Foto: Marcos Vicentti

Tragédia no Acre: alagamentos, pandemia e capitalismo

No fim de fevereiro, o Acre ocupou manchetes de jornal e gerou comoção nas redes sociais por causa da situação de calamidade em que se encontrava após a cheia dos rios em diversas cidades. Com os alagamentos, o estado se torna ainda mais vulnerável à Covid-19 e vê os casos da doença subirem rapidamente enquanto a vacinação permanece muito abaixo da meta.

Ao todo, mais de 130 mil pessoas foram atingidas em 10 municípios do estado. Entre as cidades mais afetadas está Tarauacá, que chegou a ficar 90% debaixo d’água. Dos cerca de 43 mil habitantes, 28 mil foram afetados pela cheia do Rio Tarauacá e perderam móveis, eletrodomésticos, automóveis e em alguns casos até a própria casa. Com a invasão das águas, os casos de doenças de veiculação hídrica aumentaram exponencialmente, principalmente a dengue, colocando em risco o já frágil sistema de saúde local.

O mesmo pode ser visto em Cruzeiro do Sul, segunda cidade mais populosa do estado, onde 30 mil pessoas foram atingidas pela cheia do Rio Juruá e 900 permanecem em abrigos públicos. Mesmo com o nível das águas baixando, há risco de novas enchentes e de desabamentos de casas e encostas. Durante o ápice da cheia, 10 mil pessoas ficaram sem energia elétrica e mais de mil continuam com o fornecimento interrompido. Em todo o Acre mais de 3 mil pessoas estão sem energia.

Após as águas recuarem, o que se vê é destruição e sujeira. Lama, lixo e entulho ameaçam a saúde e a segurança da população e elevam o risco de doenças como leptospirose, cólera, hepatite e diarreias. O risco de acidentes também aumenta com estruturas e fiação elétrica expostas.

Ao mesmo tempo, a Covid-19 não dá trégua. Hospitais particulares em Rio Branco já chegaram a 100% da ocupação de leitos e suspenderam novos atendimentos, o que sobrecarrega ainda mais a rede pública. No SUS, os leitos de enfermaria e UTI exclusivos para Covid-19 estão com 91% de ocupação e devem se esgotar rapidamente na próxima semana.

O governador Gladson Cameli (PP) havia anunciado medidas restritivas a partir do último fim de semana para tentar conter os novos casos, mas adiou seu início para o dia 13 de março. No entanto, mesmo o decreto anunciado é ineficiente, já que fecha supermercados e postos de combustível aos finais de semana, mas permite o funcionamento de igrejas. A justificativa do governo é que elas “contribuem de forma social e emocional no período de pandemia”.

Com o fim dos estoques, a vacinação para idosos acima de 72 anos e profissionais de saúde foi suspensa. Segundo um consórcio de veículos de imprensa, o Acre é o estado com menor cobertura vacinal no Brasil, com apenas 0,65% da população imunizada. Bolsonaro e Pazuello estiveram no estado devido à cheia dos rios, mas não anunciaram nada de concreto em relação ao combate à Covid-19.

Nenhuma dessas calamidades deve ser entendida como mera obra do acaso ou “catástrofe da natureza”. Os alagamentos no Acre, assim como em outros estados brasileiros, são fruto direto da política de ocupação das cidades sob o regime capitalista, onde as áreas mais seguras e com melhor infraestrutura são destinadas aos ricos enquanto a imensa maioria da classe trabalhadora vive sob risco de inundações de desabamentos.

Da mesma maneira, os efeitos da pandemia escancaram a incapacidade do sistema capitalista em garantir a saúde e a segurança da classe trabalhadora, ainda que haja técnica e recursos em abundância para isso.

Um dos últimos estados brasileiros em população e PIB, o Acre sofre de maneira ainda mais acentuadas as consequências da crise. O pacto federativo, um dos sustentáculos do regime burguês no Brasil, pouca utilidade tem para esse estado que nasceu para garantir a riqueza da borracha à burguesia brasileira, mas foi abandonado logo que o interesse econômico chegou ao fim.

Como marxistas, defendemos uma república operária em que a economia nacional planificada seja capaz de garantir que toda a riqueza produzida seja distribuída de maneira adequada mesmo aos rincões mais pobres e distantes dos grandes centros. Mas para que isso se torne realidade é preciso derrubar o sistema capitalista, esse cadáver insepulto que impede o progresso da humanidade e nos aflige constantemente com a opressão e a barbárie.