Possibilidades ao entrar num novo ano.
2008 não acabou. Nem vai acabar tão cedo. Como a guerra no Oriente Médio. Recomeçou pequena, no final de 2008, na estreita faixa de Gaza, mas deve se ampliar proximamente. Em direção de Teerã, próxima parada mais provável do Armagedom imperialista. Soam os tambores de mais uma guerra imperialista. Até que enfim. Dependendo dos seus desdobramentos, no sentido de uma guerra verdadeiramente mundial, pode revelar sua função revolucionária na economia do universo, quer dizer, no desdobramento da história real da espécie humana. É sempre oportuno, nestes felizes momentos em que se pode vislumbrar o desaparecimento da paz dos cemitérios globalizados, relembrar o grande Heráclito, para quem “a guerra é a mãe e a rainha de todas as coisas… a guerra e a justiça são conflitos e, por meio do conflito, todas as coisas são geradas e chegam à morte”. Bingo!
Beleza Americana
Esqueçam George W. Bush, o álibi (ou bode expiatório) nos últimos anos para todos os partidários, ingênuos ou mal intencionados, ou as duas coisas, da ideologia de um novo e pacífico ultra-imperialismo. A ordem de invadir o Irã será dada por Barack Hussein Obama, “o primeiro negro eleito presidente dos EUA” e, diga-se de passagem, por Hilary Clinton, nova secretária de Estado, a primeira loira a chefiar a política externa da maior potência militar do planeta. Atualmente é uma negra (a simpaticíssima Condoleezza Rice) que exerce esta imunda função. Parece que não seria o matriarcado, como imaginavam alguns generosos utopistas da fase idílica da civilização, que poderia garantir a existência mais harmoniosa de uma sociedade de produtores livres e associados.
Esqueçam também qualquer suposta diferença entre os republicanos de Bush e os democratas de Obama, de que a democracia americana tem virtudes insondáveis que podem repentinamente mudar o curso catastrófico da geopolítica imperialista e outros leros pacifistas. Tudo se decide coletivamente (ou totalitariamente, de preferência) nos desígnios das classes dominantes americanas. No mesmo dia em que a ridícula e escandalosamente inútil Organização das Nações Unidas (ONU) aprovava uma resolução (sem o voto dos EUA) exigindo um imediato cessar-fogo no holocausto palestino, naturalmente desdenhado por Tel Aviv, o majoritariamente democrata (e democrático) Congresso dos Estados Unidos aprovou, por unanimidade, uma resolução exatamente oposta: “O Congresso dos Estados Unidos adotou nesta sexta-feira, por unanimidade, uma resolução de apoio a Israel, que destaca o ‘direito do Estado hebreu de se defender dos ataques de foguetes do Hamas”. (France Presse/G1, 10/01/2009).
É impressionante essa beleza da democracia: a resolução do Congresso americano sancionando mais essa campanha imperialista no oriente médio foi aprovada por unanimidade! Nem um votinho contra. Nenhuma abstenção. A política do capital plenamente desenvolvido é verdadeiramente grotesca. Vejam a declaração da presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, a respeito desta resolução oficializando o genocídio imperialista sobre a população palestina: “Hoje reafirmamos que Israel, como todo país, tem o direito de se defender quando é atacado. O lançamento de foguetes e disparos de morteiros de Gaza tem aumentado em freqüência e intensidade, o que constitui uma ameaça inaceitável, que Israel tem a responsabilidade de responder”. (idem)
Cegueira popular
Mas para invadir o Irã será diferente. Lá os EUA dos sanguinários Pelosi, Obama, Hilary e tutti quanti terão que usar seus próprios soldados. Não dá para continuar terceirizando eternamente os soldados do fantoche Estado de Israel, como acontece atualmente na faixa de Gaza. É por falta dessa clareza da realidade imperialista, tão didaticamente exposta pelas recentes decisões privadas e resoluções públicas dos capitalistas americanos, que a maior parte das manifestações populares em todo o mundo contra o genocídio palestino dirige-se não diretamente contra Washington, mas principalmente em direção de embaixadas israelenses e do seu governo fantoche instalado em Tel Aviv. Falta-lhes teoria. Estão mirando no alvo errado. Assim, não influenciarão em nada para a interrupção do genocídio em Gaza e nem mesmo para a diminuição do cinismo das justificativas imperialistas para a guerra.
Agora a Palestina, depois o Irã. E depois? Uma coisa pelo menos é certa: a possibilidade altamente revolucionária de uma nova guerra mundial depende inicialmente do desenrolar da atual crise econômica – e dos próprios resultados da próxima guerra contra o Irã, é claro. A extensão da guerra e das turbulências geopolíticas nos próximos meses e anos se realizará na exata proporção da depressão econômica global, de um lado; de outro, dos imprevisíveis resultados da ingovernabilidade imperialista global, das guerras civis e das guerras internacionais localizadas que devem pipocar nas várias áreas geoeconômicas do mercado mundial.
Essas relações entre a economia e a guerra imperialista serão, evidentemente, objeto de mais extensas análises em futuros boletins. Fiquemos por ora na análise da possibilidade real da depressão econômica global. Afinal, é dessa possibilidade (apenas possibilidade) material que se pode falar de uma guerra capaz de também se globalizar. Alguém falou em depressão econômica? Pode ser um pouco precipitado, por enquanto, garantir que o atual período de crise vai desembocar em uma verdadeira crise catastrófica. Mas não faltam sinais simbólicos, devidamente autenticados por outros brilhantemente materiais, que nos permitem continuar acreditando que esse revolucionário cenário possa tornar-se muito brevemente o mais provável no horizonte do agitadíssimo mercado mundial. Traremos esses sinais e outros mais recentes ao próximo boletim. Que Marx, Engels e Rosa de Luxemburgo nos amparem! Amém.
* Este texto foi publicado no boletim Crítica Semanal da Economia.