Pelo menos 1.000 pessoas superlotaram o TUCA em São Paulo para receber Esteban Volkov, que proferiu conferência sobre a atualidade da obra e a vida de seu avô, Leon Trotsky.
Na noite da última segunda-feira, 06 de Junho, o palco do TUCA (Teatro da PUC-SP) recebeu uma ilustre visita. Aos 85 anos de idade, Esteban Volkov Bronstein, o último sobrevivente da família de Trotsky que o viu com vida, falou para cerca de 1.000 pessoas que superlotaram o Teatro da PUC-SP. Com centenas sentados pelas escadas, nos corredores e de pé ao fundo do teatro, militantes de diversas sensibilidades políticas, dirigentes sindicais, professores, artistas, jornalistas, operários e estudantes aplaudiram de pé por alguns minutos a entrada no palco de uma figura cujos traços lembram muito o do grande revolucionário russo e, apesar da idade avançada, esbanjava disposição e juventude.
Dirigindo os trabalhos da mesa estava Serge Goulart representando a Editora e Livraria Marxista que trouxe Volkov ao Brasil e organizou as conferências Sul e Nordeste, além desta em São Paulo. Serge apresentou Esteban Volkov e fez uma introdução para situar a atividade e sua importância histórica. Na mesa também estavam representantes das entidades co-organizadoras do evento: Beatriz Abramides, presidente da APROPUC (Associação de Professores da PUC-SP); Pedro Santinho, coordenador do Conselho Operário da Fábrica Ocupada Flaskô; Verivaldo “Galo”, membro da executiva do Sindicato dos Trabalhadores Vidreiros do Estado de SP; Osvaldo “Pipoca”, membro da executiva do Sindicato dos Químicos de São Paulo.
Esteban falou por pouco mais de uma hora para uma platéia muito atenta. Deixou claro que nunca teve a pretensão de ser continuador da obra do avô, mas que, como testemunha histórica compreende que é seu dever e compromisso restabelecer a verdade histórica diante da monstruosa campanha de calúnias e falsificações organizada mundialmente pelo stalinismo desde a década de 1920.
Ele ressaltou que o que houve na ex-União Soviética foi uma caricatura sangrenta do socialismo e que nada tinha a ver com os princípios comunistas defendidos por Marx, Engels, Lênin e Trotsky. Lembrou como o seu avô já havia caracterizado bem isso em suas obras como “Stalin – o grande organizador de derrotas”, “A Revolução Desfigurada” e “A Revolução Traída”. Nesta última, Trotsky faz o prognóstico de que se não houvesse uma revolução política na URSS para que a classe operária tomasse o poder da casta burocrática, o capitalismo seria restaurado. E hoje todos somos testemunhas do acerto histórico dessa previsão.
Ao falar de seu avô, descreveu um homem muito ativo, bem humorado e amável. Contando de seu primeiro contato com o avô ainda durante a infância, quando viveu com Trotsky no exílio na Turquia, disse que foi aí, na ilha de Prinkipo que Trotsky escreveu suas duas maiores obras: “Minha Vida” e “História da Revolução Russa”.
Narrando o episódio do assassinato de Trotsky em 20 de agosto de 1940, Esteban, que tinha 14 anos de idade e morava com Trotsky no México, disse que ao voltar da escola e encontrar a casa cheia de policiais e camaradas correndo de um lado para o outro pôde ver seu avô com o rosto coberto de sangue, ainda vivo. E as últimas palavras que ouviu de seu avô foram dirigidas à companheira de Trotsky, Natasha: “Não deixe o garoto ver isso!”
Mesmo nos seus últimos momentos de vida, compreendendo que Stalin havia conseguido cumprir sua missão de eliminar todos os líderes revolucionários de Outubro, Trotsky ainda se preocupava com a impressão que tal cena poderia causar a um garoto de 14 anos.
Diante de uma platéia emocionada, Esteban leu um trecho do Testamento Político de Leon Trotsky:
Nos quarenta e três anos de minha vida consciente, permaneci um revolucionário; durante quarenta e dois destes, combati sob a bandeira do marxismo. Se tivesse que recomeçar, procuraria evidentemente evitar este ou aquele erro, mas o curso principal de minha vida permaneceria imutável. Morro revolucionário proletário, marxista, partidário do materialismo dialético e, por conseqüência, ateu irredutível. Minha fé no futuro comunista da humanidade não é menos ardente; em verdade, ela é hoje mais firme do que o foi nos dias de minha juventude.
Ele disse ainda que a “Teoria da Revolução Permanente” e o “Programa de Transição”, ambos também escritos por seu avô, seguem atuais e que o socialismo hoje é mais viável, possível e necessário do que na época de Trotsky. Ressaltou que todas as lutas dos oprimidos são importantes, mas que o fundamental e decisivo para a humanidade permanece sendo a luta da classe operária por sua emancipação.
Ao final de sua fala o TUCA veio abaixo com aplausos emocionados e manifestações de todo tipo saudando o discurso do neto de Trotsky. Militantes da Esquerda Marxista abriram uma faixa onde podia-se ler: “A Esquerda Marxista saúda Esteban Volkov! Viva a Luta Pelo Socialismo!”.
Esteban é o curador do Museu Casa de Leon Trotsky – que ocupa a antiga casa onde Trotsky foi assassinado por um agente stalinista em 1940. Ao final de sua fala ele pediu contribuições para ajudar a manter o museu no México. Durante as saudações que se seguiram feitas pelas entidades presentes na mesa e durante as respostas às perguntas feitas a Esteban, uma caixa foi passada pelo plenário para receber doações e centenas de pessoas contribuíram numa demonstração de solidariedade na melhor das tradições do movimento operário.
Esteban respondeu a diversas perguntas sobre como era seu avô, sobre a dizimação de sua família inteira pelos agentes stalinistas e sobre o museu. Ao final, todos cantaram o hino da classe trabalhadora mundial – A Internacional.
O evento também foi marcado pelo lançamento do documentário em DVD do diretor mexicano Adolfo Garcia Videla “Trotsky & México: Duas Revoluções do Século XX”. Co-produzido pelo Museu Casa de Leon Trotsky e lançado no Brasil pela Livraria Marxista, o documentário faz um paralelo da trajetória de Trotsky como revolucionário na Rússia com os desenvolvimentos revolucionários no México no mesmo período até a chegada de Trotsky no México em 1936 e seus últimos anos de vida.
Esteban, que já havia realizado uma Conferência no Sul, agora realizará a última conferência no Brasil, no Nordeste, em Recife, na Universidade Federal de Pernambuco, dia 08/06 às 19:00.
Além disso, Esteban também deverá participar da abertura do Encontro de 8 anos de aniversário da ocupação da Flaskô (fábrica ocupada pelos trabalhadores) em Sumaré (região de Campinas – SP). Este será no dia 10/06 às 18:30 na Fábrica Ocupada.