Sob o capitalismo, não é só a busca ensandecida pelo lucro que leva à destruição do meio ambiente. A falta de recursos para a educação pública também tem levado as universidades a deixarem a preservação ambiental de lado.
O cerrado é o segundo maior domínio vegetacional do Brasil, com uma riqueza de plantas inferior apenas à das florestas tropicais, além de uma infinidade de espécies animais. Este importante domínio vem sendo destruído a taxas elevadas, principalmente como resultado do avanço da fronteira agrícola, restando hoje apenas cerca de 40% de sua cobertura original no território brasileiro.
No estado de São Paulo a situação é ainda mais assustadora, dos 14% que cobriam o território paulista, restam apenas cerca de 1% distribuídos em pequenos fragmentos esparsos. A Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) abriga um importante fragmento de cerrado dentre os poucos que ainda restam no Estado. Além de ser um dos últimos remanescentes de cerrado no Estado, estudos feitos na área encontraram espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção e mamíferos de grande porte como o veado mateiro e o lobo guará. Finalmente, o cerrado da Ufscar é uma localidade tipo, ou seja, abriga espécies que só foram encontradas lá, e em mais nenhum outro local, que seriam extintas caso a área deixasse de existir.
Essa importante área tem sofrido constantes ameaças de ser derrubada desde 2007 pela administração da Ufscar. Na primeira tentativa, quando o objetivo era construir um edifício da Petrobrás, a mobilização de estudantes e professores conseguiu barrar a construção do prédio que foi realocado para outra área. Entretanto, passado algum tempo, a reitoria da universidade voltou a afirmar que as áreas de cerrado seriam destinadas em breve para a expansão do campus. Em resposta, estudantes e professores imediatamente se reagruparam com o intuito de pressionar a universidade a averbar a área como reserva.
Professores e estudantes entraram com uma ação no Mistério Público (MP) contra a universidade, tentando obter um parecer favorável e ao mesmo tempo ganhar tempo, já que a universidade não poderia derrubar nenhuma árvore até que o MP desse seu parecer. Nesse ínterim, os estudantes organizaram a 1ª Semana do Cerrado que visou ampliar a discussão e o movimento nos campi de São Carlos da Ufscar e da USP. Ao final dessa semana foi realizada uma assembléia geral de estudantes, que, dentre outras coisas, decidiu realizar um ato, ainda sem data marcada, onde serão entregues os abaixo-assinados e a moção de apoio aprovada no congresso de Ecologia do Brasil, além de mais moções que serão obtidas.
Os estudantes e professores defendem que a área edificada da Ufscar seja expandida para uma enorme área de eucaliptos existente no campus, ao norte do cerrado, ou que a universidade opte pela expansão vertical, através de prédios, e não horizontal com edifícios de apenas um andar.
A universidade alega não possuir verbas para assim proceder, pois essas medidas teriam um custo maior, além de alegar que já preserva o que é exigido pela lei. No entanto, esses argumentos não nos convencem. Não podemos aceitar que o governo continue dando dinheiro para empresas privadas saírem da crise e pagando a impagável dívida, enquanto o cerrado passa a ficar cada vez mais restrito aos livros didáticos, resultado de uma política que não se preocupa em investir em educação e meio ambiente. Não podemos aceitar que a negligência do governo para com o patrimônio natural e para com o povo seja justificativa para acabar com a biodiversidade brasileira, resultado de um processo de milhares de anos. Queremos mais verbas já para uma expansão do campus que garanta a manutenção da vida e dos serviços e processos biológicos!
Pedimos às entidades que apóiam nossa luta que enviem moções para o email: viniciusldantas@gmail.com