O coronavírus balançou o mundo todo e não poderia ser diferente no país que teve o maior número de casos e de mortos, os EUA. Neste momento, 8 de julho, são mais de 130 mil mortos no país. As medidas de flexibilização do isolamento, assim como no Brasil, têm provocado um novo crescimento no número de casos, em particular nos estados do Sul e do Oeste. Trump comemorou que em junho foram criados quase 5 milhões de postos de trabalho, no entanto, isso veio depois de mais de 30 milhões de novos desempregados entre março e abril. Essa recuperação débil no mercado de trabalho pode não se sustentar se a pandemia voltar a crescer e chegarem novas ondas da crise econômica.
Antes mesmo do coronavírus já era possível identificar o ódio latente ao sistema na base da sociedade norte-americana, um dos sinais eram as pesquisas que apontavam o aumento do apoio ao socialismo e, inclusive, ao comunismo. A pandemia agudizou todas as contradições e os mais afetados foram os mais pobres, dentre estes os negros e latinos, tanto pelo desemprego quanto pela Covid-19. Em um país em que a saúde é toda privada, junto com o medo da doença há o medo de ir ao hospital e voltar com uma dívida imensa. Tudo isso fez explodirem as grandes manifestações no fim de maio, após o assassinato de George Floyd pela polícia.
A resposta de Trump, tanto à pandemia quanto aos protestos, tem provocado a queda da aprovação do atual presidente, colocando a perspectiva concreta de uma derrota eleitoral em novembro.
Em relação às medidas de combate ao coronavírus, o mestre de Bolsonaro oscila, mas em linhas gerais tem seguido a mesma postura “negacionista”. A questão do uso de máscaras tornou-se um embate político, Trump não as utiliza em público, disse que muitos utilizam “só para mostrar que não o apoiam” e é contra leis que obriguem sua utilização. Ele foi outro garoto-propaganda da cloroquina e chegou a propor injeção de desinfetante como tratamento para a doença. Em relação aos protestos, apoiou a repressão, colocou-se como defensor da “lei e da ordem” e chegou a ameaçar enviar o Exército contra os manifestantes. Uma pesquisa da Reuters/Ipsos no início de junho revelou que 55% dos americanos reprovava a forma como Trump estava lidando com os protestos.
A combinação desses fatores tem um forte impacto nas eleições presidenciais deste ano. De favorito à reeleição, Trump passou a azarão. Em todas as pesquisas Joe Biden, o concorrente pelo Partido Democrata, aparece na frente. Em uma destas pesquisas (The New York Times/Siena College), ele está 14 pontos à frente, Biden com 50% e Trump com 36%.
As eleições nos EUA têm uma estranha particularidade em que o mais votado não é necessariamente o vencedor. Hillary Clinton recebeu mais votos que Trump em 2016, mas saiu derrotada. Cada estado tem direito a uma quantidade de delegados ao Colégio Eleitoral de acordo com o número de habitantes. O candidato que tem a maioria dos votos em determinado estado ganha todos os delegados do estado para o Colégio Eleitoral, não há uma divisão proporcional. Porém, Biden também está levando vantagem nesse aspecto. Nos decisivos estados-pêndulo (que oscilam entre maioria de democratas e republicanos), Biden também é o favorito nas pesquisas. Ele venceria na Flórida, Arizona, Carolina do Norte, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, que há quatro anos foram levados por Trump.
Donald Trump é certamente repugnante, assim como Bolsonaro. Mas Joe Biden, o ex-vice de Obama, não é nada melhor, apenas uma face mais simpática para a burguesia imperialista. O Partido Democrata é o partido de uma importante ala da classe dominante americana, que também tem como missão levar à frente a política contra os trabalhadores e os povos ao redor do mundo. Por isso, sempre defendemos que a candidatura de Bernie Sanders, que conseguiu arrastar uma massa de jovens esperançosos por mudança, deveria romper com os democratas e se colocar no caminho de construir um partido da classe trabalhadora. Porém, Sanders, com sua compreensão limitada do que é o socialismo e a revolução que diz defender, capitulou em 2016 e, de novo, em 2020. Saiu da disputa e declarou apoio a Biden.
Trump tenta retomar terreno na disputa eleitoral, torce por uma retomada da economia e radicaliza no discurso para tentar retomar a base que o elegeu em 2016. Em um dos discursos recentes ele disse: “Há um novo fascismo de extrema-esquerda que exige lealdade absoluta. Se você não fala sua língua, executa seus rituais, recita seus mantras e segue seus mandamentos, então você será censurado, banido, colocado em uma lista negra, perseguido e punido. Isso não vai acontecer conosco”. Ou seja, diante do perigo da esquerda autoritária, ele é a solução, a lei e a ordem que vai proteger os valores e tradições da sociedade norte-americana.
No entanto, os EUA têm outras tradições, a tradição da revolução e da luta da classe trabalhadora. Vimos isto se expressar nas manifestações de maio/junho e também em greves políticas no último período, incluindo a recente greve que fechou 29 portos no Oeste dos Estados Unidos em apoio às manifestações após o assassinato de George Floyd. Se a classe trabalhadora norte-americana se coloca em marcha pela revolução e dá passos para a tomada dos meios de produção no principal país capitalista, boa parte da tarefa para libertar a humanidade do atual regime terá sido realizada. Com esta compreensão a CMI está construindo e fortalecendo sua seção nos EUA.