Sectarismo e oportunismo nos atos Fora Bolsonaro

Vemos uma onda crescente de insatisfação contra o governo Bolsonaro. Em maio e em junho deste ano ocorreram atos massivos em todo o Brasil e, ao que tudo indica, continuarão a acontecer em julho. Uma vez em movimento, os trabalhadores e a juventude encontraram em suas direções tradicionais – principalmente no PT, na CUT e na UNE – a conciliação de classes, tentando usar as manifestações para pressionar as vias institucionais pelo impeachment ou o oportunismo eleitoreiro, que pretende esperar as próximas eleições para tirar Bolsonaro. Para essas direções, que abandonaram a luta de classes, o “Fora Bolsonaro” deve ser uma “Frente Ampla” para unir todos que se colocam contra o governo, desde os partidos de esquerda até os setores mais reacionários da burguesia. Essa “Frente Ampla” é apenas um meio para abrir mais espaço para a conciliação de classes.

Diante dessa situação, partidos burgueses como o PDT, PSB e PSDB buscam aparecer como uma alternativa contra Bolsonaro. Além de não terem nenhuma base na classe trabalhadora, esses partidos, na prática, estão de acordo com o programa do governo Bolsonaro, que busca destruir os direitos dos trabalhadores e privatizar os serviços públicos. Esses partidos ajudaram a aprovar os principais ataques de Bolsonaro contra a classe trabalhadora e a juventude. Eles tentam se distanciar de Bolsonaro para parecerem mais viáveis à grande burguesia, que é quem de fato dá as cartas e quer “paz” para poder realizar seus negócios, enxergando em Bolsonaro um fator que aumenta a instabilidade social. Esse oportunismo descarado deveria ser repudiado pelas direções operárias e da juventude. Porém, em vez disso, são essas direções que, literalmente, convidam os partidos de direita para os atos.

No último ato, em 03/07 (3J), o Partido da Causa Operária (PCO) tentou expulsar à força o PSDB da manifestação, com cerca de 20 militantes, em um ato composto por dezenas de milhares de manifestantes. Mas, eles estariam cumprindo o papel que a própria direção dos atos deveria cumprir? Diante do ocorrido, em geral, duas posições se destacaram na vanguarda de trabalhadores e jovens. Uma afirmava que era inaceitável expulsar os partidos burgueses dos atos, pois deveríamos estar “unidos” para derrotar Bolsonaro. A outra defendia que o PCO estava correto, pois deveríamos expulsar os “infiltrados” da direita nas manifestações. Para entender isso, devemos olhar mais de perto a questão.

O PCO surgiu de um rompimento do PT, sendo fundado em 1995 e registrado como partido no TSE em 1997, e manteve uma política ultrassectária até seu giro oportunista em direção à política do PT, apoiando o retorno de um governo petista, de preferência, do ex-presidente Lula, como única saída viável para a luta da classe trabalhadora. Porém, tanto Lula quanto o PT se colocam no centro da campanha por uma “Frente Ampla” de todos contra Bolsonaro, contando, inclusive, com o PSDB.

Em um contexto de polarização política, em que as pessoas passam a procurar uma alternativa radical para resolver os seus problemas, o PCO busca manter seu oportunismo camuflado em ações aparentemente radicais, como expulsar o PSDB dos atos e atacar militantes do MBL, sem que para isso precisem romper com a política de conciliação de classes que defendem junto aos velhos aparatos adaptados da classe trabalhadora, como o PT, combinando doses de sectarismo e oportunismo. Esse é o sentido de sua orientação que vai do “Fora Bolsonaro” ao “Lula presidente”. Aparentemente, tentam se ligar às massas radicalizadas que querem derrubar o governo Bolsonaro já, mas desde que seja seguido pela ascensão de um governo petista.

Desde alguns anos atrás, principalmente a partir do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, vimos expressões ultraminoritárias de reacionários, por exemplo, do Movimento Brasil Livre (MBL), agindo para atacar manifestantes, sindicalistas, estudantes etc. Diante da falta de uma resposta contundente da esquerda, que se recusou a levantar a necessidade de organizar a autodefesa da classe trabalhadora, o PCO se agarra a essas situações para manter a aparência radical. Em 2020, por exemplo, o PCO ficou sozinho em um “ato” de seus militantes na Av. Paulista (SP), após ativistas e partidos de direita marcarem uma manifestação no mesmo local, enquanto toda a massa de jovens e trabalhadores se concentrava no Largo da Batata (SP). Nessa oportunidade, mais uma vez, o PCO tentava mostrar ao mundo que, sozinhos, combatiam a direita, mas, na prática, estavam isolados e não dialogavam com as massas.

Essa postura “vanguardista”, que tenta substituir as massas trabalhadoras na luta de classes, nada tem a ver com as ideias dos marxistas que a direção do PCO reivindica. O papel do partido revolucionário é estar junto das massas em suas lutas, ajudando-as a aprofundar sua consciência, alcançando as conclusões revolucionárias. O partido revolucionário não substitui as massas em sua luta política e revolucionária; seu papel não é fazer a revolução sozinho, mas dirigir as massas e os batalhões pesados da classe operária na derrubada do Estado burguês e na tomada do poder. Por isso, o PCO não conseguiu acabar com o MBL, nem derrotar as manifestações bolsonaristas, nem expulsar a direita dos atos, porque essa é uma tarefa dos trabalhadores sob uma direção revolucionária.

Como lição, devemos compreender que nem o oportunismo e nem o sectarismo são capazes de construir o partido revolucionário, mas a luta ombro a ombro com as massas trabalhadoras e a juventude. As ações “vanguardistas” do PCO só serviram para que a mídia e a direita apresentassem os legítimos atos “Fora Bolsonaro” como manifestações “violentas” e “intolerantes”, levando parcelas dos trabalhadores e da juventude a apoiarem a expulsão do PCO dos atos seguintes pela direção dos atos, ou seja, que organizações de esquerda expulsem outra organização de esquerda do ato em solidariedade aos partidos de direita! Isso não vai aprofundar a consciência política das massas. Pelo contrário, pode ajudar a afastar alguns que desejam, de fato, derrubar o governo Bolsonaro já e construir uma alternativa revolucionária.

Para construir o partido revolucionário, é necessária a Frente Única das massas trabalhadoras e da juventude em torno da luta para derrubar Bolsonaro já e construir um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais. Não existem atalhos na luta de classes. Essa não é uma tarefa fácil, mas é um caminho que pode abrir uma alternativa revolucionária e independente, ganhando mais e mais trabalhadores e jovens para o programa marxista, para a construção do partido revolucionário, que é forjado na luta de classes e não em ações isoladas de pequenos grupos. Estamos num período de crise mundial do capitalismo, sem previsões de melhora para a classe trabalhadora e a juventude. A única saída que a classe dominante tem é cortar direitos e piorar as condições de vida das massas para aumentar seus lucros. Por outro lado, a única arma da classe trabalhadora é a sua organização.

Por isso, convidamos todos os jovens e trabalhadores a conhecerem a Esquerda Marxista de São Paulo, em nossa atividade de apresentação no dia 17/07 (sábado), às 14h. O evento será virtual, realizado pelo aplicativo Zoom. Inscreva-se!