Segundo dia da Escola de Quadros da EM debate 3º e 4º Congressos da Internacional Comunista

Aconteceu no último sábado (20/4) o segundo e último dia da Escola de Quadros da Esquerda Marxista (EM) em 2019. A atividade reuniu nos dias 19 e 20 de abril militantes de todo o Brasil para discutir o tema da escola, “100 anos da Internacional Comunista”, e as lições que podem ser aplicadas nos dias de hoje.

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A manhã do segundo dia se concentrou no 3º Congresso da Internacional Comunista, com informe do camarada Alex Minoru. Realizado entre junho e julho de 1921, o 3º Congresso foi o que reuniu o maior número de delegados. Ele foi precedido pelo surgimento de novos partidos comunistas ao redor mundo, em vários casos vindos de cisões dos partidos socialdemocratas. Foi o caso do PC da Tchecoslováquia, o PC da Itália, o PC da França. Na Alemanha, uma cisão no Partido Social Democrata Independente se juntou ao Partido Comunista, formando o Partido Comunista Unificado da Alemanha com cerca de 350 mil membros.

Ao mesmo tempo, a guerra civil na Rússia, que se prolongou após a tomada de poder por parte dos bolcheviques, terminava com a vitória do Exército Vermelho, impedindo a ofensiva da contrarrevolução. Mas o país estava devastado economicamente, com falta de alimentos e produtos. Como medida para impulsionar a produção no país, foi lançada a Nova Política Econômica (NEP), em que o recém-fundado Estado operário, sem realizar nenhuma desnacionalização e mantendo o controle geral sobre a economia, flexibilizou a introdução de medidas de livre comércio, incluindo  arrendamentos a empresas estrangeiras em troca de recursos e equipamentos industriais.

Na Europa, a derrota da Revolução Alemã e de outras que se seguiram à Revolução Russa havia levado a um esgotamento da energia revolucionária das massas. A economia capitalista também experimentava uma retomada após o fim da 1ª Guerra Mundial. Nesse contexto, houve também um fortalecimento da socialdemocracia.

Nesse cenário, Lenin e Trotsky fizeram no 3º Congresso a defesa da tática de frente única como forma de intervenção na luta de classes. Já na Revolução Russa de 1917, podemos ver exemplos do uso dessa tática: as palavras de ordem “Abaixo os 10 ministros capitalistas”, que criticava o caráter burguês do governo provisório que tomou o poder após a queda do czar, e “Todo poder aos sovietes”, ainda que a maioria dos sovietes estivesse nas mãos dos mencheviques e socialistas revolucionários, evidenciava a luta pela unidade do movimento proletário e a cobrança para que a direção majoritária do movimento cumprisse o papel que lhe cabia.

Em março de 1921, o Partido Comunista Unificado da Alemanha realiza uma tentativa precipitada de tomada do poder. Essa ação, no entanto, não estava fundamentada na ação de massas e o próprio partido não tinha forças para garantir que o movimento de greves se espalhasse por todo o país. A tentativa termina derrotada e o partido perde uma grande quantidade de militantes. Durante o 3º Congresso, a ação é discutida e seus erros avaliados.

À época do 3º Congresso, o fascismo ganhava força na Itália e outros países europeus, com a formação de partidos e corpos armadas dedicados a aterrorizar a classe trabalhadora e atacar suas organizações. O Partido Comunista Italiano resistia a adotar uma tática de unidade com o movimento antifascista para combater a nova ameaça. A direção da Internacional interviu nessa questão reorientando a seção a buscar a máxima unidade no combate ao fascismo.

Anos depois (na década de 30), no Brasil, um pequeno grupo de trotskistas, compreendendo a necessidade da frente única contra o fascismo, organizou uma frente contra os camisas verdes integralistas (os fascistas brasileiros na época). A ação culminou no episódio conhecido como “A revoada das galinhas verdes”, que na prática destruiu a organização do fascismo no Brasil.

Foi tema de discussão também do ponto a resolução sobre o trabalho dos comunistas junto às mulheres proletárias, compreendendo a luta pela libertação do sexo feminino como parte da luta da classe trabalhadora para pôr abaixo o capitalismo. Além da resolução sindical, que enfatiza que os sindicatos não são e não devem ser neutros politicamente.

O 4º Congresso

O informe seguinte foi dado pelo camarada Caio Dezorzi a respeito do 4º Congresso da Internacional Comunista. Realizado entre novembro de dezembro de 1922, o 4º Congresso reforçou a importância da tática de frente única e seus desdobramentos na luta que surgia naquele ano.

Por causa da saída de grandes frações dos partidos socialdemocratas para formar os partidos comunistas na Europa, a Internacional passou a ser acusada de dividir o movimento da classe trabalhadora. A partir da tática adotada, ficou claro que os responsáveis pela divisão e pelo travamento da luta proletária eram os líderes da socialdemocracia, que compunham governos reacionários de ataque aos trabalhadores.

Outra importante ferramenta política adotada no 4º Congresso foi a da frente única anti-imperialista, direcionada aos países atrasados em que a dominação colonial e a submissão da burguesia nativa em relação aos grandes países capitalistas abria uma frente de lutas que era capaz de elevar a consciência das massas.

Entre as resoluções, foram estabelecidas condições de participação em diversos tipos de governos operários não comunistas, conforme a sua composição e caráter de classe.

A atualidade da Internacional Comunista

Além do debate teórico acerca da política defendida por Lenin e Trotsky nos primeiros congressos da Internacional, a atividade teve como papel fundamental demonstrar a importância da teoria para a luta dos trabalhadores hoje.

Passados 100 anos desde a fundação da Internacional Comunista, a frente única permanece como tática fundamental da intervenção dos comunistas no movimento operário. Ela não se trata, no entanto, de baixar bandeiras ou mesmo refrear as críticas contra as organizações traidoras da classe trabalhadora, mas de ganhar frações mais avançadas da classe e abrir caminho para a elevação do nível de consciência e de organização do proletariado para a vitória da revolução socialista.