Desde o dia de ontem, a cúpula da burguesia hondurenha, utilizando-se de todo o aparato repressivo do Estado, vem impondo o terror no pequeno país da América Central. Mas o povo trabalhador resiste nas ruas!
O Presidente eleito de Honduras, Manuel Zelaya, foi seqüestrado pelo Exército e levado à força para a Costa Rica, na manhã de ontem (28 de Junho). O Congresso de Honduras reuniu-se horas depois (num Domingo!), leu uma “carta de renúncia” de Zelaya (uma falsificação grosseira, desmentida por Zelaya na Costa Rica) e nomeou o presidente do Congresso, Roberto Micheletti como “novo Presidente”. Este, como todo golpista de plantão, começou decretando um “toque de recolher” de 48h para poder proibir manifestações e greves contra o “novo governo”. Enfim, todo o esquema clássico dos golpes de Estado que proliferaram na América Latina nas últimas décadas.
O golpe ocorreu quando faltava apenas uma hora para ter início a votação em urna do plebiscito que poderia aprovar a convocação de uma Assembléia Constituinte para reformar a constituição de Honduras.
Levar adiante este plebiscito é que foi considerado o “crime” do Presidente Zelaya para que o Exército daquele país, obedecendo as ordens do General Romeo Vásquez Velásquez e com acordo da Corte Suprema, seqüestrasse o Presidente Manuel Zelaya e o levasse preso para a Costa Rica, iniciando em seguida uma série de ações autoritárias e de terror contra o povo de Honduras.
Nenhum governo de qualquer país, nem mesmo os EUA, reconheceu o golpe militar como legítimo. Pelo contrário, todas as declarações de chefes de estado e porta-vozes de diversos países têm sido de condenação do golpe. Isso mostra que o golpe militar foi uma ação isolada da cúpula burguesa de Honduras que ficou desesperada com as últimas medidas do Presidente Zelaya que vinha se apoiando nas manifestações do povo hondurenho para promover uma reforma constitucional no país.
O plebiscito marcado para 28 de Junho havia sido rejeitado pelo Congresso e foi determinado como ilegal pela Suprema Corte. O Exército é o responsável pela segurança e logística das eleições em Honduras. Zelaya pediu aos militares que cumprissem seu papel eleitoral no plebiscito de 28 de Junho, mas o chefe do comando militar, General Romeo Vásquez Velásquez, recusou obedecer a ordem de distribuir o material eleitoral. Zelaya então o removeu de seu cargo, mas a Corte Suprema determinou que ele fosse reintegrado. O Presidente Zelaya organizou então um protesto em uma base da força aérea e liderou uma marcha a fim de conseguir a posse do material eleitoral ali detido pela polícia nacional.
O Congresso havia começado a discutir uma forma de promover o impeachment de Zelaya, mas não possuía um caminho fácil e rápido de fazê-lo antes do plebiscito.
Fica flagrante, portanto, que o golpe militar executado apenas uma hora antes do plebiscito foi uma ação desesperada para impedir o povo hondurenho de se expressar e para remover do poder um presidente que, embora tenha sido eleito como candidato burguês, vinha cada vez mais se apoiando no povo trabalhador e enfrentando a ordem burguesa.
Terror instalado no país
Soldados ocuparam várias áreas estratégicas da capital. Foram expedidos mandados de prisão contra todos os ministros de Estado e contra diversos dirigentes sindicais e líderes de movimentos sociais. Além disso, vários eleitores foram presos em Tegucigalpa e San Pedro Sula ao tentarem votar no plebiscito. Alguns jatos sobrevoaram a capital durante a manhã de Domingo.
Algumas horas após o golpe, Zelaya falou com a mídia em San José, na Costa Rica, chamando os eventos de “um golpe” e “um seqüestro”. De acordo com ele, soldados o tiraram da cama e agrediram seus guardas. De acordo com o embaixador venezuelano na OEA (Organização dos Estados Americanos), os embaixadores de Cuba, Venezuela e Nicarágua em Honduras foram seqüestrados pelos militares e transportados para o aeroporto. De acordo com o presidente venezuelano Hugo Chávez, o embaixador venezuelano foi agredido por soldados e deixado à beira de uma estrada.
Segundo veículos da imprensa internacional, César Ham, um político considerado de esquerda no país e que já foi candidato à presidência, foi assassinado pelo Exército após resistir à prisão.
Micheletti declarou um toque de recolher para os próximos dois dias no país e ele disse que vai analisar se a medida deve ser estendida! A internet e a telefonia são cortadas e restauradas a todo momento.
Resistência e luta
Mas o povo resiste! A ministra das relações exteriores de Honduras, Patricia Rodas, chamou o povo às ruas para “lutar pelo retorno do presidente a Honduras”. Apesar do toque de recolher, ontem mesmo milhares saíram às ruas. Está marcada para hoje uma greve geral no país contra o golpe militar.
Já no Sábado, quando havia rumores de um golpe, o povo começou a se mobilizar. No Domingo de manhã, a eletricidade e a comunicação telefônica foram suspensas em Tegucigalpa, capital do país, durante o momento da prisão do presidente. Mesmo assim, isso não impediu que uma multidão se reunisse em frente à residência do Presidente Zelaya para atirar pedras nos soldados que o levavam preso, enquanto gritavam: “traidores, traidores”.
Honduras é um país muito pobre e tem sua economia baseada principalmente na exportação de café e banana. A crise econômica mundial já afeta essas exportações. As condições de vida do povo hondurenho tendem a piorar ainda mais.
Com cerca de 80% da população com menos de 20 anos de idade, o país tem uma volumosa juventude que não terá medo de sair às ruas para enfrentar a repressão. O povo mobilizado pode derrotar esse golpe, assim como fez o povo venezuelano em 2002, desmoralizando a burguesia e fortalecendo o movimento dos trabalhadores e da juventude no país e na região, dando novo impulso à revolução na América Latina.
Nenhuma esperança ou resolução da OEA, ONU ou de outros governos pode resolver a questão e pôr fim ao golpe militar. Só o povo trabalhador organizado e mobilizado pode pôr fim ao golpe e ao sofrimento permanente que significa a dominação burguesa a serviço do capital internacional e das oligarquias nativas. O próprio Zelaya, que viu o golpe ser preparado nas suas barbas, não para de afirmar que quer que sejam “pacíficas” as manifestações contra o golpe e busca uma espécie de “reconciliação” com os golpistas, propondo que encontrem juntos alguma maneira de restabelecer a “harmonia” e a “democracia”. Mas esta negociação não encontra eco e os golpistas já decidiram o que fazer.
Todo o empenho de Zelaya, da OEA e da ONU, assim como do governo brasileiro, é de defesa das instituições “democráticas”, ou seja, das instituições burguesas e capitalistas. Para o povo de Honduras o que está em jogo é a esperança de poder “mudar a vida” varrendo este congresso e estas instituições capitalistas podres. É por isto que o povo respaldou a iniciativa de plebiscito convocada por Zelaya. A possibilidade de uma Constituinte que varresse o país é que embala a resistência popular. E o golpe tem como objetivo final atacar os interesses e as parcas conquistas da classe trabalhadora, dos camponeses e da juventude hondurenha.
O chamado das organizações sindicais e políticas da classe trabalhadora à Greve Geral indefinida contra o golpe é a questão central nesta luta para derrotar o golpe. É a entrada da classe trabalhadora com seus métodos de luta e sua capacidade que pode enfrentar e resolver a questão. Mas este processo só pode chegar a um desenlace positivo com a construção de um verdadeiro partido operário independente e revolucionário e a liquidação do regime da propriedade privada dos meios de produção. De outra maneira veremos de tempos em tempos o retorno dos golpes militares e do massacre do povo trabalhador e suas organizações.
Nós, da Esquerda Marxista, seção brasileira da Corrente Marxista Internacional, apoiamos plenamente o povo hondurenho em sua luta pela soberania e controle de seu próprio destino. A Esquerda Marxista é incondicional contra o golpe e pela mais ampla Frente Única para derrubá-lo imediatamente. Neste combate é que os trabalhadores devem vigiar e manter sua independência completa diante burguesia. Os trabalhadores do Brasil e de todo o mundo devem repudiar o golpe militar e as ações terroristas da burguesia hondurenha e manifestar total solidariedade ao povo trabalhador de Honduras!
Abaixo o Golpe Militar!
Prisão e punição de todos os golpistas!
Liberdade de manifestação e organização do povo hondurenho!
Todo apoio à Greve Geral e à luta contra o golpe!
Viva a luta dos trabalhadores do campo e da cidade de Honduras!
Esquerda Marxista
29 de Junho de 2009.