Imagem: Sinte/SC, Instagram

Suspensa a greve do magistério de SC: uma categoria gigante e uma direção sindical miúda

Os trabalhadores em educação de Santa Catarina encerram em 8 de maio uma greve de 15 dias, iniciada em 23 de abril. O Sinte, maior sindicato do estado, tem hoje uma base de 18 mil efetivos na ativa, 28 mil contratados em caráter temporário (ACTs) e 31 mil aposentados e pensionistas. Ou seja, um sindicato gigante, que representa um universo de 77 mil trabalhadores. Mas para além de falar do potencial dessa categoria em quantidade, é fundamental analisar a sua força e o seu potencial de luta. 

Nesses 15 dias, o magistério catarinense mostrou um vigor de luta enorme, lembrando-nos da atuação desta categoria em ações históricas, como a luta contra a Ditadura Militar e a “Novembrada”, ainda como Associação dos Licenciados de SC (Alisc). Agora, mais uma vez a história se fez presente e os jovens, ampla maioria que compunham a greve, mostraram sua disposição. 

No entanto, como disse o revolucionário Leon Trotsky, “o problema da humanidade é um problema da direção revolucionária”. A direção do Sinte, que em verdade está à frente da entidade desde 1988, mostrou o quão pequena está e o quanto não atende mais às necessidades dos trabalhadores. 

Em 30 de abril, a categoria demonstrou sua força e fez um grande ato em Florianópolis. No dia seguinte, a OCI divulgou uma avaliação do ato e das necessidades que tínhamos, no texto “Nove dias de greve do magistério catarinense: avaliação, lições e luta”. Nele, alertamos que, se a direção não aumentasse o tom e não mostrasse o caminho, a greve retrocederia: 

“Exigimos medidas imediatas, mesa permanente, assembleias, informação, comandos, piquetes, ações que aumentem a confiança da categoria de permanecer na greve e que arranque o governo da sua já instável posição. A direção do sindicato tem todas as condições de fazer isso, basta querer. Os rumos do movimento dependerão do que a direção fizer nas próximas 24, 48 horas. Estamos em guerra, o método, a direção, a comunicação é fundamental.”  

A direção, como esperado, fez o oposto do que apontamos como a única saída ao movimento. Não deu um retorno contundente nem mesmo onde o comando aprovou medidas e muito pouco ou nada saiu do papel. Depois do dia 30, a greve foi totalmente desarticulada, nada mais funcionava. Essa foi obviamente uma ação premeditada. A direção construiu o caminho para que não pudéssemos avançar. Todas as forças foram em direção ao parlamento e a mobilização e debate de como ampliar a greve foram esquecidos. Além disso, ao invés de explicar o papel do Judiciário, criaram-se ilusões de que a salvação poderia ser jurídica. 

A categoria que, por sua natureza de classe, sabe que o Judiciário não está ao seu lado, começou a recuar. O governo, por sua vez, aumentou o tom. Assim, chegamos no dia 8 de maio com um número muito inferior ao dia 30. 

Nesta assembleia, um dia após propagandear aos quatro cantos uma vitória jurídica, o sindicato foi obrigado a admitir que o jurídico não podia garantir a vitória do movimento em si. Não bastasse, não teve a hombridade de explicar à categoria os números da greve e as dificuldades de continuar o movimento. 

Ou seja, em todos os momentos agiu como uma direção miúda e desqualificada diante da grandeza da categoria. 

A oposição sindical “oficial”, por sua vez, mais uma vez mostrou que faz política eleitoral e não para a categoria. Tenta se diferenciar a qualquer preço, mesmo que às custas de derrota e da deseducação de classe. 

Lembremos que esse grupo já dividiu a gestão do sindicato junto com a atual direção, no período em que a entidade era proporcional (2005 a 2013) e é composto por “independentes”, PSTU, PCB, Sinte pela Base, Resistência, Alicerce, grupos anarquistas, entre outros. 

Na assembleia, eles contribuíram para um verdadeiro show de horrores. Em primeiro lugar, com um comportamento de guerrilha: militantes posicionados com braços cruzados com o intuito de acuar as falas. Depois, com propostas infantis de novos pedidos ao governo, ignorando números de adesão à greve para galgar o título de “mais” combativos, ainda que sozinhos, ou seja, de heróis acima da categoria. 

Não comungamos desse método. Compreendemos que não somos heróis e que a disputa do aparelho sindical não está acima da educação política da categoria. Aliás, a educação política é a única forma de disputar a direção do sindicato. Uma avaliação de greve só pode se dar com a análise dos números reais, com a possibilidade de ampliação, com a força moral da tropa no momento e não com fantasias infantis para se diferenciar no discurso.  

Na intervenção da OCI na assembleia, procurou-se avaliar concretamente o movimento. Isso é marxismo. É preciso ter a coragem de dizer a verdade, é preciso ter método, é preciso ter números, é preciso avaliar a realidade. 

O professor e militante da OCI, Adilson Mariano, da regional de São Bento do Sul, defendeu na assembleia a suspensão imediata da greve e explicou a necessidade de recuo para recomposição das forças, defendendo o debate político para unificar a luta dentro dos locais de trabalho. 

Em linhas gerais, ele explicou com base na realidade atual – e não na disposição particular de cada presente – que a greve em si, naquele momento, não conseguia mais se sustentar. Greve é massa, é muita gente paralisando suas atividades e estabelecendo uma verdadeira guerra contra o patrão. Os números dispersos apresentados, no entanto, representavam uma adesão de menos de 10% da categoria e diminuindo. Portanto, já não existia uma greve capaz de avançar. Não entender isso poderia significar uma derrota. 

Nosso camarada explicou ainda que uma greve é feita com os trabalhadores nas ruas, não é uma guerrilha ou terrorismo individual, muito menos uma disputa de ações judiciais.

Neste ponto deixamos claro que o Judiciário é um órgão do Estado burguês. Não é um instrumento de luta da classe trabalhadora. No dia 7 de maio, o jurídico do sindicato ganhou uma liminar, mas essa decisão poderia ser revertida pelo governo em poucas horas, porque o Judiciário não é uma arma dos trabalhadores, é uma arma do Estado contra nós. Portanto, só podemos confiar na força da nossa luta.

Acima de tudo, explicitamos que a categoria não saiu derrotada. Não perdemos a batalha, apenas reconhecemos as armas do inimigo: o assédio violento, a ameaça de demissão e a tentativa de proibição do direito à greve. Assim, ainda que tenhamos deixado claro todas as críticas à condução da greve por parte da direção, naquele momento era preciso avaliar a situação concreta, de recuo ou de continuidade. 

Por isso, defendemos o retorno ao trabalho com o objetivo de preservar as forças da categoria, ainda que a proposta do governo tenha sido insignificante, esse recuo preserva e nos dá a certeza de que podemos construir algo muito maior, que há disposição dos trabalhadores para isso. 

Nós, trabalhadores do magistério militantes da OCI, temos plena convicção de que esses 15 dias representaram um salto de consciência para nossa categoria. 

Vimos milhares de jovens trabalhadores da educação se mobilizarem contra o governo. Aliás, tenta-se vender a ideia que essa foi uma greve de ACTs. Mas isso é somente em parte verdadeiro. Essa foi uma greve dos trabalhadores mais jovens, de uma nova geração que em breve será a maioria da categoria e que teve sua primeira experiência concreta de luta. 

É verdade que o desfecho não foi o ideal, mas está muito longe de ter sido uma derrota. Do ponto de vista da elevação política da categoria, podemos dizer que avançamos e isso só pode nos servir de ânimo para que construamos uma direção para o Sinte com as novas gerações. 

Como diria Lênin, a tarefa dos comunistas diante das massas em luta é explicar, explicar e explicar pacientemente sobre todos os aspectos da luta de classes. Por isso, se você tem acordo com nossa avaliação, junte-se a nós nesse combate.