer dizer que até mesmo um protesto pacífico será considerado um crime, e será tratado de acordo.
E como será tratada essa “atividade criminosa”? Nos foi dito que será tratada de forma “robusta”. Como robusta? O jornal Metro informa: “Atiradores da unidade de elite armada da polícia, CO19, estarão a uma distância para atirar e matar, e membros de unidades especiais estarão infiltrados na multidão” (nossa ênfase). Isso tudo apesar do que dizem os mesmos relatórios: “Altos oficiais insistem que não há ‘missão específica de inteligência’ sobre ameaças”.
Então, apesar de não haver nenhuma “missão de inteligência especifica” sobre qualquer tipo de ameaça terrorista, as autoridades decidiram infiltrar na multidão policiais a paisana bem como atiradores de elite pelos terraços de Londres com ordem de atirar para matar!
O artigo do Metro noticia que sessenta pessoas presas por “causar problemas” durante as manifestações sindicais foram banidas do centro de Londres na Sexta Feira. Isso quer dizer que uma pessoa pode ser presa e banida das ruas de Londres pela mera suspeita que ela possa atrapalhar a paz, mesmo que não tenha cometido nenhum crime, e espera-se que a polícia faça mais prisões nos próximos dias.
É claro, pode-se solicitar permissão da polícia para protestar contra o casamento. Mas como já ficou claro que todos os grupos que solicitarem essa permissão provavelmente não serão autorizados a não ser que aceitem adiar a ação para o dia seguinte, o procedimento parece ser um tanto sem sentido. A polícia também confiscará quaisquer bandeiras que o público possa considerar “ofensiva”, de acordo com o Comissário Assistente Lynne Owens – mesmo que fossem aceitáveis em outro momento. O grupo anti-monarquista “Republic” afirmou corretamente que os atos da polícia para reprimir protestos com bandeiras são um ataque à liberdade de expressão.
Além do mais, nem todas as festas de rua vão receber o mesmo encorajamento. O Conselho de Camden tomou providências para impedir uma festa republicana, apesar de uma garantia anterior de que o show poderia acontecer. O grupo “Republic”, que seria o anfitrião da festa, jurou lutar ara derrubar o veto. Dando aval para o fechamento da rua Earlham em Março, no Convent Garden, para que esta fosse o cenário da festa do Republic, e faltando apenas três semanas para a festa, o conselho se recusou a organizar o trânsito para bloquear o acesso dos carros à rua, essencialmente banindo o evento. Grande feito pela liberdade de expressão!
Ao contrário do que normalmente ocorre nesses casos, a decisão foi levada ao nível do alto escalão, com Sam Mock, Diretor Assistente de Meio Ambiente e Transportes, citando “oposição local” como motivo do banimento. Aparentemente, a proibição tem o apoio da conselheira do Partido Trabalhista, Sue Vincent, membro da executiva do departamento.
Um representante do Republic afirmou: “Esse país não pertence à monarquia e todos têm o direito de protestar contra ela. Não consideramos aceitável que a polícia reprima protestos pacíficos”.
Advinhem quem vem pro jantar…
Enquanto são encorajados a realizar festas nas ruas, poucos dos súditos da rainha estão convidados para o casamento. Este fato lamentável pode ser explicado de duas formas: 1) o espaço limitado da abadia de Westminster e 2) a presença de muitos convidados estrangeiros a serem acomodados.
Assim como a família real, cinqüenta chefes de Estado estarão presentes na cerimônia, que será assistida, de acordo com as previsões, por mais de dois bilhões de pessoas. Haverá de setenta a oitenta equipes de segurança VIPs para os convidados (tudo pago, naturalmente, com dinheiro público).
Entre os convidados da lista está o príncipe herdeiro do Bahrein, Salman Bin Halmad Al Khalifa, que recebeu o convite da Rainha em pessoa. Sem vulgares festas de rua para ele! O príncipe herdeiro já foi convidado da família real em outra ocasião – em Dezembro de 2004, o príncipe Charles convidou-o para o Palácio de St. James, onde ambos conversaram sobre as relações entre seus países, de acordo com uma nota da imprensa saudita.
A família real do Bahrein deveria estar “comprometida com reformas”. Mas por muitas semanas o Bahrein foi cenário de protestos de massa por democracia que foram brutalmente reprimidos pela polícia e pelo exército. Pelo menos 30 pessoas morreram no país desde o começo dos protestos, em meados de Fevereiro, inclusive quatro sob custódia oficial, e muitos ativistas e advogados foram detidos.
Qual foi a reação do príncipe do Bahrein diante de tudo isso? Agradeceu os esforços das forças de segurança de seu regime para “manter a ordem e a estabilidade”. Ele disse à televisão do país: “Eu continuarei… firme no sentido de que não pode haver leniência com aqueles que querem dividir nossa sociedade em duas”. Inúmeras pessoas já foram mortas e o governo anunciou estado de emergência, pedindo a intervenção de tropas sauditas para “manter a ordem”.
O mundo inteiro está perfeitamente ciente das atrocidades cometidas pelo coronel Khadafi, Saddam Hussein e Hosni Mubarak. Mas uma cortina discreta tem escondido o que está acontecendo no Bahrein. A opinião pública mundial tem tido seu acesso negado à selvageria das forças de segurança do pequeno país e seus cúmplices da Arábia Saudita.
Defensores dos direitos humanos vêm fazendo campanha para que o secretário de assuntos internos, William Hague, retire o convite. “O Bahrein criou um estado de medo, não de segurança” afirma Joe Storck, vice-diretor para o Oriente Médio da ONG de direitos humanos Human Rights Watch. A situação se tornou um escândalo de tais dimensões que começou a tornar-se um constrangimento para os Windsor.
Finalmente, a Casa Clarence foi avisada de que o príncipe herdeiro do Bahrein não iria mais comparecer e que a família real do país não enviaria um representante. O príncipe afirmou que foi com “grande pesar” que chegou a essa “decisão acertada”. Ele disse que esperava que a situação em seu país melhorasse para que então pudesse ir sem “fazer sombra” ao evento. Ele acrescentou que eles haviam “claramente pretendido envolver minha potencial presença como um objeto político envolvendo assuntos do Bahrein”.
Os Windsor são indiferentes ao destino do povo do Bahrein. Mas são extremamente sensíveis à má publicidade. É evidente que a “decisão acertada” do príncipe não chegou sem auxílio. O correspondente real da BBC, Peter Hunt, disse apenas 24 horas antes que o príncipe definitivamente viria, e adicionou: “quem sabe que tipo de pressão diplomática não deve estar sendo aplicada nos bastidores?” Ele falou enquanto os representantes do Príncipe William não diziam nada em público, deveriam estar certamente satisfeitos que uma “distração” tivesse ido embora.
Em Março, os governantes sunitas do país anunciaram lei marcial, mobilizaram as forças de segurança, e chamaram tropas de países vizinhos e aliados do Golfo Pérsico, especialmente da Arábia Saudita, para ajudá-los. Manifestantes foram espancados, torturados e mortos por serem contra a família real. Mas os sauditas que desencadearam a repressão no país não queriam perder um almoço gratuito e serão convidados de honra no casamento.
Os acordos de negócios da realeza
É sabido que os ditadores árabes têm muitos amigos na Casa Clarence e no Palácio de Buckingham. As relações entre a família real britânica e as do Oriente Médio vem de longa data. Recentemente, o príncipe Charles usou suas conexões com a princesa do Qatari – que é dona do site – para sabotar o plano dos quartéis do Chelsea a custo de milhares de empregos.
A lucrativa relação entre os membros da família real britânica e os corruptos ditadores árabes veio à tona quando o príncipe Charles chamou o “Serious Fraud Office” (Escritório para Fraudes Sérias) de “idiotas” por investigar denúncias de corrupção em uma venda de armas para o Reino Saudita estimada em 43 bilhões de libras. Isso era demais até para o jornal Sun.
O site Wikileaks revelou que Andrew, a quem havia sido cedido o cargo de “enviado comercial errante” ofereceu propinas por acordos lucrativos em uma viagem ao Quirguistão. O príncipe, que não é conhecido por seus dotes intelectuais, deu uma “incrivelmente doce” performance em um jantar oficial no ex-Estado soviético da Ásia Central. Durante seu discurso inflamado (sem dúvida reforçado por um excesso de champanhe e vodka) ele também insultou os americanos e os franceses.
Foi uma referência a uma acusação do Escritório para Fraudes Sérias sobre suposto suborno recebido por um alto oficial saudita em troca do contrato de armas. Os comentários polêmicos foram cair nos ouvidos da embaixadora americana no país, Tatiana Gfoeller, que escreveu um relatório ainda mais “incrivelmente doce” para seus mestres em Washington. Ela acusou o filho do meio da rainha de falar “merda” e seus comentários estiveram “à beira da imbecilidade”.
Ela disse que um delegado de uma empresa afirmou que estava tentado recorrer ao suborno no Quirguistão. Em uma conversa entre convidados britânicos e canadenses, foi dito que os níveis de corrupção no país se aproximam aos vistos no território canadense do Yukon no século XIX. Sobre isso Andrew disse, às gargalhadas: “Tudo isso soa como a França.”
Principal empresa fabricante de armas para a Grã Bretanha, a BAE Systems forneceu caças aos sauditas e pagou quase 300 milhões de libras de multa para resolver acusações de propina do Escritório para Fraudes Sérias e do Departamento de Justiça dos EUA. Andrew teria explodido com investigadores anti-corrupção britânicos, que tiveram a idiotice de quase arruinar o contrato da BAE com os sauditas.
Gfoeller adicionou que os executivos britânicos presentes – que ela chamou de “filhos da mãe” – “rugiram em aprovação”. Aqui a máscara Olimpiana monárquica cai para revelar as conexões escusas entre o “Big Business” e a monarquia britânica.
De acordo com os documentos vazados, Andrew também denunciou jornalistas por investigarem propinas, se referindo a eles como “aqueles jornalistas ***** que metiam o nariz em tudo e atrapalhavam os executivos na realização de seus negócios”. Seu palavrão foi retirado do relatório vazado, mas com ou sem ele, seu significado ficou claro como diamante: O que é uma mãozinha entre amigos? Vamos lá, o que é um pouco de tortura, repressão e morte? Afinal, dinheiro não tem cheiro, certo?
Essas revelações vieram à tona apenas seis meses depois da ex-mulher de Andrew, a famosa Fergie, ter sido filmada em segredo aceitando 27 mil libras de um repórter disfarçado de magnata. Ela afirmou que por mais 500 mil libras poderia garantir acesso ao príncipe Andrew – uma oferta razoável de qualquer ponto de vista – e que deixa clara a relação entre a monarquia, o mundo dos negócios e políticas reacionárias.
A explosão de Andrew causou grande constrangimento ao Palácio de Buckingham, que, naturalmente, recusou-se a comentar o ocorrido. Tudo isso fez cair por terra o protocolo e o mito de que a família real não deve se meter em política. Isso não quer dizer que o clã Windsor não pode ter interesses econômicos ou políticos – apenas o público não pode saber deles. A única diferença entre Andrew e o restante da família é que ele tem uma boca grande e um cérebro pequeno e, portanto, comete o acinte de dizer em voz alta o que outros apenas pensam e fazem sem alarde.
Muitas das realezas de outros países com quem Andrew fez negócios estarão presentes na festa. A inclusão de violentos e corruptos ditadores árabes na lista de convidados manda uma mensagem clara ao mundo. Demonstra o caráter reacionário da aparência e da política dos supostamente apolíticos Windsor. Nada disso será noticiado pela imprensa oficial que cobre o evento. Sem dúvida eles estarão concentrados no vestido de Katie, nas músicas, na procissão até o altar e outros assuntos de vital importância para os trabalhadores e a juventude da Grã Bretanha. Com isso estão claros os verdadeiros princípios e prioridades da família real, suas amizades, conexões e interesses econômicos e, naturalmente, mostra porque a monarquia deveria ser abolida imediatamente.
Londres, 28 de Abril de 2011.