Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas

SP: reabertura em meio ao aumento do número de casos e mortes

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 09, de 25 de junho de 2020. CONFIRA A EDIÇÃO COMPLETA.

Na data em que escrevemos esse artigo, no Estado de São Paulo os casos confirmados de pessoas que contraíram o Covid-19 é mais de 211 mil e de 12,2 mil mortos 1. É o estado mais afetado pela pandemia e entre os dias 18 e 19 de junho, mantinha a média recorde de quase 400 mortos diários pela doença.

Considerando a subnotificação e que, sendo especialistas da UFpel, para cada caso confirmado, existem mais 7 nas grandes cidades brasileiras, podemos dizer que os números de SP são muito piores 2. Podemos tranquilamente falar 500 mil infectados, e milhares de mortos a mais.

Fato é, a pandemia ainda se desenvolve em um crescente no país e, mesmo assim, no Estado de SP a reabertura segue a passos largos.

Desde 10 de junho o comércio de rua e o setor imobiliário começam a voltar na capital paulista. Isso foi feito a partir de protocolo que terá o “compromisso” de mais de 27 entidades da burguesia para a adoção de EPIs em seus estabelecimentos para garantir o funcionamento “adequado”. Mais recentemente, divulgam os planos para a reabertura dos parques e em julho haverá provavelmente o início da volta às aulas.

Segurança do trabalho e reabertura

Em 2019, o Brasil ocupava o quarto lugar no ranking mundial de acidentes do trabalho: são 700 mil casos por ano, um a cada 3 horas e 40 minutos 3. Isso, em tempos normais de capitalismo senil. Agora, os governos Dória e Covas querem nos fazer acreditar que essas mesmas empresas que ignoram os protocolos mais básicos de segurança vão, agora, por conta do coronavírus, investir na segurança do trabalho, como nunca, e defender a vida dos trabalhadores? A hipocrisia burguesa não tem limites. Vamos aos fatos.

Já no primeiro mês da pandemia, a Associação Médica Brasileira denunciou a falta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) em instituições de saúde por todo o país 4. Outros levantamentos apontam que 50% dos médicos brasileiros atestam falta de EPIs (5). Nas duas primeiras semanas de pandemia já havia 855 denúncias de falta de equipamentos na cidade de SP 6. Há relato de SP que afirma a gestão hospitalar ter feito o mesmo trabalhador da saúde utilizar a mesma máscara por semanas. Fora que há equipamentos com defeito que não são trocados. Isso na saúde!

No privatizado transporte público da capital paulista o próprio sindicato patronal reconhece dezenas de mortes causadas pelo coronavírus e denuncia a falta de EPIs 7. Se não há proteção aos trabalhadores do transporte, imagine aos transportados!

Nas escolas a situação é de barbárie, não há quantidade de sabão suficiente, quanto mais álcool gel. As condições de salubridade são mínimas e com a reabertura, a educação se tornará um potencializador ainda maior da disseminação do vírus.

Não podemos esperar qualquer preocupação da burguesia com as vidas proletárias. A reabertura atende a seus interesses por lucro. Da mesma forma que as irregularidades permanentes quanto à falta de EPIs atenderão ao mesmo objetivo, sacrificando mais milhares de trabalhadores em nome do capital.

Covas/Dória x Bolsonaro: uma oposição oportunista entre setores da burguesia

O que ocorre agora desmonta as ilusões inclusive de direções sindicais em uma suposta guinada à esquerda de Dória. Quando foi útil se opor a Bolsonaro defendendo o isolamento social, Dória o fez. Agora que a pressão de sua classe, da burguesia, do empresariado cresce, ele, claramente, atende aos seus companheiros de classe.

O compromisso de Dória foi sempre com sua classe. A burguesia não se importa com a classe trabalhadora, somente atenta à quanto pode lucrar com nossas vidas.E agora, em meio a mais uma crise econômica profunda, é claro que o ônus da pandemia vai recair sobre o proletariado.

É preciso continuar os negócios, que morram os trabalhadores: eis a palavra de ordem burguesia agora expressa de modo declarado, seja na verborragia de Dória e Covas, seja na truculência típica de Bolsonaro.

Aos trabalhadores só resta sua organização independente e a luta.

Fontes:

1 https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/06/19/brasil-passa-de-1-milhao-de-casos-de-covid-19-revela-consorcio-de-imprensa.htm

2 https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-06/pesquisa-da-ufpel-estima-subnotificacao-de-casos-de-covid-19-no-brasil

3 https://atarde.uol.com.br/empregos/noticias/2058823-brasil-ocupa-quarta-posicao-no-ranking-de-acidentes-de-trabalho

4 https://amb.org.br/noticias/denuncie-a-falta-de-epis/

5 https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-04/coronavirus-pesquisa-mostra-que-50-dos-medicos-acusam-falta-de-epi

6 https://noticias.r7.com/sao-paulo/profissionais-de-saude-registram-855-denuncias-em-sp-por-falta-de-epis-31032020

7 https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/04/25/sp-motoristas-e-cobradores-trabalham-sem-epis-sindicato-admite-15-mortes.htm